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Opinião

O fim do Bilhete de Identidade nos bancos: revolução ou risco?

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A transformação digital tem impactado significativamente diversos sectores da sociedade, e o sistema bancário não é excepção. Em Angola, o modelo tradicional de atendimento ao cliente bancário continua a depender excessivamente da apresentação do Bilhete de Identidade físico para a realização de operações financeiras. No entanto, essa abordagem tem-se revelado um entrave significativo para milhões de cidadãos que enfrentam dificuldades relacionadas com a caducidade do documento, a sua ausência temporária ou a rejeição de assinaturas não legíveis.

A evolução para um modelo biométrico e criptográfico de identificação apresenta-se como uma solução inovadora e necessária para modernizar o sistema financeiro angolano. A implementação de tecnologias avançadas, como a autenticação por impressão digital, reconhecimento facial e criptografia de dados, pode garantir um atendimento mais eficiente, seguro e acessível para todos os cidadãos, promovendo, simultaneamente, a inclusão financeira e a redução de fraudes.

Neste contexto, é essencial analisar a viabilidade dessa mudança de paradigma e o papel do governo, especialmente do Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos, na disponibilização da base de dados da Identificação Civil para facilitar esse processo. A cooperação entre o sector público e o privado será fundamental para garantir a segurança e a eficácia da digitalização dos serviços bancários.

1. O Problema do Modelo Tradicional de Atendimento Bancário

O sistema bancário angolano ainda opera com uma forte dependência de processos burocráticos que exigem a verificação manual de documentos físicos para a autenticação dos clientes. Essa realidade gera inúmeros desafios operacionais, tanto para os cidadãos como para as instituições financeiras.

Os principais problemas associados ao modelo tradicional incluem:

1.1. Caducidade e Extravio do Bilhete de Identidade

Muitos cidadãos enfrentam dificuldades para renovar o Bilhete de Identidade dentro do prazo estipulado, seja por falta de acesso aos serviços de identificação civil, seja por questões financeiras. Como resultado, muitos clientes são impedidos de realizar operações bancárias essenciais, o que compromete a sua participação na economia formal.

Além disso, o extravio ou esquecimento do documento em casa representa uma limitação adicional, forçando clientes a deslocarem-se novamente ao banco para completar operações simples, o que aumenta o tempo de espera e sobrecarrega as instituições financeiras.

1.2. Problemas de Legibilidade e Validação de Assinaturas

A validação manual da assinatura do cliente é um dos processos mais susceptíveis a erros no atendimento bancário. Pequenas variações na grafia podem levar à recusa de operações, gerando insatisfação e desconfiança por parte do cliente. Além disso, a exigência da assinatura manual não representa um método de segurança infalível, visto que pode ser facilmente falsificada.

De acordo com Kotler e Keller (2012), a experiência do cliente é um factor determinante na retenção e fidelização dos consumidores. No entanto, a morosidade e as dificuldades impostas pelo sistema bancário tradicional em Angola têm contribuído para a frustração dos clientes e para a redução da eficiência operacional dos bancos.

Além disso, um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE, 2021) destaca que a digitalização dos serviços financeiros é uma estratégia crucial para melhorar a inclusão financeira e impulsionar o crescimento económico. Assim, sem a adopção de soluções tecnológicas modernas, Angola corre o risco de manter um sistema bancário desactualizado e ineficiente.

2. A Revolução Biométrica e Criptográfica no Atendimento Bancário

A biometria e a criptografia representam soluções inovadoras para os desafios enfrentados pelo sector bancário angolano. A biometria baseia-se em características físicas únicas, como a impressão digital, o reconhecimento facial ou a íris, tornando o processo de autenticação mais seguro e eficiente. Já a criptografia garante que essas informações sejam armazenadas e transmitidas de forma protegida, reduzindo significativamente o risco de fraudes e acessos não autorizados.

2.1. Benefícios da Autenticação Biométrica

A introdução da autenticação biométrica nos bancos pode trazer diversas vantagens, entre as quais se destacam:

1. Maior Segurança: Diferentemente da assinatura manual ou do Bilhete de Identidade, a biometria é praticamente impossível de falsificar, reduzindo drasticamente as fraudes bancárias. Laudon e Laudon (2016) destacam que a biometria é um dos métodos mais eficazes de autenticação devido à sua singularidade e fiabilidade.

2. Redução do Tempo de Atendimento: Segundo Oliveira (2018), bancos que implementam soluções digitais conseguem reduzir em até 60% o tempo médio de atendimento, melhorando a experiência do cliente e aumentando a produtividade das instituições financeiras.

3. Inclusão Financeira: A biometria pode permitir que cidadãos sem documentos actualizados ou analfabetos tenham acesso facilitado aos serviços bancários, promovendo a inclusão financeira em larga escala.

4. Simplicidade e Conveniência: Com a autenticação biométrica, os clientes podem realizar operações bancárias sem necessidade de apresentar documentos físicos, o que torna o processo mais ágil e menos burocrático.

