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Washington e Moscovo ditam nova ordem mundial com democracia e direitos humanos fora da agenda

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Está tudo numa indefinição. Os EUA, por ora, deixaram de ser o polícia a quem os países menos poderosos e cidadãos indefesos podem recorrer para ver os seus direitos respeitados. O novo Presidente toma por “ditador” o aliado eleito numa eleição mundialmente reconhecida como democrática, e a quem exige imensa quantidade de riqueza, e o seu Vice constatou pecado grave na democracia europeia. Ao que parece: para os próximos quatro anos, no mundo valerão apenas os interesses de Washington e de Moscovo.

Uma clara redefinição do mundo está a ser forjada, tendo os Estados Unidos da América (EUA) e a Rússia como arquitectos. E o que se passou na sessão da Organização das Nações Unidas (ONU) dessa segunda-feira, 24, é prova de que vem aí uma Nova Ordem Mundial, ainda sob comando dos norte-americanos, mas já não baseada em valores e princípios democráticos, direitos humanos e integridade territorial.

Na sessão supra da ONU, os EUA votaram contra uma resolução da Assembleia-Geral que apoia a integridade territorial da Ucrânia, e condena a agressão russa. O sentido de voto favorável dos EUA à Rússia representa uma mudança radical do mais poderoso aliado ocidental da Ucrânia, que, ao longo da guerra não só votou favoravelmente à Ucrânia, na ONU, como também impeliu várias capitais a adoptarem uma postura de isolamento a Moscovo, e de apoio a Kiev.

Mas desde que Donald Trump voltou para a Casa Branca, o jogo na mesa das Relações Internacionais tornou-se “bagunçado”, complexo demais para se compreender.

Está tudo numa indefinição. Os EUA, por ora, deixaram de ser o polícia a quem os países menos poderosos e cidadãos indefesos podem recorrer para ver seus direitos respeitados. O novo Presidente tomou Volodymyr Zelensky, aliado de seu país, por um líder “ditador”, pelo facto de não realizar eleições enquanto seu esteja a ser permanentemente atacado por via aérea. E ao invés de colocar as perdas humas, destruição de infra-estruturas, e a integridade territorial no centro das preocupações como fez Angola quando Sergey Lavrov visitou o país, Donald Trump concentra sua retórica nos minerais raros existentes na Ucrânia.

De acordo com Kiev, Washington quer ter acesso aos minerais raros sem apresentar uma garantia de segurança. A Europa parece ter igualmente deixado de ser o parceiro privilegiado dos EUA, que veem, à velocidade do cruzeiro, estreitando laços com a Rússia.

JD Vance, vice-presidente dos EUA foi à Europa, na Conferência de Segurança de Munique, neste mês, e aproveitou a ocasião para dizer na cara dos líderes europeus, que o que mais preocupa não são as ameaças externas do Ocidente, mas as ameaças internas, como a perda de valores na Europa, que passa, entre outras coisas, pela liberdade de expressão.

Da Rússia, a quem os EUA sempre criticaram pela alegada falta de democracia, prisões e mortes suspeitas de adversários políticos de Putin, nem já uma objecção. Os factos supracitados podem deixar transparecer uma perspectiva: para os próximos quatro anos, no mundo valerão apenas os interesses de Washington e de Moscovo.

Entretanto, alguns países europeus já estão a encetar conversas com a China e a Turquia, dois grandes que podem pesar na balança.

E preocupado também, o Brasil, aliado da Rússia no BRICS, manifesta preocupação quanto às movimentações norte-americanas.

A África do Sul, igualmente membro do BRICS, e a qual pouco se conhece uma crítica à Rússia face à invasão, anunciou o encontro para breve entre Cyril Ramaphosa, Presidente sul-africano; e Volodymyr Zelensky, Presidente ucraniano, que luta contra o russo Vladimir Putin.

Contrariamente às opções russas e norte-americanas de iniciar conversações de paz excluindo a Ucrânia, a África do Sul defende negociações de paz inclusivas, ou seja, com a presença da Ucrânia na mesa das negociações.

“Congratulo-me com o compromisso construtivo que tive com o Presidente Zelenskyy, e espero recebê-lo na África do Sul em breve para uma visita de Estado”, escreveu Ramaphosa no X.

“A África do Sul continua empenhada em apoiar o processo de diálogo entre a Rússia e a Ucrânia”, reafirmou o líder da Nação arco-íris. Entretanto, Zelensky agradeceu o apoio.

Portanto, entre os estudiosos europeus há quem sublinhe que quatro anos passam rápido e que logo, logo os EUA terão um Presidente comprometido com aquilo que é a essência ocidental, mas outros defendem ter chegado a hora de a Europa deixar de depender da volatilidade causadas pelas eleições americanas, e delinear o seu próprio destino, aliados e política externa sem apoio incondicional aos norte-americanos.

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