Politica
Luanda agitada com semanas de intensa diplomacia
Angola demonstrou, na semana finda, ser a placa giratória para a paz na região dos Grandes Lagos, com a mediação que levou a um acordo de cessar-fogo entre a RDC e o Ruanda. Entretanto, além do dilema a que vivencia Kinshasa, Luanda, em pouco mais de sete dias, recebeu e abordou vários outros assuntos com alta gestão de bancos, e com Chefes de Estado e Governos de diferentes nações.
Nas duas últimas semanas, Luanda esteve agitada. A capital do país foi o destino de responsáveis banqueiros, e de governos, desde africanos a europeus.
O frenesim diplomático iniciou com a visita do primeiro-ministro português Luís Montenegro, este que concluiu o seu último dia de estadia a Angola com uma visita à província de Benguela, o segundo maior centro político angolano, a seguir a Luanda.
Como resultado da visita, foram assinados 14 acordos em áreas como finanças, segurança social, pescas, saúde, economia, administração interna e formação.
Para Luís Montenegro, as parcerias rubricadas “são expressão de que a relação entre Portugal e Angola está viva e que é para todas as horas”.
Entre os instrumentos bilaterais, destacam-se um protocolo de cooperação entre o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social de Portugal e o Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social de Angola para o período 2024-2027.
Para o sector das Finanças e Planeamento, foram celebrados dois memorandos de entendimento, relativos à promoção e desenvolvimento de Parceiras público-privadas e gestão da dívida pública e tesouraria do Estado, bem como um contrato de financiamento do projecto de represa de água da Chicomba, no âmbito da convenção Portugal-Angola. Foram igualmente assinados um programa de cooperação técnico-policial e protecção civil e um projecto na área da administração pública foram também objecto de acordos.
Antes de deixar Luanda, Montenegro garantiu um reforço em mais 500 milhões de euros da linha de crédito Portugal-Angola, que sobe, assim, dos actuais 2 mil milhões para 2,5 mil milhões de euros.
Outra nota de realce no âmbito da diplomacia foi o alcance de um acordo de cessar-fogo entre a República Democrática do Congo e o Ruanda, sob mediação angolana, que acolheu importantes quadros de ambos os governos, com destaque para a ministra de Estado e dos Negócios Estrangeiros, da Cooperação Internacional e Francofonia da RDC, Théresé Wagner, e o ministro dos Negócios Estrangeiros do Ruanda, Olivier Nduhungirehe.
O acordo de cessar-fogo entrou em vigor à meia-noite desse domingo, 4, e está a será supervisionado pelo Mecanismo de Verificação Ad Hoc reforçado, como anunciou o Presidente angolano, João Lourenço, presidente da Região dos Grandes Lagos, e mediador entre a RDC e o Ruanda por mandato da União Africana.
Entretanto, conforme publicado anteriormente pelo Correio da Kianda, o anúncio do cessar-fogo não significou o fim dos conflitos na região com o Movimento 23 Março (M23) a tomar a cidade fronteiriça de Ishasha.
Há muito que a República Democrática do Congo vê-se atolada com o grupo rebelde M23, que já controla parte significativa do Leste do país.
Félix Tshisekedi, o presidente, acusa o vizinho Ruanda de estar a alimentar o referido grupo rebelde, na obtenção de armas e treinamento, mas o seu homólogo ruandês, Paul Kagame, rejeita as acusações.
Entretanto, diferente de Angola, a Organização das Nações Unidas (ONU) já não tem dúvidas, e denuncia a existência não só de financiamento, mas também de participação de militares ruandeses em solo congolês.
Espera-se, com o acordo agora alcançado pela mediação angolana, que Kigali abdique de seu apoio ao M23 e retire-se de facto do território do país vizinho.
Ainda nas duas últimas semanas, a economia e finanças não ficaram de fora no quadro da diplomacia angolana. O Presidente da República recebeu em audiência, uma delegação do AFREXIMBANK, encabeçada pelo presidente do seu Conselho de Administração, o economista nigeriano Benedict OKey Oramah.
No final do encontro, o banqueiro disse aos jornalistas ter abordado com Presidente João Lourenço aspectos ligados às operações do AFREXIMBANK em Angola, tendo anunciado o aumento do volume da carteira de crédito para financiar o projecto de construção da refinaria do Lobito, a refinaria de Cabinda e a fábrica de fertilizantes do Soyo.
O AFREXIMBANK é uma instituição multilateral pan-africana criada em 1993 para financiar e promover o comércio no continente.
Ainda no quadro político-diplomático, também esteve em Angola, o Presidente da República de Madagáscar, Andry Rajoelina.
Rajoelina começou a visita na quinta-feira, dia 1, com uma homenagem ao primeiro Presidente angolano, António Agostinho Neto, deslocando-se ao seu Memorial, tendo a seguir se deslocado à Cidade Alta para a etapa do programa oficial.
No Palácio Presidencial, foi acolhido com as honras protocolares devidas com 21 salvas de canhão, hinos nacionais e tropa em parada, sendo cumprimentado a seguir pela delegação oficial angolana constituída para esta ocasião. O Presidente da República de Angola, na condição de anfitrião, esteve com o ilustre visitante o tempo todo, como documentam as imagens.
Os dois Chefes de Estado mantiveram uma reunião a sós (tète-a-tète), antes de se juntarem às respectivas comitivas na sala de sessões do Conselho de Ministros.