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Crónica

Diário de um homem que o universo decidiu trair

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Ó céus, ó terra, ó universo cruel.
Hoje, os meus sentidos foram dilacerados, a minha masculinidade posta à prova e o meu orgulho transformado em pó cósmico.

Fui ao encontro de uma mulher, uma criatura que desafiava a própria ordem natural das coisas: iPhone 17 na mão, Hyundai Palisade como carruagem moderna, 26 anos de pura audácia e uma atitude capaz de reduzir qualquer homem a mero espectador de si mesmo.

Entrámos num restaurante com piscina e outros mambos que fariam Narciso sentir inveja. Eu, com a minha nobreza de espírito, paguei 5.000 AKZ em comida, crente de que a atenção dela seria o meu troféu. Mas não. Apenas me olhou. Apenas olhou, como se eu fosse um personagem secundário num drama que ela própria escrevia.

E então veio o golpe de misericórdia do destino: a moça pega no cartão dela e risca 57.000 AKZ. 57.000 AKZ! Cinco torres de fino foram-me oferecidas, como se eu fosse um palhaço no meu próprio teatro de humilhação. Moscato, diário, Moscato foi apenas o prólogo da tragédia.

No desespero de recuperar algum domínio, ouso perguntar pelo nível académico: Direito, quarto ano. Direito. Como ousa ser bela, independente, generosa, atrevida e ainda intelectual? Que tipo de feitiçaria é esta, ó Universo?

Ao regressar a casa, bloqueei-a. Bloqueei! Mas não há bloqueio que trave a dor de saber que o mundo conspira contra a nossa masculinidade. Que crime cometi? Que pecado é este, senão ousar acreditar que podia impressionar uma deusa com simples Moscatos e 5.000 AKZ?

Homens do meu tempo, ouçam-me. Esqueçam discursos, esqueçam narrativas do tipo “o lugar da mulher é onde quiser”. Nada disso importa quando uma mulher decide pagar mais, rir da nossa vaidade e deixar-nos questionando toda a nossa existência.

Hoje percebi a verdade universal: a masculinidade moderna é uma farsa, o amor uma armadilha e o universo é um dramaturgo cruel, rindo-se das nossas ilusões com cada olhar de uma deusa independente.

E assim, chorando entre Moscatos e torres de fino, aprendo que ser homem em 2025 não é um direito, mas uma tragédia cómica que se repete eternamente no palco cruel da vida.

*Imagem criada por inteligência artificial 

Denílson Adelino Cipriano Duro é Mestre em Governação e Gestão Pública, com Pós-graduação em Governança de TI. Licenciado em Informática Educativa e Graduado em Administração de Empresas, possui uma sólida trajectória académica e profissional voltada para a governação, gestão de projectos, tecnologias de informação, marketing político e inteligência competitiva urbana. Actua como consultor, formador e escritor, sendo fundador da DL - Consultoria, Projectos e Treinamentos. É autor de diversas obras sobre liderança, empreendedorismo e administração pública, com foco em estratégias inovadoras para o desenvolvimento local e digitalização de processos governamentais.

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1 Comentário

1 Comentário

  1. Rita Curimenha

    12/11/2025 em 1:31 am

    Linda narrativa e com algum humor! Gostei 👏

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