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Opinião

Entre negócios e prazer: conheça os principais motivos de viagens a Angola 

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Compreender os motivos que atraem visitantes a Angola é crucial para desenhar estratégias turísticas que não apenas impulsionem o sector, mas também maximizem os benefícios socioeconómicos para o país. Este artigo explora diversas razões que fazem de Angola um destino escolhido tanto por turistas em busca de lazer quanto por profissionais em viagens de negócios. Analisaremos como estas motivações se entrelaçam com as políticas de turismo e marketing, destacando o papel significativo dos principais países emissores.

Angola, com a sua rica diversidade cultural e natural, oferece um vasto potencial turístico que representa uma oportunidade excepcional para transformá-lo num sector estratégico para a diversificação da economia angolana. As políticas de isenção de vistos, uma estratégia adoptada para fortalecer o fluxo turístico e facilitar as transacções comerciais, são um exemplo claro de como as relações com esses países moldam a abordagem de Angola ao turismo. Ao detalhar como essas políticas são influenciadas e como, por sua vez, afectam a atracção de turistas, este artigo visa fornecer insights que podem ajudar as estratégias de marketing e desenvolvimento turístico de Angola.

Evolução do Turismo e Impacto dos Mercados Emissores

O turismo em Angola enfrentou uma trajectória de altos e baixos, impulsionada pela sua diversidade natural e cultural, mas também desafiada por décadas de conflito armado e infraestruturas subdesenvolvidas. Com o fim do conflito armado em 2002, o país entrou num período de reconstrução e revitalização, incluindo investimentos no sector do turismo.

Eventos internacionais, como o Campeonato Africano das Nações (CAN) em 2010, a Feira Internacional de Luanda (FILDA) e a Bienal de Luanda – Fórum Pan-Africano para a Cultura de Paz, foram essenciais para promover Angola no cenário internacional, estimulando tanto o turismo interno como externo. Tais eventos demonstram a capacidade de Angola para sediar grandes encontros internacionais, contribuindo significativamente para a economia local.

De acordo com o Plano Nacional de Fomento ao Turismo (Planatur, 2024), os dados recentes revelam que Portugal lidera de longe como o maior emissor de turistas, com 46,3% do total, seguido pelo Brasil (10,2%) e pela China (8,9%). O gráfico a seguir mostra os números de turistas que desembarcaram em Angola ao longo dos últimos anos:

O panorama dos dados sugere uma história mais complexa. A consistência no fluxo de turistas portugueses, por exemplo, pode ser atribuída a laços económicos e familiares profundos que transcendem o turismo de lazer. Isto levanta a questão: Angola está realmente a capitalizar este fluxo ou apenas a facilitar visitas de cortesia?

A variação nos números de visitantes de países como a China e os Estados Unidos pode reflectir interesses económicos mais do que turísticos. A presença chinesa, por exemplo, tem sido fortemente associada a investimentos em infraestruturas e mineração. Será que estes “turistas” estão aqui para desfrutar das belezas naturais de Angola ou para explorar oportunidades de negócios?

Economicamente, enquanto o turismo deveria ser uma fonte de receitas e empregos, a realidade pode ser que grande parte deste suposto turismo seja mais voltada para negócios do que para lazer. As receitas geradas por estas visitas são essenciais, mas qual é o verdadeiro retorno para as comunidades locais? Estamos a ver melhorias na infraestrutura que beneficiem tanto os angolanos quanto os visitantes?

Socialmente, a influência destes turistas é uma faca de dois gumes. Por um lado, o intercâmbio cultural e económico pode ser benéfico; por outro, a falta de integração e entendimento pode causar desequilíbrios e expectativas irrealistas. Angola precisa de uma estratégia que não só atraia turistas, mas que também garanta que o turismo beneficie de forma sustentável a população local.

Diante destas reflexões, é crucial questionar e revisar as estratégias de turismo actuais. Angola possui o potencial para ser mais do que um ponto de passagem ou um lugar de negócios disfarçado de turismo. Investir numa indústria turística autêntica e inclusiva que celebre e preserve as riquezas culturais e naturais do país é o caminho para garantir que o turismo contribua genuinamente para o desenvolvimento económico e social de Angola.

