Economia
“É tempo de olharmos para África como uma parceira credível”

“As novas dinâmicas fazem-nos perceber que é tempo de substituirmos a lógica da ajuda pela lógica da ambição e do investimento privado. É tempo de olharmos para África como uma parceira credível, que tem muito para oferecer, mas que carece de capital financeiro e de know-how, interessada em juntar sinergias em benefício mútuo”.
Com as palavras acima, o Presidente da República, João Lourenço, deu por aberta a 17ª Cimeira Empresarial Estados Unidos-África, que decorre em Luanda, de 22 a 25 de Junho.
Diante dos sete Presidentes e Chefes de Estado, o líder angolano aproveitou a ocasião para apelar que os EUA tenham “uma visão diferente, descomplexada sobre o continente” e passe a considerar que “o desenvolvimento de África” com a contribuição norte-americana, “será benéfico para a América e para o mundo”.
“Se unirmos forças, juntos temos a chave para a solução das duas principais crises que afectam negativamente a economia mundial, a crise alimentar e a crise energética”, convidou, João Lourenço.
Para o Chefe de Estado angolano, “hoje mais do que nunca, o continente africano posiciona-se como um dos grandes motores de fomento do crescimento global, com uma população jovem, inovadora e activa, recursos naturais abundantes e crescente integração dos seus mercados. África apresenta-se como um espaço privilegiado de oportunidades de investimento e crescimento”.
Entretanto, aos centenas de empresários norte-americanos, africanos e angolanos presentes, instou que as relações com os países africanos não se limite “apenas à extracção de recursos minerais convencionais e raros, ao sector energético do petróleo e gás, mas que se interessasse também por outro tipo de indústrias transformadoras, pela indústria do ferro e do aço, do alumínio, do cimento, da agropecuária, da indústria naval, do automóvel e do turismo”.
“Este Fórum deve ser visto como uma peça importante nas relações económicas entre África e os Estados Unidos da América. África já não é apenas um continente de grande potencial de riqueza mineral, de recursos hídricos e florestais, de crescimento demográfico inigualável, é cada vez mais um continente de decisões transformadoras e projectos concretos”, continuou.
Num momento em que o mundo debate-se com guerras um pouco por toda parte, João Lourenço considera que há ambiente seguro para desenvolvimento do sector empresarial em África.
“Num mundo marcado por instabilidades geopolíticas persistentes do Leste Europeu ao Médio Oriente, o continente africano, apesar de algumas bolsas localizadas de conflitos armados ou de tensão política, afirma-se como um parceiro de estabilidade e visão de longo prazo”, disse e afirmou que “as conjunturas externas reforçam ainda mais a urgência de aprofundarmos os nossos laços de confiança, cooperação económica e segurança estratégica, onde o papel dos Estados Unidos da América é incontornável, por terem um papel único à escala global”.
Corredores regionais
No seu discurso, o Presidente da República destacou o investimento em infra-estruturas que facilitem o escoamento de mercadorias com o Corredor do Lobito, que conta com investimento norte-americano de seis mil milhões de dólares, a ser contado nesta transformação do comércio em África.
“Do Norte ao Sul e do Atlântico ao Índico, multiplicam-se investimentos estruturantes que estão a moldar um novo panorama económico africano, desde o Corredor do Lobito, que vai ligar por linha férrea o porto do Lobito no oceano Atlântico, ao porto de Dar-Es-Salam no oceano Índico e promete transformar o comércio intra-africano e intercontinental, às zonas económicas especiais em expansão no continente, passando pelas iniciativas em curso para desenvolver cadeias de valor regionais em sectores como os minerais críticos, a agricultura e a energia, apenas para citar alguns”, mencionou.
Outro destaque recaiu para a necessidade de se fortalecer a Zona de Comércio Livre como forma de dinamizar as relações entre os países africanos.
“Precisamos de corredores logísticos mais funcionais, regras comuns que facilitem a mobilidade de capitais, mercadorias e pessoas. O fortalecimento da Zona de Comércio Livre Continental Africana é, por isso, uma prioridade estratégica e representa uma extraordinária oportunidade para a partilha de infra-estruturas, conhecimento, mercados e atracção de investimento”.
Entretanto, prosseguiu, “para torná-la uma realidade e garantir o desenvolvimento económico e social de África, o continente vem lutando por conseguir junto das instituições financeiras internacionais como o Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional, de outras congêneres e da banca, condições mais justas e favoráveis de financiamento e crédito para o necessário investimento público em infra-estruturas rodoviárias, ferroviárias, portuárias, de energia e água, de tecnologias de informação e comunicações”, disse.
João Lourenço ressaltou, igualmente, nas suas declarações, que para o empresariado norte-americano, “África está pronta, os nossos governos estão preparados para ser facilitadores e o nosso sector privado está disponível para construir alianças que gerem lucros, mas também prosperidade partilhada”.
Em declarações à imprensa, na noite deste sábado, 21, o administrador executivo da Agência de Investimento e Promoção das Exportações (AIPEX), Jerónimo Pongolola, disse que a 17ª edição da Cimeira Estados Unidos-África, que arrancou este domingo, em Luanda, supera, em número de participantes, as de outros países.
Até a noite deste sábado, de acordo com o responsável, estavam já confirmados mais de 1.700 delegados de diversos países, número que supera a edição de 2024.
Edição de Luanda supera com “os melhores números de participantes” na cimeira EUA-África