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Crônica

Quando o talento não basta: Angola e a dura realidade do basquetebol feminino

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A Seleção Nacional Sénior Feminina de Basquetebol despediu-se do Afrobasket 2025 sem qualquer vitória, após três jogos disputados na Costa do Marfim.

Uma prestação que deixa muitas lições, e uma grande interrogação sobre o real estado do nosso basquetebol feminino.

Na estreia, Angola perdeu diante do Egito. Depois, voltou a tropeçar diante da equipa anfitriã, a Costa do Marfim. E, por fim, viu as esperanças de chegar aos quartos de final caírem por terra diante dos Camarões, com um resultado claro de 85-64. O grupo orientado por Paulo Macedo mostrou esforço, mas voltou a esbarrar nas mesmas limitações já observadas em torneios anteriores: dificuldades na transição, pouca profundidade no banco e visível falta de entrosamento e ritmo competitivo.

No último jogo, apenas duas atletas atingiram marcas expressivas. Sara Caetano foi destaque com 19 pontos e 7 ressaltos (eficiência de 18), enquanto Italee Lucas contribuiu com 14 pontos e 7 assistências. Números respeitáveis, mas insuficientes frente a uma equipa camaronesa mais organizada, que teve em Jessica Thomas  base com experiência internacional  a principal figura, ao somar 19 pontos, 5 assistências e uma eficiência de 23.

A pergunta que não se cala: o que falta à nossa seleção que já nos deu tantas alegrias?

A resposta é dura, mas necessária: falta estrutura. Falta investimento contínuo. Falta uma liga feminina forte e activa. Falta trabalho de base nas províncias, nos clubes, nas escolas. Falta acreditar verdadeiramente no desporto feminino, para além dos discursos protocolares. As selecções nacionais refletem o estado do desporto interno  e neste momento, o espelho não é favorável.

Não basta talento. Temos jogadoras com qualidade, mas competir ao mais alto nível exige mais do que brilho individual. Exige trabalho de equipa, calendário competitivo, intercâmbios internacionais e sobretudo visão estratégica.

Perder três jogos consecutivos, sem conseguir impor identidade ou garantir sequer uma vitória, é sintomático. Mas não é o fim. Pode ser o começo  se for tratado com seriedade. Se houver uma avaliação honesta, um plano de reestruturação e o compromisso de mudar o cenário a médio e longo prazo.

O desporto feminino em Angola já foi exemplo em África. Hoje, pede socorro. Cabe aos responsáveis, técnicos, dirigentes e amantes da modalidade unir esforços para reconstruir esse caminho. Porque o basquetebol feminino angolano tem história  e merece um futuro à altura.

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