Ligar-se a nós

África

Quanto vale a vida dos africanos para a ONU?

Publicado

em

Nos últimos 12 meses, a maior organização política do mundo, liderada por António Guterres, já realizou quase dez reuniões da sua Assembleia Geral, a favor dos palestinos, numa altura que se intensifica também a guerra no Sudão, com dezenas de milhares de mortos, e 25 milhões de pessoas a precisar de ajuda – porém, não há encontros mundiais para conter a crise. O Mali e o Burkina Faso, só para citar estes, estão atolados com o terrorismo – e em Moçambique, importantes políticos na oposição foram mortos num ambiente de contestação eleitoral, situações que deviam igualmente exigir um empenho inequívoco das Nações Unidas.

A violência no continente africano está ao rubro. Por um lado são guerras fratricidas, por outro lado são ataques terroristas, proliferação de grupos armados, além da fome que mata, igualmente. Apesar de todo estes males, a Organização das Nações Unidas (ONU) tem tido uma postura tomada por pouco interessante, dado que pouco ou nada resolve.

Ao passo que se revela distante ao interesse dos povos africanos, a ONU tem acções intensas a favor do povo palestino.

Por exemplo, desde o ataque de 07 de Outubro de 2023, que o Hamas inflingiu em solo israelita, as Nações Unidas já reuniu cerca de nove vezes a sua Assembleia Geral sobre Gaza. Reuniões que têm visado salvar o povo palestino das ‘garras’ de Israel.

Pela Palestina, face à força de reacção de Israel ao ataque de Outubro do ano transacto, António Guterres invocou o artigo 99.º da Carta das Nações Unidas, que permite ao secretário-geral a “levar à atenção do Conselho de Segurança qualquer assunto que, na sua opinião, possa ameaçar a manutenção da paz e da segurança internacionais”. É um artigo raramente invocado.

A primeira vez que foi invocado foi em 1960, pelo então secretário-geral Dag Hammarskjold, uma acção que levou ao envio de 20.000 soldados da paz da ONU para a República Democrática do Congo.

Nalgumas vezes, dá até a sensação, para diferentes analistas, que o organismo terá adoptado uma postura parcial com um único propósito de proteger os palestinos.

Entretanto, o contraste, que leva à interpretação de dualidade de critérios de defesa e apoio por parte da ONU, é a sua posição visivelmente pouco energica, comparativamente à sua posição em relação à Palestina, nas crise africanas. É que há uma guerra bastante violenta no Sudão. O referido conflito militar já ceifou a vida de um número incalculável de pessoas.

Tedros Adhanom Ghebreyesus, director-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), fala em mais de 20.000 pessoas mortas, mas admite que os números podem ser bem para lá do que avança no momento.

De acordo com o Jornal Expresso, o conflito transformou a capital, Cartum, e outras zonas urbanas em campos de batalha, destruindo as infraestruturas civis e um sistema de saúde já de si muito afectado. Sem o básico, muitos hospitais e instalações médicas fecharam as portas.

“O conflito criou também a maior crise de deslocações do mundo, já que, de acordo com a Organização Internacional para as Migrações, mais de 13 milhões de pessoas foram obrigadas a fugir das suas casas desde o início dos combates”, escreve o Expresso.

Dados da própria Nações Unidas indicam que, além de poder vir a configurar-se na pior crise alimentar do mundo, o Fundo da ONU para a Infância (Unicef) refere que 14 milhões de crianças no Sudão precisam de assistência.

Terrorismo

Dados do Africa Center indicam que cerca de 130 milhões (80%) das pessoas que enfrentam insegurança alimentar aguda estão em países em conflito, muitos dos quais persistem há anos e corroeram os mecanismos comunitários e nacionais de enfrentamento.

Treze dos 16 países africanos com o maior número de pessoas em situação de insegurança alimentar aguda estão em conflito. Esse padrão ressalta que o conflito continua a ser o principal factor de insegurança alimentar aguda na África.

Os países afectados por conflitos representam 18,6 milhões (94%) daqueles que enfrentam níveis de emergência (Fase 4) e 840.000 (100%) daqueles que enfrentam níveis catastróficos (ou Fase 5, fome) de insegurança alimentar.

E face ao terrorismo, o Governo do Burkina Faso perdeu 60% do território a favor de terroristas, e pela mesma razão, as autoridades do Mali perderam 40% de seu espaço geográfico.

Ainda relacionado com a fome, a Nigéria, o Sudão e a República Democrática do Congo são os três países com o maior número de pessoas com insegurança alimentar aguda – cada um com mais de 20 milhões de indivíduos enfrentando pelo menos níveis de crise de insegurança alimentar.

Colectivamente, sublinha o estudo, esses três países compreendem cerca de metade de todas as pessoas do continente que enfrentam insegurança alimentar aguda.

A Nigéria e o Sudão também tiveram os maiores aumentos agregados no número de pessoas com insegurança alimentar aguda no ano passado, adicionando 6,8 milhões e 5,3 milhões de pessoas, respectivamente.

Quatro países – Sudão do Sul (64%), Sudão (53%), Namíbia (48%) e República Centro-Africana (44%) – têm 40% ou mais de suas populações enfrentando fome aguda, diz o estudo.

Entretanto, da ONU, vê-se acções pouco entusiásticas…

Publicidade

Radio Correio Kianda

Publicidade




© 2017 - 2022 Todos os direitos reservados a Correio Kianda. | Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem prévia autorização.
Ficha Técnica - Estatuto Editorial RGPD