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Análise

Investimento monumental ou estratégia de soft power? Uma análise desapaixonada dos 50 Anos de Independência de Angola

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O Governo angolano prevê investir mais de 35 milhões de dólares norte-americanos na celebração dos 50 anos da Independência Nacional, marcados para 11 de Novembro de 2025. Deste montante, quase 20 milhões USD serão destinados exclusivamente à aquisição de bandeiras nacionais, conforme divulgado pelo Ministério da Administração do Território (MAT), órgão responsável pela organização das festividades no âmbito do plano anual de contratação.

O orçamento destinado à efeméride inclui ainda 3,9 milhões USD para espetáculos pirotécnicos, 3,8 milhões USD para acções de mobilização social, 2,6 milhões USD para a aquisição de pórticos e painéis de rua, 2,2 milhões USD para campanhas mediáticas, 1,4 milhões USD para iluminação arquitetónica, 984 mil USD para animações com drones, 800 mil USD para a instalação de outdoors e 400 mil USD para a construção de obeliscos em determinadas zonas urbanas. Segundo o Governo, tais elevados gastos se justificam pela necessidade de proporcionar uma celebração grandiosa, à altura da efeméride, promovendo o orgulho nacional e reforçando a identidade cultural angolana, com ações que abrangem todas as províncias e incluem atividades cívicas, culturais, desportivas e institucionais.

Do ponto de vista das Relações Internacionais, este investimento pode ser interpretado como um instrumento de soft power, destinado a projectar uma imagem de modernidade e solidez do país no cenário global. No entanto, uma análise desapaixonada e minuciosa impõe questionar as prioridades na alocação dos recursos públicos. Se, por um lado, o reforço dos símbolos nacionais, como a aquisição de bandeiras, contribui para a coesão interna e para a consolidação da identidade, por outro, o elevado montante destinado a eventos e campanhas pode suscitar críticas, especialmente num contexto em que desafios económicos e sociais permanecem latentes.

A concentração de recursos em espetáculos e símbolos de carácter estético reflecte uma estratégia de promoção que visa, sobretudo, elevar a moral e projectar uma narrativa de progresso. Contudo, é imperativo que estes gestos simbólicos se traduzam em acções de desenvolvimento sustentável e de melhoria efectiva das condições de vida da população. A utilização de recursos para campanhas mediáticas e mobilização social sugere um esforço para consolidar uma narrativa de modernidade, mas que deve ser acompanhada por transparência, responsabilidade fiscal e políticas públicas eficazes.

Em última análise, a celebração dos 50 anos de Independência de Angola representa uma oportunidade para reavaliar as prioridades do Estado. O sucesso desta empreitada dependerá da capacidade do Governo angolano de equilibrar os investimentos em simbolismo e em infraestrutura cultural com acções concretas de desenvolvimento económico e social, garantindo que o legado desta efeméride transcenda o espetáculo e se converta num impulso real para o progresso nacional.

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