2.2. O Papel da Criptografia na Protecção dos Dados

A implementação da biometria exige um elevado nível de segurança na gestão dos dados dos clientes. Schneier (2020) ressalta que a criptografia é essencial para proteger informações sensíveis contra acessos não autorizados. No contexto bancário, a criptografia garantiria que os dados biométricos dos clientes fossem armazenados de forma segura, impedindo fraudes e vazamentos de informações.

3. O Novo Procedimento para o Cliente Bancário

Com a adopção da biometria e da criptografia, o processo de atendimento ao cliente será significativamente facilitado, eliminando as barreiras actuais impostas pelo modelo tradicional. O novo procedimento incluirá:

1. Registo Biométrico Único: O cliente realizará um registo inicial no banco, onde fornecerá os seus dados biométricos, que serão armazenados de forma segura.

2. Autenticação Rápida e Segura: Para qualquer operação bancária, o cliente poderá autenticar-se utilizando a sua impressão digital ou reconhecimento facial, sem necessidade de apresentar documentos físicos.

3. Redução de Erros e Rejeições: A validação biométrica eliminará erros relacionados com assinaturas não legíveis e caducidade de documentos.

4. Expansão do Acesso aos Serviços Bancários: Com a implementação desta tecnologia, o cliente poderá aceder a serviços bancários mesmo em áreas remotas, através de plataformas digitais e caixas electrónicos com leitura biométrica.

4. O Papel do Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos

Para garantir a eficácia deste novo modelo de atendimento, é fundamental que o Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos disponibilize a base de dados da Identificação Civil para as instituições bancárias. Esta integração permitirá que os bancos validem directamente a identidade dos clientes de forma digital, eliminando a necessidade da apresentação física do Bilhete de Identidade.

Essa iniciativa será crucial para reduzir a burocracia, evitar fraudes e facilitar a inclusão financeira de milhões de angolanos. No entanto, a sua implementação deve ser acompanhada de regulamentações rigorosas para proteger os dados pessoais dos cidadãos e garantir a privacidade das informações.

Finalmente, a evolução para um modelo de atendimento bancário biométrico e criptográfico representa uma oportunidade única para modernizar o sector financeiro angolano. Esta transformação não só reduzirá fraudes e melhorará a segurança, como também promoverá a inclusão financeira e aumentará a eficiência operacional dos bancos.

Para que essa mudança de paradigma seja bem-sucedida, é essencial que o governo e as instituições financeiras trabalhem em conjunto na implementação de políticas e infra-estruturas que garantam a segurança e a acessibilidade desses serviços inovadores.

O futuro do atendimento bancário passa pela biometria e pela criptografia – e Angola tem a oportunidade de liderar esta transformação em África.

Denílson Adelino Cipriano Duro é Mestre em Governação e Gestão Pública, com Pós-graduação em Governança de TI. Licenciado em Informática Educativa e Graduado em Administração de Empresas, possui uma sólida trajectória académica e profissional voltada para a governação, gestão de projectos, tecnologias de informação, marketing político e inteligência competitiva urbana. Actua como consultor, formador e escritor, sendo fundador da DL - Consultoria, Projectos e Treinamentos. É autor de diversas obras sobre liderança, empreendedorismo e administração pública, com foco em estratégias inovadoras para o desenvolvimento local e digitalização de processos governamentais.

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5 Comentários

1 Comentário

  1. Bernardo Yundo

    25/03/2025 em 10:16 am

    Saudações calorosas

    Será uma mais valia para os cidadãos com esta iniciativa pois que os constrangimentos são inúmeros. Prova disso, recentemente minha Mãe teve o Bilhete caducado e posteriormente o cartão de Débito também expirado, e olha que, para a renovação do mesmo foi um luta tremenda, ficamos sem o que comer durante várias semanas, pois, o bilhete demorou 2 meses para que fosse lhe entregue, tudo porque eles alegavam a falta de sistema.Sempre que ela ia ao banco com o talao de renovacao argumentavam sempre que infelismente não seria possível com tal.

    • Miguel Diamaru

      25/03/2025 em 10:55 pm

      Os nossos governantes tem que adotar medidas para que este tema e
      Seja um facto! Porque não se acredita que ha bancos pra tratar um cartão multicaixa é necessário que o clienta apresente de novo uma declaração de wgwctividade! Que brincadeira! Tanta burocracia para que?

  2. Mbuco Garcia Paulo

    25/03/2025 em 3:57 pm

    Estaremos em um nível muito avançado no sistema Bancário.

  3. Clemente Antônio

    26/03/2025 em 4:56 am

    De facto é uma inovação tecnológica genial.
    Mas com base os procedimentos expostos, surgiu_me uma inquietação.
    Como será o processamento dos clientes que necessitarem fazer depósito para outras contas?
    Espero deferimento.

  4. Edson Da Silva Valentim

    26/03/2025 em 11:58 am

    O nosso problema é sempre o mesmo basta implementar e usar ambos, teremos mais alternâncias. E soluções imediatas.

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