Ligar-se a nós

Análise

Análise geopolítica do avanço da Índia na transição energética

Publicado

em

A conquista anunciada por Nova Délhi a 14 de Julho de 2025, de atingir 50% da sua capacidade instalada de geração de energia a partir de fontes não fósseis (242,8 GW de 484,8 GW), cinco anos antes da meta do Acordo de Paris para 2030, posiciona a Índia como um actor central na transição energética global. Este marco, impulsionado por políticas ambiciosas do governo de Narendra Modi, reflecte um compromisso estratégico com a sustentabilidade e reforça a influência geopolítica do país.

Atingir 50% de capacidade energética não fóssil, incluindo fontes como solar, eólica, hidrogénio verde e bioenergia, marca um avanço significativo para a Índia, a terceira maior economia da Ásia e um dos maiores emissores de gases com efeito de estufa. Programas como o PM-KUSUM (expansão da energia solar rural) e o PM Surya Ghar (incentivos à energia solar residencial) foram cruciais, elevando a capacidade renovável para 242,8 GW. A redução de 3% na dependência de carvão em 2025, aliada ao investimento em tecnologias emergentes como hidrogénio verde, demonstra uma abordagem integrada que combina inovação e escala. Este sucesso antecipado reforça a credibilidade da Índia em fóruns globais, como a COP, e posiciona o país como um modelo para economias em desenvolvimento que enfrentam o desafio de conciliar crescimento económico com sustentabilidade.

1. Implicações Geopolíticas
A conquista energética da Índia tem impactos profundos:
– Liderança Global no Clima: Ao cumprir a meta do Acordo de Paris com antecedência, a Índia consolida-se como líder entre os países em desenvolvimento, desafiando a narrativa de que nações emergentes priorizam crescimento económico em detrimento do ambiente.
– Autonomia Estratégica: A redução da dependência de combustíveis fósseis importados fortalece a segurança energética, diminuindo a vulnerabilidade a choques geopolíticos, como flutuações nos preços do petróleo.
– Influência no Sul Global: Como membro do BRICS e líder no Indo-Pacífico, a Índia inspira países da África e do Sudeste Asiático, promovendo parcerias em tecnologia verde e financiamento climático.
– Competição com a China: O avanço na energia limpa posiciona a Índia como concorrente da China, que domina a produção de painéis solares e baterias, reforçando a sua relevância em cadeias de abastecimento globais.

2. Desafios Estruturais
Apesar do progresso, a Índia enfrenta obstáculos:
– Dependência Residual de Carvão: Planos para adicionar 80 GW de capacidade a carvão até 2032 refletem a dificuldade de abandonar totalmente os combustíveis fósseis, devido à crescente demanda energética (projetada para duplicar até 2040).
– Desigualdade Regional: Estados como Gujarat e Rajasthan lideram a transição renovável, enquanto regiões mais pobres, como Bihar, enfrentam atrasos na infraestrutura.
– Financiamento: A expansão de energias renováveis exige investimentos massivos, estimados em 500 mil milhões de dólares até 2030, o que requer parcerias internacionais e políticas fiscais robustas.
– Impactos Sociais: A transição pode afetar comunidades dependentes da mineração de carvão, exigindo programas de requalificação profissional.

3. Implicações para a Diplomacia Climática
A conquista fortalece a posição da Índia em negociações climáticas, permitindo-lhe exigir maior apoio financeiro e tecnológico dos países desenvolvidos, conforme previsto no Acordo de Paris. A liderança de Modi na Aliança Solar Internacional e no G20 amplia a influência indiana, mas também aumenta a pressão para metas mais ambiciosas, como a neutralidade carbónica até 2070. Parcerias com os EUA, UE e Japão em tecnologias verdes podem acelerar a transição, mas exigem coordenação para evitar tensões comerciais, como as impostas por políticas protecionistas.

4. Conclusão
O marco de 50% de energia não fóssil consolida a Índia como uma potência climática emergente, projetando influência no Sul Global e desafiando a hegemonia chinesa em tecnologias verdes. Contudo, a dependência residual de carvão, desigualdades regionais e desafios financeiros limitam o ritmo da transição. Geopoliticamente, este avanço reforça a autonomia estratégica da Índia, mas exige uma diplomacia habilidosa para transformar conquistas domésticas em liderança global. Num mundo multipolar, a Índia demonstra que políticas visionárias podem redefinir equilíbrios de poder, desde que acompanhadas de soluções para os desafios estruturais.

Continuar a ler
Clique para comentar

Deixar uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Publicidade

Radio Correio Kianda

Publicidade




© 2017 - 2022 Todos os direitos reservados a Correio Kianda. | Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem prévia autorização.
Ficha Técnica - Estatuto Editorial RGPD