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Conflito no Médio Oriente: emitir opinião tornou-se um exercício perigoso

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Apoiados política e militarmente pelo Irão, o Hezbollah e Houthis são grupos armados que, ilegalmente, administram, paralelamente aos Governos, partes significativas das Repúblicas do Líbano e do Iémen, em clara violação às normas internacionais. Em 2006, a ONU aprovou uma Resolução que visou entre outras coisas o desarmamento do Hezbollah, mas a ordem não foi concluída no terreno. E por conta do ataque do Hamas em Outubro de 2023, Israel tem bombardeado a Palestina e agora o Líbano em resposta ao Hezbollah, de forma “implacável”, deixando um vasto de mortes, que merecem ser vigorosamente condenados. 

O mundo tornou-se perigoso. E emitir alguma opinião face às diversas guerras espalhadas pelo planeta passou a constituir-se igualmente num exercício perigoso, tendo em conta sobretudo o sentimento de intolerância que se criou.

Por um lado, estão os árabes, que agora concentram solidariedade do conhecido mundo livre, e de várias Nações africanas. No centro de tudo isso está a guerra que Israel trava no Médio Oriente, com o Hamas, na Palestina; com o Hezbollah, no Líbano; com os Houthis, no Iémen; e com o Irão, o financiador de todos os grupos citados.

Na verdade, o conflito remonta ao século passado, na altura da criação do Estado Judeu.

Até 1947, os judeus eram os únicos povos do mundo sem terra, Angola, por exemplo, precisamente a província de Benguela, já havia sido cogitada para ser o lar dos judeus. Entretanto, os judeus revindicavam a Palestina, onde muitos da referida tribo já residiam, apesar dos conflitos. No mesmo ano, as Nações Unidas aprovoraram a Resolução 181, que determinou a repartição da Palestina em dois Estados, um judeu e outro árabe/palestina.

Contudo, ao invés de os árabes concentrarem-se na criação do Estado árabe da Palestina, reuniram diferentes países, nomeadamente o Egipto, Síria e a Jordânia, atacaram os israelitas no dia 15 de Maio de 1948, um dia depois de os judeus terem proclamado a sua independência, mas o bloco árabe acabou derrotado, e os palestinos que habitavam na zona geográfica atribuída a Israel acabaram por perder suas casas, face ao êxodo imposto – e mais: o novo Estado de Israel alargou seu território, ocupando zonas então atribuídas à Palestina, pela ONU.

Nos anos subsequentes, Israel enfrentou vários outros ataques de coligações árabes, mas foi vencendo-os continuamente e a ocupar mais zonas pelestinas.

Estes ataques constantes resultam do facto de boa parte dos países árabes não reconhecer o Estado judeu naquela localidade do Médio Oriente. Para muitos destes países, os hebreus são uma invenção dos ocidentais, em especial os Estados Unidos da América.

Os palestinos, entretanto, não lutam apenas para recuperar o território perdido, mas toda a então zona da Palestina, como entoam em canções: do “Rio Jordão ao Mar Mediterrâneo, a Palestina será livre”. Toda essa circunscrição citada na canção e slogans, e constante no estatuto do Hamas, é a área que abarca toda a Palestina e Israel. Portanto, Israel vem lutando pela sobrevivência.
E face ao poder que constituíram, os hebreus resistem, e têm submetido os palestinos a quase servidão.

Os judeus têm dominado e controlado o território, de Israel à Palestina, mas foram surpreendidos por um ataque surpresa de 07 de Outubro de 2023, pelo Hamas, em que morreram mais de 1.200 pessoas em território israelita, além de terem feito reféns.

A resposta do Governo de Israel, que perdura até ao momento, um ano depois, tem sido demolidora. Dados do Ministério da Saúde da Palestina, controlado pelo Hamas, indica terem morrido mais de 40 mil palestinos na resposta israelense.

