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O talento: dom ou construção?

Era uma vez, numa pequena vila rodeada por montanhas e rios serenos, um menino chamado Kiala. Desde cedo, Kiala demonstrava uma habilidade especial para desenhar. Com apenas um pedaço de carvão e uma folha de bananeira seca, dava vida a rostos, animais e cenas do quotidiano da aldeia. Todos diziam: “Este menino tem talento!”. Mas ninguém sabia explicar se aquele dom vinha do céu, herdado dos antepassados, ou se era apenas fruto de muito treino escondido sob o silêncio das noites.
O velho mestre Ngola, artista respeitado da vila, observava o rapaz com atenção. Um dia, aproximou-se e disse:
— Kiala, tu sabes o que é talento?
— É um dom que já nasce com a pessoa, não é? — respondeu o rapaz, tímido.
Ngola sorriu, aquele sorriso de quem carrega décadas de sabedoria.
— Nem sempre, meu filho. O talento é, por vezes, uma inclinação natural, sim. Mas, sem cultivo, morre como uma semente esquecida no deserto. E há quem nasça sem essa inclinação evidente, mas que, com disciplina e repetição, faz florescer um talento que surpreende até os deuses.
Kiala ficou em silêncio. Começou a prestar mais atenção ao que fazia, não apenas desenhando por instinto, mas observando, estudando, praticando. Com o tempo, os seus desenhos tornaram-se mais vivos, mais profundos. E, junto dele, outras crianças, antes consideradas “sem talento”, começaram também a aprender, inspiradas pela sua dedicação.
No final, a vila já não se perguntava se o talento era dom ou esforço. Sabiam, agora, que o talento é uma dança entre o que nasce com a pessoa e aquilo que ela constrói com suor e fé.
E o velho Ngola, ao ver aquela geração de artistas crescer, sussurrava ao vento:
— O talento não basta nascer… precisa ser educado.