Entrevista
Exclusivo: angolanas residentes em Tel Aviv falam sobre situação em Israel após início do conflito
Maioria das informações a circularem nas redes sociais é fake news, denunciam.
As angolanas Laura e Lassalete, residentes em Israel, afirmaram em exclusivo à Rádio Correio da Kianda, que 70% das informações avançadas nas redes sociais sobre a guerra com o Irão e ou até mesmo com o Hamas é fake news.
Laura, que reside na região sul, onde se registou o ataque do dia 7 de Outubro de 2024, protagonizado pelo Hamas em Israel, contou como viveu aquele momento.
Já Lassalate, ao norte de Israel, disse que o Irão é muito mais forte do que o Hamas, em termos bélicos, o que a leva as vezes a ficar em casa por precaução, apesar de reconhecer o compromisso do governo local com a segurança de todos os cidadãos.
Lassalete desmentiu informações que davam conta da destruição total de um aeroporto militar em Tel Aviv, bem como a sede do Serviço de Inteligência de Israel denominada “Moussad”.
As angolanas, reconheceram também os esforços e atenção da Embaixada de Angola em Israel. As nossas interlocutoras afirmaram ainda que alguns iranianos fugiram do seu país para refugiar-se em Israel.
Leia abaixo o testemunho das angolanas Laura e Lassalete, residentes em Israel, face ao escalar do conflito com o Irão.
Como foi o primeiro dia de ataque?
Laura: Não tínhamos como, na sexta-feira nós não tínhamos como ter vida normal, ir ao supermercado, as crianças irem para a escola, porque foi muito forte. Mas nós temos os bunkers onde nós estávamos e tínhamos protecção do país. Então, sexta-feira e sábado foram situações complicadas, difíceis. Não podíamos estar na rua, as crianças não podiam ir para a escola. Foi realmente uma situação complicada na sexta-feira e no sábado. Mas já hoje as coisas estão a circular normalmente, porque está um pouco mais tranquilo.
Já conseguem sair?
Laura: Hoje mesmo eu saí de casa, pude ir ao supermercado, pude ir a um café. Então, hoje já as coisas começam a tranquilizar um pouco mais. Muito obrigado.
Lassalette, como caracteriza a situação na região, na província onde você se encontra?
Lassalette: Onde eu vivo, normalmente, chega a ser um bocadinho mais calmo do local da Laura. A tensão é menor, mas desta vez o Irão é muito mais forte do que jamais foi. Não estamos a falar do Líbano, estamos a falar do Irão, que tem um potencial bélico muito mais forte e com muito mais potência, que atinge todo Israel. Sexta e sábado, conforme disse a Laura, ficamos retidos em casa, por precaução também. Porque uma coisa que eu notei que se tem aqui em Israel, durante esses quase 10 anos que aqui vivo, é que em primeiro lugar o povo, a segurança do povo, é prioridade. E depois é o resto.
Já conseguiu retomar a sua rotina?
Lassalette: Já na segunda-feira eu fui dar aulas, na terça e hoje quarta-feira também saí. Quando tem sirenes entramos nos bunkers e vamos levando a vida assim. Eu acho que chegou uma altura que depois ficamos habituados a ver os mísseis na cabeça voarem. Chega a ser nessa altura um bocadinho… Fica assim meio engraçado dizer isso, mas quando eu vejo vídeos, por exemplo, das cidades de Tel Aviv e Raifa, que passam nas notícias que estão totalmente destruídas, e eu digo, meu Deus, é muita falta de informação. Porque hoje com a inteligência artificial é muito fácil manipular imagens.
Está querendo dizer que aquelas imagens que estão circulando em redes sociais não correspondem à verdade sobre a destruição de infraestruturas em Tel Aviv?
Lassalette: 60% não correspondem à verdade. Tem um vídeo do aeroporto Ben Gurion de Tel Aviv, que está totalmente destruído, que não tem nenhum avião, isso é totalmente mentira. E eu até disse à Laura, como é que a televisão consegue passar um vídeo assim sem antes confirmar? Há muitas formas de confirmar informação hoje com pessoas que vivem aqui no dia a dia.
Pensa que estão a utilizar Inteligência Artificial?
Lassalette: É muito vídeo com um acréscimo de Inteligência Artificial, e muita gente cai nisso.
Lassalette e a Laura, a mesma pergunta que eu coloco a vocês, há outra informação que circula nas redes sociais que dá conta de que a sede da Mossad, que é o serviço secreto israelita, teria sido atingido pelos bombardeamentos iranianos. Esse dado corresponde com a verdade?
Laura: É mais um fake news.
Lassalette: Não, não corresponde com a verdade. É o que a Lassalette está dizendo. É muita desinformação que vem passando pelas redes sociais, pelas cadeias televisivas, e isso chega a ser constrangedor para nós que estamos aqui e temos famílias em Angola.
Qual é o nível da vossa comunidade, da comunidade angolana naquele país do Médio Oriente?
Lassalette: Olha, desde já eu quero parabenizar a Embaixada de Angola, principalmente a pessoa da dona Telvina Correa. Não importa o horário, se são quatro horas de madrugada, se são três horas, eles estão sempre a par e passo perguntando como é que cada membro da comunidade está, como é que nós passamos, se precisamos de algum apoio. Então, temos tido um contacto constante com eles e realmente isso acalma os ânimos quando sabemos que temos com quem contar.
Laura: Isso te tranquiliza muito, muito, muito mesmo. Só para acrescentar no que disse a Lassalette, eu mesma já fui evacuada uma vez pela nossa embaixada porque a situação realmente não era das melhores. E eu só tenho a agradecer o grande trabalho que a nossa embaixada tem feito aqui. Estamos sempre, sempre, sempre em contacto. Isso que a Lassalette disse, a embaixada tem dado o seu apoio, o seu maior apoio.