O Hezbollah, no Líbano; e os Houthis, no Iémen, vieram em apoio da Palestina, e têm realizado vários ataques para o território de Israel.

O mundo tem criticado fortemente o Governo de Israel pelos ataques que empreende ao Líbano, em resposta ao Hezbollah, e quando ingualmente faz ao Iémen, em resposta aos Houthis, mas não tem a mesma contundência crítica contra estes grupos no atacaque a Israel.

Entrada em cena do Irão

O líder do Irão e o novo presidente já não escondem que o seu país financia o Hezbollah, um grupo terrorista que, em afronta às autoridades legítimas do Líbano, governa parte significativa daquele país. E mais: Ali Khamenei deixou claro que Israel está a chegar ao fim, algo que vai de encontro ao projecto antigo do Irão, o de eliminar o Estado hebreu da face da terra.

Desde o início da guerra com o Hamas, que na segunda-feira, dia 07, completou um ano, Israel tem deixado um rasto de destruição e mortes por onde passa em Gaza e agora no Sul do Líbano. O mundo sabe que foi o Hamas quem provocou o conflito, mas não poupa Israel nas críticas, face ao número de mortos e excessiva destruição de infra-estrutura.

Embora Israel revela-se numa força superior, os Houthis, o Hamas e o Hezbollah não param, continuam igualmente a repostar.

O Irão, entretanto, voltou a entrar em cena. Depois de ter lançado mais de 300 mísseis e drones contra Israel em Abril deste ano, o país lançou agora, no dia 01 deste mês (Outubro), cerca de 200 mísseis balísticos. O secretário-geral da ONU e alguns países criticaram o Irão, mas fizeram-no de forma “pouco concreta, pouco contundente” na visão de Israel, tendo em conta que cingiram-se mais em expressões como: “devesse evitar a escalada”, ao que Israel questiona o alcance e significado da abordagem.

E nalguns círculos ocidentais há a sensação de que boa parte do mundo olha de forma leviana ao ataque do Irão por não ter provocado baixas humanas em Israel, mas alertam que o ataque do Irão “foi brutal”, “sem precedente”, e que deve ser respondido, tendo em conta que a ausência de baixas humanas resultou do sistema de defesa de Israel e da disciplina da população, que rapidamente abrigou-se em zonas apropriadas.

Para Israel e alguns de seus aliados, é perigosa a perspectiva que se vai criando, em que tudo o que é feito por Israel é alvo de escrutínio e críticas contundentes, mas observado de forma leviana os ataques de que os hebreus têm sido alvo.

No caso específico do Irão, e é o facto que mais incomoda Israel, é que os ataques do antigo Império Persa e de países e grupos árabes contra Israel não são alvos de condenações concretas por parte da ONU, e potências dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Por exemplo, os Houthis, no Iémen; e o Hezbollah, no Líbano, são grupos armados islâmicos que se opõem aos Governos legítimos de seus países, governando paralelamente o Estado, sendo que se revelam mais poderosos em comparação às forças militares governamentais.

Toda essa força militar que destilam é suportada financeiramente pelo Irão, e isso não é segredo para ninguém, mas nada é feito para contrariar esse facto que fragiliza os Estados visados, em plena violação ao direito internacional.

O que a ONU se predispôs a fazer para eliminar o Hezbollah?

Em 2006, em plena guerra entre o Hezbollah (que já controlava parte significativa do Líbano) e Israel, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou a Resolução 1701 – um plano criado que visou estabelecer, entre outros objectivos, o cessar das batalhas entre Israel e Hezbollah na região; a retirada de todo o exército israelense do Líbano; o desarmamento do Hezbollah e outros grupos armados paralelos ao Estado libanês (isso nunca chegou a acontecer).

O Hezbollah continua armado e não é oculta a sua fonte financeira e armamentista, o Irão, este que já deixou claro que há-de continuar a apoiar o Eixo da Resistência – como é conhecida a coligação de grupos armados liderada por si.

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