Politica
Letargia dos jovens partidários força mais empenho dos ‘mais velhos’ para manutenção e alternância do poder
Fontes de algumas agremiações políticas juvenis justificam a letargia total com a alegada falta de apoio financeiro por parte das direcções de seus partidos. Entretanto, vaticina-se que foi pensando na dependência dessa natureza que Rafael Massanga Savimbi terá, anos atrás, se recusado a abraçar os apelos e conselhos para que se candidatasse à liderança da JURA, o braço juvenil da UNITA.
Há anos que se regista um apagão político generalizado por parte dos braços juvenis dos partidos em Angola. A letargia é deveras transversal, da JMPLA (MPLA) a JURA (UNITA), JURS (PRS), a JFNLA (FNLA), e quanto à CASA-CE (só para citar estes), optou por descontinuar a sua ala juvenil, em 2023, tendo mantido um coordenador com poderes de fiscalizar as acções das agremiações juvenis dos quatro partidos coligados, mas em termos de acções, pouco ou nada se vê.
Entretanto, altos quadros de algumas das agremiações juvenis justificam a letargia total com a alegada falta de apoio financeiro, que lhes daria capacidade para os desdobramentos que se impõem.
Vaticina-se, no entanto, que foi pensando na dependência deste tipo que levou Rafael Massanga Savimbi, na véspera do imbróglio interno de Mfuca Muzemba, a não dar ouvidos aos apelos para que considerasse a possibilidade de candidatar-se a secretário-geral da agremiação juvenil do partido fundado pelo seu progenitor.
Além da problemática financeira, nalguns casos, as lideranças juvenis estão de costas voltadas com os ‘mais velhos’.
Por exemplo, como já noticiado pelo Correio da Kianda, num texto assinado pela jornalista Márcia Cordeiro, a direcção da FNLA suspendeu por seis meses o secretário-geral de sua juventude, Carlos Cassoma, a quem recai suspeitas de uso do nome da JFNLA para “receber apoios externos, de pessoas e organizações desconhecidas, e sem o conhecimento e aprovação da direcção do partido”.
Agitações nada abonatórias politicamente também se registam no PRS, em que o líder da JURS, Gaspar Fernandes Santos, queixa-se de injustiça pelo facto de a sua candidatura a presidente do partido tenha sido chumbada. Responsáveis pela organização do conclave justificam a decisão, entre outras coisas, com o alegado facto de Gaspar Fernandes Santos não possuir 15 anos de militância.
E este modo ‘stop’ a que aparentemente se submeteram é responsável pela lembrança constante dos legados de Luther Rescova, na JMPLA, e de Mfuca Muzemba, na JURA, esta que é a mocidade do maior partido na oposição.
A Polícia Nacional, entidade muitas das vezes acusada de estar ao serviço do MPLA, teve de encontrar mecanismos peculiares para lidar com Mfuca nas manifestações de rua, sob pena de provocar uma ‘raiva’ entre os jovens presentes nos protestos em que este participava.
Entretanto, vale lembrar que não só o então secretário-geral da juventude da UNITA era popular. Se por um lado o Mfuca tinha os jovens ‘revus’ sob seu ‘controlo’, Rescova tinha domínio sobre as organizações de jovens intelectuais, de associações religiosas juvenis e outras.
A par de seus trabalhos nas ruas para mobilização dos mais novos, os dois líderes animavam o debate público nacional com as suas intervenções em debates constantes nas rádios e TVs.
Actualmente, quer a JMPLA, quer a JURA, atravessam um período pouco digno de seus nomes e percursos.
Contudo, vale ressaltar que Crispiniano dos Santos (actual primeiro secretário Nacional da JMPLA) entra para a história por ser o líder da organização a inaugurar uma eleição num conclave com múltiplas candidaturas, mesmo que a JMPLA tenha perdido parte da sua performance ao longo dos anos.
Igualmente, a JURA perdeu expressão desde que a ‘tocha’ passou a ser controlada por Aly Mango. Custódio Agostinho Kamuango, que veio a substituir Aly Mango à frente da JURA, prometera “trabalhar com rigor para que a UNITA” viesse a sair “vencedora das eleições”, mas pouco fez. A JURA continuou parada. Foram poucos os avanços.
E esperava-se que a organização viesse a ganhar novo fôlego com a entrada em cena de Nelito Ekuikui, este que carrega no curriculum a histórica vitória da UNITA em Luanda, tendo em conta que era o responsável do partido na província à época dos factos.
Porém, ledo engano. Para alguns segmentos, talvez Nelito esteja a trabalhar muito afincadamente a nível intramuros, organizando a casa, dado que não se vislumbram acções públicas capazes de atrair novos jovens para a organização.
A letargia dessas organizações juvenis tem, como se denota, subcarregado os ‘mais velhos’ dos partidos que, na luta para a manutenção e/ou alternância do poder, vêem-se forçados a vários desdobramento e inovações…