Politica
A diferença entre as divergências de João Lourenço no MPLA e Costa Júnior na UNITA
Os dois líderes dos dois maiores partidos em Angola enfrentam contestações e período de aceitação volátil no seio de suas organizações, situações, entretanto, tidas como normais em democracia, mas entre ambos, João Lourenço parece estar mais aflito, face ao seu papel como Chefe de Estado, em cujas acções no quadro da governação terá criado certos anticorpos internos, o que o leva a árdua tarefa de ter de procurar um aliado como substituto na liderança do partido ou optar por uma recandidatura.
João Lourenço e Adalberto Costa Júnior enfrentam tempos difíceis no seio de seus partidos, obviamente um mais complexo que o outro.
Ao nível do MPLA, partido governante, que tem João Lourenço à testa, os seus militantes não são muito dados a confrontação com as suas lideranças, o que gera a atenção do público qualquer manifestação de desacordo interno, embora o que está a ocorrer no momento não seja uma simples divergência.
Em 15-20 anos, a primeira vez que os ‘camaradas’ digladiaram politicamente foi no quadro do processo de transição de um líder para outro, no caso de José Eduardo dos Santos (JES) para João Lourenço, entre 2017 e 2018.
Embora tinha abdicado da possibilidade de uma reeleição à Presidência da República, José Eduardo dos Santos (já falecido), que geriu os cofres públicos durante 38 anos, demonstrara não ter estado preparado para abandonar a presidência do partido. Entretanto, acabou por sair sob pressão de outros ‘gurus’ da organização, que em bloco tornaram claro que, por um lado, tinha chegado a hora de JES partir, e, por outro, que era preciso deixar João Lourenço trabalhar sem bicéfalias.
Inclusive, alguns nomes que José Eduardo (líder incontestável em mais de três décadas) indicara para ingressarem ao Bureau Político foram rejeitados, nomeadamente o general Hélder Vieira Dias Kopelipa e o antigo director para Quatros da Presidência, Aldemiro da Conceição, tendo sido aprovado apenas o nome de Norberto Garcia.
Já detentor do poder, no aparelho do Estado e no partido, João Lourenço impôs livremente sua filosofia de acção governativa e de liderança partidária, mas o modelo de combate à corrupção foi o mote da divergência no seio do partido, que se verifica até hoje.
O tratamento dado a José Eduardo dos Santos não agradou a muitos, embora se tenham mantido em silêncio, ao contrário de Boavida Neto, que então na qualidade de secretário-geral do partido, assegurara em uma entrevista que nunca abandonaria José Eduardo dos Santos. Entretanto, foi afastado do cargo durante um Congresso Extraordinário.
E ainda no âmbito do combate à corrupção, alguns altos quadros do partido viram-se com as contas bancárias congeladas, activos arrestados, tendo outros sido levado à prisão.
Congelamento de contas, arrestos e detenções marcaram todo o primeiro mandato (da governação) de cinco anos, de 2017 a 2022.
Nesse período, pelo menos daquilo que é público, ninguém no partido ousou contestar, nem manifestar a ideia de se afastar o líder. Já neste segundo mandato presidencial, o último de acordo com a Constituição da República, há movimentações no seio dos ‘camaradas’ para a possibilidade da criação de um congresso com múltiplas candidaturas, como têm feito os ‘maninhos’, o seu maior rival.
De dentro do MPLA, sai informação de que o presidente João Lourenço tenciona alterar os estatutos do partido no Congresso Extraordinário, aprazado para Dezembro próximo, uma fórmula que se esbarra nas fileiras erguidas por certos quadros do topo, que a contestam, dado que os estatutos só podem ser mexidos nos Congressos Ordinários.
O general e político Higino Carneiro é uma de muitas figuras que desejam apear João Lourenço da liderança da organização, e as suas movimentações não deixam margens para dúvidas.
Em sua acção de marketing político, perdoou a influencer digital Neth Nahara, que o acusava de transmissão dolosa de HIV; tornou público um manifesto eleitoral com uma agenda de consenso nacional; e tem-se desdobrado em campanha de sensibilização e apoio social.
Fernando da Piedade Dias dos Santos ‘Nandó’ resguardou-se, mas são frequentes as notícias de que esteja a ser incentivado a avançar na corrida para substituir João Lourenço à frente do partido.
Assim, por conta do modelo de combate à corrupção implementado, que acabou por criar vários anticorpos internamente, João Lourenço enfrenta sérios problemas, os quais só deverá ultrapassá-los se agir com a máxima sabedoria. Há algumas opções: encontrar um aliado forte, que se comprometa a não agir com ele como o próprio agiu com o seu antecessor, José Eduardo dos Santos, ou pessoalmente procurar uma recandidatura à frente dos destinos do partido.
ACJ ainda é assombrado por Isaías Samakuva e seguidores…
Diferente do Presidente João Lourenço, que de acordo com informações postas a circular, foi indicado pelo então Presidente José Eduardo dos Santos para o substituir como cabeça de lista do partido às eleições de 2017, Adalberto Costa Júnior, na UNITA, que também foi a preferência de alguns ‘gurus’ da organização, que o propuseram para substituir a Isaías Samakuva, optou por pedir que os ‘mais velhos’ que o procuraram e mais outros, subscrevessem um documento indicando apoio à sua candidatura. Entre os ‘mais velhos’ supra consta o co-fundador da UNITA, José Chiwale, Ernesto Mulato, e vários outros ‘gurus’.
Até ao momento, são estes ‘mais velhos’, com Lukamba Gato e Kamalata Numa incluídos, que fazem com que Adalberto Costa Júnior continue na liderança do partido, pelo contrário, face às investidas que se têm verificado, talvez já teria saltado do mais alto cadeirão do partido.
Apesar de Adalberto Costa Júnior liderar a UNITA como resultado da derrota eleitoral interna (em 2019) que impôs a importantes quadros do partido, num congresso que acabou por ser repetido em 2021 por decisão do Tribunal Constitucional, enfrenta imensas contestações. De acordo com fontes da direcção da UNITA, o pior empecilho da actual direcção do partido é o antigo presidente Isaías Samakuva, que ainda goza de simpatia de alguns quadros, sobretudo dos filhos de Jonas Savimbi, que o escolheram para liderar a Fundação Jonas Savimbi.
Num acto inédito, Isaías Samakuva, que nas eleições-gerais passadas, optou por não apelar o voto ao seu substituto e ao partido, tendo se mantido em silêncio, surgiu agora revelando-se publicamente ser contra a concepção da Frente Patriótica Unida (FPU), a estratégia que levou a UNITA a obter o maior número de deputado de toda sua história.
Isaías Samakuva diz que o projecto FPU não respeitou princípios, e manifestou-se contra o número de deputados cedidos ao PRA-JA e ao Bloco Democrático, no quadro da FPU.
Após os pronunciamentos de Isaías Samakuva, que demonstraram maior a proximidade a João Lourenço em relação a Adalberto Costa Júnior, presidente do seu partido, Isaías Samakuva disse que João Lourenço, ao contrário de si, não recebe Adalberto Costa Júnior, no Palácio Presidencial, por que o actual líder da UNITA não pede audiências.
A aparição agora de Isaías Samakuva está a criar dúvidas sobre a capacidade de Adalberto Costa Júnior liderar o partido, e já se vão perfilando militantes a sugerir o regresso de Isaías Samakuva à frente da organização, uma oportunidade que o próprio já fez saber que pode ser levada a consideração…