Principais Motivos de Viagem e a Influência dos Países Emissores

A distribuição dos motivos de viagem para Angola revela uma predominância surpreendente de viagens de serviço, que constituem 60% do total no período analisado. Seguem-se as viagens de negócios, com 17,4%, e as férias, com 16,7%. Esta distribuição sugere uma dinâmica turística complexa, onde o turismo de serviço e negócios supera significativamente o turismo de lazer.

Fonte: Planatur, 2024

Viagens de Serviço

A predominância das viagens de serviço, que constituem cerca de 60% do total de viagens para Angola no período analisado, está directamente ligada a projectos que requerem a presença de especialistas estrangeiros por longos períodos. Países como a China, Portugal e o Brasil são emissores significativos de profissionais que trabalham em projectos de infraestrutura, mineração, construção e energia. Os visitantes chineses, por exemplo, estão envolvidos em investimentos de infraestrutura e mineração, enquanto os profissionais portugueses e brasileiros actuam em projectos empresariais e de cooperação internacional.

Embora Angola não tenha actualmente programas de city breaks estabelecidos, essa é uma oportunidade para as agências de viagens, operadores turísticos e guias especializados. Os turistas em viagem de serviço podem aproveitar momentos de folga para explorar as cidades, experimentando a cultura, a gastronomia e as maravilhas locais. Com programas cuidadosamente desenhados, uma simples viagem de serviço pode tornar-se numa experiência envolvente e enriquecedora, fortalecendo a ligação entre os turistas e Angola. As agências e operadores turísticos podem desenvolver esses programas, proporcionando visitas a pontos turísticos, museus e restaurantes, enriquecendo a experiência dos visitantes enquanto ajudam a promover o desenvolvimento económico do país.

Viagens de Negócios

As viagens de negócios, representando 17,4% do total, destacam Angola como um destino importante para o turismo corporativo. Visitantes dos Estados Unidos, Reino Unido e França procuram frequentemente oportunidades nos sectores do petróleo, diamantes e construção, tornando esses países influentes no turismo corporativo. Eventos como a Feira Internacional de Luanda (FILDA) e a Bienal de Luanda incentivam o networking e promovem um ambiente favorável para os negócios.

Os turistas em viagem de negócios, com algum tempo livre entre reuniões ou compromissos de trabalho, podem aproveitar a oportunidade para fazer um city break e conhecer um pouco mais sobre a cidade onde estão. Explorar a Baía de Luanda, experimentar pratos típicos ou admirar a vista do Miradouro da Lua, pode adicionar um elemento de lazer à viagem de trabalho, permitindo-lhes relaxar e recarregar energias entre compromissos profissionais. Esta combinação de negócios e lazer torna a viagem mais enriquecedora, proporcionando um equilíbrio entre produtividade e descoberta.

A primeira parte do artigo ofereceu uma análise profunda dos motivos de viagem e da influência dos mercados emissores, identificando padrões significativos nas viagens de serviço e negócios. Ficou claro que, embora essas viagens representem uma parcela substancial do turismo em Angola, há um enorme potencial inexplorado nas viagens de lazer e trânsito.

Na Parte 2, vamos desvendar as oportunidades por trás das viagens de férias e trânsito, revelando como os turistas portugueses, brasileiros e franceses podem encontrar encantos nas paisagens únicas do país, das praias da Ilha do Mussulo às impressionantes Quedas de Kalandula. Além disso, vamos abordar as implicações estratégicas, como a melhoria dos métodos de pagamento e o fortalecimento das infraestruturas, para transformar Angola num destino turístico verdadeiramente excepcional.

Descubra como o desenvolvimento de programas de city breaks, a promoção dos stopovers e a inclusão das comunidades locais podem impulsionar o turismo angolano, posicionando o país como um destino de eleição no continente africano. Acompanhe a próxima parte para entender como Angola pode abrir as portas para um futuro mais brilhante, diversificado e economicamente sustentável.

Leia abaixo a segunda parte do artigo

Entre negócios e prazer: conheça os principais motivos de viagens a Angola (Parte 2)