Politica
Discurso de 40 páginas do Presidente gera debates dentro e fora do Parlamento
Com 40 páginas e mais de três horas de duração, o tradicional discurso sobre o Estado da Nação, proferido esta quarta-feira, 15, pelo Presidente da República, na Assembleia Nacional, é considerado o mais longo desde o início do mandato presidencial. Recordar que, no ano passado, o Chefe de Estado angolano discursou por duas horas.
Na cerimónia, que marcou a abertura do ano parlamentar 2025–2026, João Lourenço apresentou um balanço detalhado sobre os principais sectores da governação, como economia, saúde, educação, agricultura, combate à corrupção e reconciliação nacional, num tom analítico e exaustivo que dividiu opiniões.
Comparativamente aos discursos de 2023 e 2024, que duraram cerca de uma hora e meia e duas horas, respectivamente, o discurso deste ano superou todos os anteriores. O Presidente adoptou um tom reflexivo e carregado de dados, reforçando o balanço de sete anos de governação e projectando medidas para os próximos dois.
Os analistas Denílson Duro e Agostinho Sicato, consideram que o extenso pronunciamento teve também um carácter simbólico, inserido nas comemorações do 50.º aniversário da Independência Nacional, a celebrar-se a 11 de Nnovembro, e procurou transmitir uma mensagem de estabilidade e continuidade.
A duração do discurso gerou reacções imediatas dentro e fora do Parlamento. O deputado da UNITA, Sampaio Mucanda, defendeu publicamente a criação de uma lei que limite o tempo do discurso presidencial sobre o Estado da Nação, por considerar o formato actual “excessivo e cansativo”.
Para o parlamentar, “é urgente regulamentar o tempo de apresentação do discurso do Presidente da República”, propondo que a intervenção não ultrapasse uma hora, com vinte minutos adicionais apenas em casos excepcionais. Segundo Mucanda, o restante conteúdo poderia ser disponibilizado em formato digital ou publicado no Jornal de Angola, evitando discursos “longos, repetitivos e pouco dinâmicos”.
O deputado ironizou que, “enquanto não houver uma norma clara, o Presidente continuará a discursar como quem navega no oceano Atlântico”, sublinhando que se os deputados e grupos parlamentares têm tempo limitado nas suas intervenções, “o mesmo princípio deve aplicar-se ao Chefe de Estado”.
Fontes protocolares confirmam que não existe qualquer norma que defina a duração do discurso presidencial sobre o Estado da Nação. Trata-se de um acto solene e livre, previsto na Constituição, em que o Presidente apresenta à Nação o balanço da governação e as perspetivas para o novo ciclo político.
De acordo com registos parlamentares, o discurso deste ano superou o de 2020, que durou cerca de duas horas e 45 minutos, tornando-se assim o mais longo da era João Lourenço.