Sociedade
Benguela: gados do Namibe e da Huíla agudizam fome em Chongoroi
A fome que a população das povoações do interior do município de Chongoroi, em Benguela, enfrenta, está a ser agudizada pelo gado dos municípios vizinhos da Quilengues, província da Huíla e do Camucuio, no Namibe.
A denúncia ao Correio da Kianda é de alguns camponeses da povoação de Cavingirite, na aldeia do Coporolo Sousa, há 60 quilómetros da sede municipal de Chongoroi, que dizem estar a passar por uma fome severa, em função da escassez de chuva nas várias localidades, do interior da província de Benguela.
A agricultura é a principal actividade económica da região. Alguns dos entrevistados afirmaram ao Correio da Kianda, que há pelo menos três meses que naquela região não se regista chuva, o que está a provocar seca dos produtos nos campos agrícolas.
“Há muita fome por causa dos bois que comem o cultivo. Você reclama lá eles te batem”, disse Joaquina Manuel, uma das entrevistas, mulher de 49 anos de idade, tendo acrescentado que toda a plantação, feita para a primeira época agrícola na região, secou.
Em função disso, a única alternativa tem sido a produção de carvão que é vendido aos comerciantes que com alguma frequência se fazem àquelas localidades a procura do produto para a sua comercialização nos principais centros de consumo.
Com a comercialização de carvão, o valor serve apenas para a compra de fuba, no valor de mil kwanzas.
“A mensagem que eu deixo ao nosso pai e nossa mãe é para eles nos apoiarem com a comida, a estrada, o posto [médico], que quando a pessoa está doente só vai lá”, disse Joaquina Manuel, referindo ao governo.
O sector da saúde também é uma preocupação, pois a unidade de saúde mais próxima da aldeia dista há vários quilómetros, uma distância que percorrem a pé.
Essas viagens, sublinhou, são feitas preferencialmente no período no noturno, mesmo estando doente, por conta do sol e do calor que se regista na região durante o dia.
Outro problema relatado é a falta de água para o consumo. Os entrevistados afirmam que partilham os mesmo poços com os bois para tirar água do consumo.
Por sua, António Socoleta Luis, outro morador da aldeia, descreve como sendo “péssima”, a vida que se vive naquela localidade do interior do município do Chongoroi, em função da carência de várias ordens que aquela população vive.
Quando questionado sobre a problemática da fome, António Luís, respondeu que “há muita fome porque a chuva não está a cair devidamente [….] e os pastores do Camucuio [Província do Namibe] todos trouxeram os seus bois nessa nossa área e para quem cultiva, os bois não têm pastor certo. Passam toda a noite a andar nas lavras das populações”.
Aquele agricultor afirmou que sempre que exigem dos proprietários do gado a retirar os animais na localidade, além das agressões de são vítimas, recebem como resposta, tratar-se de uma zona de pastorícia e não para cultivo.
“Os donos dos bois não são residentes da [nossa] área. São provenientes do Camucuio, que é a província da Huíla, mas preferiram tirar os seus gados lá para vir pastar aqui na nossa área, e os gados não são controlados. Passam toda a noite a andar, só recolhem de manhã, para ir tirar o leite e louco largam”, disse.
O administrador da Povoação de Canjivirite, Zeferino Candjive, reconheceu os vários problemas reportados, tendo sublinhado que a estiagem provocada pela falta de chuva constitui a principal preocupação.
“O milho que havia [sido] produzido na primeira época [de cultivo] secou todo. Os que estão aproveitar um pouco são aqueles que estão na margem do rio Coporolo. Nesta altura, a situação da população é preocupante”, afirmou.
Quando inquirido sobre soluções imediatas por parte do Governo para mitigar o problema da fome na região, Zeferido Candjive apontou a entrega de sementes do programa do Kwenda, como o exemplo.
“Na verdade, estão aí a abastecer as sementes e adubos para a segunda época, neste momento, para ajudar os pequenos agricultores e aqueles que têm pequenas cooperativas”, disse.
Caso a região continue a registar falta de chuva, depois de os camponeses procederem o lançamento dos produtos à terra, o administrador povoacional garante a existência de fórmulas para que o cultivo seja proveitoso, pois as cooperativas deverão adquirir moto-bombas, para irrigar as plantações.