Opinião
O poder das redes sociais como catalisadores da emancipação política

Há sensivelmente 15 anos, decorria a Revolução Jasmin, o início da Primavera Árabe, que foi um acto de um jovem, Mohamed Bouazizi, um vendedor ambulante que, após ter sua mercadoria confiscada e ser humilhado pela polícia, ateou fogo ao seu corpo em protesto. Mas isto não foi o problema. O problema deu-se quando o vídeo viralizou nas redes sociais, o jovem em chamas, gerando uma onda de indignação jamais vista no seio dos jovens, e deixou cair vários governos na região do Magreb e Médio Oriente em forma dominó.
A maior parte destes países não recuperou na totalidade, excepto a própria Tunísia onde tudo começou. Egipto ainda tem eleições gerais como desafio, Líbia não consegue se reerguer como era, Síria, Iêmen, todos com problemas.
Foi o poder das Redes Sociais que determinou estes episódios, onde houve aproveitamento para atingir certos fins, e, por esta razão muitos países monitoram estas plataformas, Facebook, Twitter e YouTube serviram como ferramentas para organizar manifestações e divulgar locais de protesto, jovens compartilharam convites e slogans de forma viral.
Está mais do que claro de que, quem governa, deve acompanhar a dinâmica das redes sociais, pois ela trouxe alguma emancipação social. Hoje, qualquer pessoa possui um telemóvel, e por esta via acompanha o país, nos táxis, nas mercados, em qualquer esquina, têm acesso a conteúdos de todo tipo, de Angola ou outras latitudes, comparam realidades, e com isto conseguem formar suas próprias opiniões.
As zungueiras e os jovens que lavavam o carro nas esquinas, em 2010, não são os mesmos de 2025, o seu nível de consciência é outro, pois recebe uma avalanche de conteúdos de várias fontes, portanto menosprezar isto, é um perigo para quem governa. Antes, a comunicação política era dominada pelo governo e grandes meios de comunicação, mas hoje com redes sociais, qualquer cidadão pode se expressar e denunciar abusos, rompendo com o monopólio da informação.
A sua evolução, agudizou a fiscalização e transparência, que obriga os detentores de poder político, acompanhar a tempo inteiro a actividade pública. Cidadãos podem denunciar corrupção, violência policial e autoritarismo em tempo real, logo o governo deve imprimir uma outra dinâmica, trabalhar mais e de igual modo divulgar mais, para saber os feitos. redes sociais cria pressão a quem governa que, antes conseguiam ocultar certas situações.
As redes sociais não criam a emancipação política por si mesmas, mas são catalisadores poderosos, capazes de acelerar a tomada de consciência, a mobilização popular e a pressão por mudanças estruturais, se analisarmos a força das redes sociais na emancipação política, quem tem o leme não pode simplesmente censurar ou ignorar.
A solução passa por reformas e adaptações inteligentes, ouvir as demandas que surgem nas redes e transformá-las em políticas públicas. Usar as redes sociais como canal oficial de diálogo com a população, prestando contas de forma acessível, promover debates cívicos online, incentivando o uso saudável das redes, criar mecanismos de participação digital
A juventude é a faixa mais activa nas redes sociais, portanto, se os governos não se aproximam, perdem legitimidade de falar por eles, logo, os programas de inclusão, emprego e participação política são fundamentais, para atrair esta franja social, que é a mais insatisfeita nos seus anseios que, resvalam a convulsões sociais e outros males.