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Opinião

Campanha Eleitoral: sobre a verdade!

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Por: João Demba

Com base em uma abordagem histórica podemos afirmar que a verdade, era verdade, e única verdade, mais verdadeira, inquestionável, porque Deus disse. De uma forma geral, em certo período da história da humanidade era assim que se promovia e se consumia a verdade das coisas.

O Rei, na história da humanidade teve também o seu espaço privilegiado como detentor único, legítimo proprietário e promotor da verdade.

Os “malucos”, ou seja, os indivíduos com problemas mentais, também estes, eram tidos como detentores de verdades ímpares, superiores e até espaciais.

O “kimbandeiro/Curandeiro” é também uma outra figura relevante da constituição da humanidade que portou/portava para si verdades únicas e inquestionáveis.

Quem como eu teve a oportunidade e o prazer de apreciar os célebres filmes “Matrix” ou até mesmo “300”, certamente apercebeu-se que o “Oráculo”, figura mística, portava para si, também, um saber ímpar, diferencial, relevante, e por isso, também, um detentor da verdade em certo período da evolução histórica da humanidade.

Em o método do discurso, René Descartes impõe uma nova forma da verdade, ainda hoje consensual, grandemente utilizada, principalmente, mas não só, ao nível da academia e da investigação científica: a verdade baseada em evidências, na comprovação, através da utilização de métodos e procedimentos científicos.

Conversando com Nietzsche, em a ordem do discurso, Michael Foucault alarga um pouco mais a abordagem sobre a “verdade”, ou seja, problematizou-a, ao afirmar que a verdade, principalmente nas ciências humanas, não sendo ela “natural”, resulta de uma construção humana (individuais ou grupais), baseada em propósitos e ou interesses específicos, em geral, antagônicos, de “poder”, e que vai variando de promotores ao longo dos anos: regimes de verdade, é o nome adoptado por Michael Foucault para designar os indivíduos, grupos de indivíduos, ou até, instituições, que através de ferramentas/instrumentos, além de outras, como as associações, a escola, partidos políticos, as mais variadas instituições que compõe a sociedade, cada uma delas no formato e intensidade próprias, mas também os medias, não apenas os medias convencionais (televisão, rádio, jornal, revista), os medias alternativos (internet), cujo resultado do trabalho, visa criar, desenvolver, bem como fazer aceitar determinadas ideias, visões, pretensões, como verdades únicas. O fim último é o exercício do poder sobre o outro.

Em Angola, mas também no exterior (alguns países), desde o dia 24 de Julho de 2022, Partidos Políticos e Coligações de Partidos (PPCP), lançaram-se ao mercado em busca do maior número possível de votos. Aliás, esta acção, pelo que temos observado ocorre desde o ínicio do presente ano. O objectivo é vencer as eleições gerais. E é através do discurso, nas suas mais variadas formas e meios, que os PPCP, buscam convencer o eleitorado.

A questão que se coloca é, onde está a verdade nos vários discursos enunciados? Quem estará a falar a verdade? Como fica o eleitor num cenário onde tudo é verdade, mas ao mesmo tempo tudo é mentira? Como verificar o que é verdade e o que é mentira?

Uma reflexão “simplista” leva-nos a concluir que o país, como proposto por Foucault, vive um cenário específico e intenso da existência e práticas de “regimes de verdade”, o que é problemático, pelo facto do propósito único dos regimes de verdade, ser o de ter o privilégio de mando, de constituir e organizar propositadamente as relações humanas, sempre com o objectivo primário de ver satisfeitos e ou atender as necessidades, interesses, objectivos e desejos dos próprios regimes de verdade.

É por isso que cada vez mais, qualquer indivíduo, principalmente o cidadão angolano com capacidade e perfil eleitoral, é e deve ser o responsável primário por obter as informações sobre os vários assuntos, temas ou sectores, a partir de fontes oficiais, le-las, analisa-las, e com isto, produzir um juízo de valor: os tempos de antena na rádio e na televisão, os manifestos e programas eleitorais, mas também as ocorrências mundiais (Rússia Vs Ucrânia; preços dos bens e fertilizantes no mercado internacional, a redução mundial do poder de compra), bem como o comportamento e a atitude dos candidatos e partidos na actividade diária que estes desenvolvem, devem reforçar a crítica, essencialmente aos manifestos e propostas de Programas de Governo.

Em nossa opinião, a busca por informação de fonte oficial e a reflexão sobre ela, poderá reduzir ou até tornar pouco expressivo o comportamento e atitude, baseados na formulação do juízo de valor derivados da opinião da opinião de outrem, que no caso em concreto, a opinião, em geral, dependendo de quem a expressa, tende a tomar parte.
João Demba

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