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Análise

O fim da hegemonia americana: ataque ao BRICS

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Hoje, está mais do que patente que os americanos perderam terreno na arena internacional, e pretendem recuperar esta presença a todo custo, porém, o fazem de forma errada, e continuam a fazer auto golos, ou seja, ao invés de negociar e dialogar, persuadir, insistem em usar a força, com sanções, taxas ou tarifas comerciais altas, impondo o todo seu poder, no intuito de dissuadir os seus oponentes, o que incentiva a multipolaridade.

Esta prática funcionou muito bem durante anos, quando o mundo vivia o braço de ferro, no período da Guerra Fria, entre os Capitalistas e Comunistas, que, desde a queda do Muro de Berlim em 1989, quando a cortina de ferro foi derrubada, culminou com o colapso do seu arque rival, a URSS que, depois deste episódio, passou a denominar-se Rússia, em função de vários territórios perdidos, perde de igual o Pacto de Varsóvia, o seu bloco militar, o que fragilizou de todas as formas aquela potência.

A guerra ideológica, foi vencida pelos americanos, que desde este período, expandiu a todo vapor a sua visão ocidental ao mundo, e, aqueles que estavam do lado russo, acabaram por se filiar as vontades americanas, como a própria Polónia que era um forte aliado russo, era um mais novo membro da NATO, o bloco militar ocidental. Não havia actores com poderes para se lhes opor, tinham tudo a seu favor, expandido os seus tentáculos em toda parte do mundo.

O livro The Rule of Law or The Law of Rulers, dos autores William Jannace e Paul Tiffany, narraram uma concepção sobre justiça que faz todos sentido: A justiça não é outra coisa senão a conveniência do mais forte, chegando mesmo a afirmar que, a justiça consiste em fazer o que é mais conveniente para o mais poderoso. Logo, foi assim que perdurou a vontade ocidental.

Contudo, vamos ao artigo: é um mundo em evolução para múltiplas ordens.

O fim da hegemonia americana, começa com a evolução das civilizações, como Huntigton já frisava, mas a evolução não nos ditames ocidentais, a China é um gigante sem benção ocidental, e ignorar este particular, tem sido o ponto fraturante nas sociedades ocidentais, que teimam em não acompanhar este crescimento. O mundo evoluiu, a interdependência económica aproximou os Estados, e, em função de vários desafios, começaram a questionar certas decisões, se de facto estavam a ser justas, e peculiarmente quem tirava maior proveito nos acordos.

Um dos maiores ganhos do mundo foi a internet, e, retirou algum poder de determinados Estados, que vendiam a ideia de serem os mais democráticos, os mais desenvolvidos e mais modernos, inclinando esta abordagem ao seu interesse, e, de outro modo, acusou os Estados não ocidentais de serem os atrasados, os maus, que são injustos, que precisam dos ocidentais para evoluir, o que viemos a descobrir que é falso, pois o Controlo pela Narrativa, já não está sob alçada ocidental, e o 5G criando pela China, tem aberto novas portas, outras perspectivas.

Hoje, por vários meios de comunicação, vários canais, através da internet, satélites e não só, conseguimos vislumbrar quem está certo e quem está errado, sem precisarmos de lupa, há mais livros, há mais abertura, e podemos fazer avaliações e críticas de determinados cenários, sem precisarmos de alto nível conhecimento. A perda de controlo pela narrativa, agudizida pelo poder da comunicação, impulsionada pela internet, retirou vários trunfos aos ocidentais que lutam de todas as formas para resgastar esse poder a força.

A ditadura das ideias perdeu pujança, por esta lógica, a Igualdade passou para Equidade e Fraternidade à Solidariedade, e o mundo tem caminhado neste sentido, não são os americanos, nem a Europa a determinar a Geopolítica e a Geoestratégia, a China, a Rússia, a Índia, e outros blocos têm estado a fazer frente ao poder hegemónico, gerando muitas dificuldades. O Irão, desafiou os americanos, atacou as suas posições em Qatar, atacou o centro de Israel, reflictamos.

O fim da hegemonia americana, não será de uma vez, serão acções continuadas, consistentes, com outros mercados, outras moedas, a BYD chinesa é um exemplo claro.
Mas não é simplesmente a internet e o controlo das ideias, muito menos o aspecto militar, porque se fizermos uma revisão ao passado, americanos já perderam em Cuba, na Ilha dos Porcos, já perderam na Somália, no Vietnam, e cabimentação orcamental nunca foi o problema.

O BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul), e com novos membros, como Arábia Saudita, Egipto, Emirados Árabes Unidos, Irão, Etiopia e tantos outros que ainda estão por formalizar, como a Indonésia, têm olhado para esta organização, como uma fuga a determinados negócios ocidentais, onde podem arbitrar com alguma liberdade, e, os americanos ao invés de sentar e definir uma melhor estratégia, abriu várias frentes, contra 70% do BRICS, e pior contra os seus próprios aliados. Há quem olhe como uma grande investida, mas nós não, esta guerra de tarifas vai fazer procurar mercados alternativos e vai enfraquecer América, quer em termos de alianças, quer em termos financeiros.

Lembremo-nos que, no BRICS, tem os países mais populosos do mundo e, concomitantemente, estes oferecem mãos de obras mais baratas no mundo, devido ao excedente populacional, o que não favorece os ocidentais, acrescendo a Crise de Liderança que afecta todos os Estados Ocidentais, primeiros ministros na Europa que não terminam mandatos por não passarem nas moções de Confiança, em América, depois de Barack Obama, tem tido lideranças aquém das expectativas, com muitas incertezas, que demostram não respeitar as regras do jogo, Trump no primeiro mandato, criou uma guerra comercial com a China, saiu dos Acordos de Paris sobre o clima, abandonou os acordos nucleares onde Obama já tinha um bom acordo com o Irão. Joe Biden incentivou uma guerra entre a Rússia e Ucrania, que não conseguiu terminar com a derrota do adversário, e a Rússia contra toda NATO, tem estado a resistir. Trump volta e mais decidido em mudar o jogo a seu favor, – infelizmente o mundo já não é o mesmo, os Estados conseguem contornar sanções, fazem trocas comerciais com as suas moedas, sem dólares.

América vai pondo em causa a sua hegemonia, quando: tem lideranças que não entenderam os desafios dos tempos; quando atacam Estados aliados com tarifas comerciais e imprimem força; quando sabe que muitos dos seus produtos são manufacturados em países asiáticos que têm de obra barata; quando ataca países que passam toda a vida a estudar como contornar América em função do seu modelo de actuação; quando pensa que é o único a determinar o início e fim dos conflitos; quando as suas sanções já não afectam os visados; quando não percebe s as outras economias estão focadas em criar mais bens e serviços não em conflitos.

A Hegemonia americana está a gotejar, atacando tudo e todos para os atrasar, mas estes, se unirão mais, se vão proteger uns aos outros, e com as dificuldades sairão mais capazes. A hegemonia vai cabo abaixo, porque os maiores empregos continuarão a ser na Índia, na China, no Brasil, e América terá muitas dificuldades para travar estas investidas, tem perdido posição dia pós dia, nas infraestruturas, nas cooperações, na sua moeda (dólar), que muitos países já consideram não ser necessária para certas transações. O mundo já não é o mesmo, os outros Estados cresceram, gizaram estratégias, metas, e vão ultrapassando barreiras impostas com outras alternativas que o mercado internacional oferece.

As múltiplas ordens começam, quando Estados que compõem o BRICS, abrem bancos, transacionam em suas moedas locais entre si, e tencionam ter moeda única, e já não tratam somente comércio como se viu na última reunião no Brasil, já olham para a diplomacia, para os crimes internacionais, apresentam repúdio e brevemente vão abrir um parlamento, para decisões políticas, desafiando os americanos que não consegue acompanhar esta carruagem.

Quando a Rússia sem opções, invade a Ucrânia, luta contra NATO, e mesmo assim não cede, a sua economia continua em vigor, e vai firmar acordos militares com a Coreia do Norte e Vietnam, contorna sanções, são indicadores de uma nova ordem, que não precisa de avaliação para tomar decisões geoestratégicas. A posição da China no âmbito comercial, é outra dificuldade ao ocidente, não há país com o nível de investimentos como a China, interliga cidades distantes, países, encurta viagens de dias em horas, monta mais de 50% dos carros eléctricos do mundo com a BYD, em tempo record, que são mais baratos, com fábricas modernas, e não quer perder tempo com conflitos, e a sua geografia ajuda, está longe do ocidente.

A Índia é o soft power, alguma similitude com o Brasil e África do Sul, e todos vão continuar a sofrer represálias americanas, é olhar como Cyril Ramaphosa foi tratado na Casa Branca, e como o Brasil é molestado, usando a narrativa de que é em função das injustiças contra Jair Bolsonaro, devido a Lula da Silva ter impulsionado moedas alternativas, e o PIX, mas atacar directamente a Índia é uma faca de dois gumes, Naredra Modi, tem estado no muro de forma inteligente.

O BRICS estão a usar todas as suas ferramentas a disposição, para neutralizar o gigante americano, que entendendo esta questão, prefere enfraquecer o bloco com ataques comerciais, mas ao invés de os destruir, os vai construir, os vai obrigar a serem resilientes. O império acabou, o fim começou, e quanto mais percebem, e contra atacam de forma a os atrasar, mais enfraquece América, porque mesmo os aliados estão a buscar novas alternativas.

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