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Luanda pode estar a redefinir sua agenda geopolítica com o parcial afastamento de Washington

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Ao longo da história, jamais Angola e os EUA haviam estreitado ‘tão intensamente’ as suas relações como conseguiram João Lourenço e Joe Biden, tendo o país se tornado na Nação “mais importante de África” para os norte-americanos. De forma inédita, Luanda e Washington cantaram ao mesmo coro e andaram de ‘mãos dadas’ em relação a vários assuntos internacionais, o que significou um esfriamento das relações de Angola com a Rússia e a China, seus parceiros históricos, obviamente um mais próximo que o outro. Entretanto, o voto por abstenção de Angola na ONU em relação à Resolução que visou condenar Moscovo face à guerra da Ucrânia, em Fevereiro último, está a ser visto como uma estratégia angolana de observar um novo caminho, tendo em conta o contexto e o futuro incerto a que o mundo se encontra.

Luanda pode estar a redefinir a sua agenda e perspectiva geopolítica, e é “importante que o faça”, de acordo com diferentes observadores, tendo em conta que os Estados Unidos da América, a maior potência mundial, e com quem mantém ou manteve relações de proximidade, parece ter encontrado outras prioridades na arena internacional com a entrada à presidência de Donald Trump.

O republicano já esteve na Casa Branca, entre 2017 e 2020, e nesse período, igual a si mesmo, Donald Trump desenvolveu pouca aproximação com os países africanos, mas quase ao fim do mandato, precisamente em 2019, a sua Administração anunciou um pacote de 70 biliões de dólares para investir no continente, e, nalguns sectores, fala-se que a referida Administração terá pressionado Angola a apoiar e reconhecer Juan Guaidó como presidente da Venezuela, contra Nicolas Maduro, mas terá alegadamente encontrado uma barreira intransponível da parte angolana.

A posição de Angola em relação à tensão política na Venezuela de então foi muito clara: “o Estado angolano não tem razões para deixar de reconhecer o Governo da Venezuela. É um governo legítimo e eleito e é com ele que temos relações diplomáticas. No que diz respeito à crise na Venezuela, Angola pugna pelo diálogo e parece que é esta posição é a que vai prevalecer. Com as últimas informações, com os últimos sinais, tudo indica que não há outra saída se não o diálogo”, disse na altura o então ministro das Relações Exteriores, Manuel Augusto.

Entretanto, Luanda e Washington cultivaram um estreitamento nas relações como nunca antes visto em toda história, com João Lourenço (Presidente de Angola) e Joe Biden (Presidente dos EUA).

O democrata foi investido como Chefe de Estado norte-americano em 2021, e até 2022, quando faltavam dois anos para o fim do seu mandato, intensificou uma relação extraordinariamente de proximidade com Angola. Ao que se apurou, Joe Biden já defendia a importância de conquistar Angola para a esfera norte-americana na década de 90, altura em que as relações entre os dois países eram antagónicas, por conta de ideologias políticas.

O desejo de Biden veio a ser uma realidade. Os Estados Unidos da América, enquanto Estado, e empresas norte-americanas privadas, fizeram significativos investimentos e empréstimos a Angola, sobretudo para os sectores da energia limpa, e telecomunicações. E ao nível de Defesa e Segurança houve igualmente vários desenvolvimentos, tendo o Presidente angolano manifestado o desejo de passar a equipar as Forças Armadas Angolanas com materiais militares da NATO, a maior aliança militar do mundo, liderada pelos EUA.

A parceria EUA-Angola não se limitou ao campo da segurança, economia e finanças, resvalou-se para a diplomacia. De Setembro de 2022 até pelo menos o fim do mandato de Joe Biden, em Janeiro deste ano de 2025, Luanda e Washington cantaram ao mesmo coro e andaram de ‘mãos dadas’ em relação a vários assuntos internacionais, o que significou um esfriamento das relações que o país mantinha com a Rússia e a China, seus parceiros históricos.

A Rússia foi a potência que ajudou Angola, por via do MPLA, o partido no poder desde a independência do país, na luta contra o colonialismo português. Apoiou igualmente o MPLA em todas as fases da guerra com a UNITA de Jonas Savimbi, que tinha o apoio expresso dos EUA. E a China, o gigante asiático, foi a Nação que deu a mão a Angola para a sua reconstrução depois da longa guerra fratricida, numa altura em que o mundo ocidental dava voltas para ajudar o país.

Portanto, embora não se tenha esquecido da história, e nem dado costas por completo aos seus aliados de longa data, Angola posicionou-se ao lado dos EUA em diferentes matérias internacionais.

E chegou mesmo, em Outubro de 2022, a votar a favor de uma Resolução na Organização das Nações Unidas (ONU) que condenou a Rússia por ter anexado províncias ucranianas.

Além da posição manifestada na ONU, Angola passou a criticar a opção russa de ter invadido a Ucrânia, e, à semelhança dos EUA, apelar o fim dos ataques contra as pessoas e infra-estruturas por parte da Rússia.

Irritado, Moscovo mandou para Luanda o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov, tendo este lembrado ao seu homólogo Teté António, de que as relações entre Angola e a Rússia não se “compadecem com questões de geopolíticas”. Porém, Angola manteve a posição, e, olho no olho, Téte António disse que o país se manifestava contra as mortes e significativa destruição do país invadido.

Por ora, com a saída de Joe Biden da Casa Branca, assiste-se a um esfriamento na relação entre Luanda e Washington, o que leva alguns especialistas a incentivarem Angola a reestruturar sua agenda geopolítica com base no contexto, e o recente voto por abstenção de Angola na ONU, no processo de votação de uma Resolução aprovada na Assembleia Geral da ONU, a 24 de Fevereiro deste ano, que condena a Rússia pela invasão da Ucrânia e subsequente guerra, está a ser vista como uma estratégia de Angola de observar um novo caminho a seguir na arena internacional.

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