Politica
Portugal sem condições económicas para indemnizar antigas colónias, afirma especialista
Uma sondagem da Universidade Católica para a RTP revela que os inquiridos em Portugal consideram que a antiga metrópole não deve um pedido oficial de desculpas pela colonização. Angola e Cabo Verde defendem o contrário, mas juntam-se a Portugal na oposição à retirada de estátuas e marcas da presença portuguesa.
Apesar da manutenção dos sinais da presença portuguesa, os três países concordam com a devolução à origem de obras de arte retiradas durante o período colonial. Em Portugal, 54% dos auscultados apoiam essa restituição, em Angola são 58% e 63% em Cabo Verde.
A mesma sintonia não se verifica quanto ao pagamento de indemnizações, com 57% de inquiridos em Portugal a considerar que os retornados que deixaram bens nas ex-colónias deveriam ter sido indemnizados e com 71% dos participantes em Angola e 81% em Cabo Verde contra qualquer indemnização.
Sobre o assunto, o especialista em relações internacionais, Crisóstomo Chipilica, pensa que, do ponto de vista real, Portugal não tem recursos para indemnizar as antigas colónias, o mais importante é que as antigas colónias conquistaram as suas soberanias, e construir u memorial colectivo pelos ilustres filhos africanos que tombaram nesse percurso.
Por seu turno, o jurista português e analista dos assuntos políticos, Rui Verde, entende que, a questão das reparações de Portugal em relação à colonização, não é uma questão de direito.
“Entretanto, perdeu esta força e deu independência, ou foi obrigado a dar independência a todos os países que colonizou. A colonização terá tido aspectos positivos e aspectos extremamente negativos. A questão que se põe hoje é que as antigas colónias, ainda, não têm força suficiente para exigir a Portugal reparações, mas haverá um dia no futuro, daqui a 20 anos, daqui a 30 anos, daqui a 40 anos, atendendo à fragilidade, cada vez maior de Portugal que essas antigas colónias, ou apenas algumas delas, terão força para efectivamente exigir a Portugal reparações”, disse.
Em Portugal, a sondagem apurou ainda que 58% apoia a construção de memoriais em homenagem aos escravizados, ainda que 93% defenda a atribuição de pensões a ex-combatentes portugueses, praticamente o mesmo valor (92%) quando a questão é colocada sobre ex-combatentes africanos que lutaram pelo lado português.
Crisóstomo Chipilica disse que faz algum sentido, e apela para que os africanos não sejam tão bastantes tradicionalistas e conservadores, porque a colonização trouxe também algo de positivo como a escolarização e civilização, não é o caminho desejável.
Verde, disse também que, não se deve estar a querer travar esse processo, e fazendo isso está-se a criar grandes problemas para o futuro.
“Portanto, a questão das reparações efectivamente não se põe hoje, mas vai se pôr daqui a 40 anos, ou talvez 50 anos quando esses países tiverem força, entretanto, o também jurista luso, pensa que coloca-se já uma questão de justiça relativa de enquadramento e de inserção no mesmo espaço e de todas as oportunidades desses países antecipando futuros males”, assinalou.
A RTP está a divulgar os resultados de três sondagens da Universidade Católica Portuguesa, realizadas para a Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril, que foram feitas em território português, em Angola e em Cabo Verde.
Ouça as declarações no jornal da Rádio Correio da Kianda