Ligar-se a nós

Análise

Por que Angola é a opção prática para representar África no Conselho de Segurança da ONU?

Publicado

em

O debate sobre a reforma do Conselho de Segurança deixou de ser simbólico. A própria ONU reconhece que é “inconcebível” que África, com mais de um milhar de milhão de habitantes e rumo a 1/4 da população mundial até 2050, continue sem assentos permanentes. A legitimidade do pedido africano é irreversível. Mas a questão central é outra: qual país africano serve melhor os interesses do continente e da estabilidade global num assento permanente? É aqui que Angola se destaca.

Angola combina estabilidade relativa, trajectória de recuperação económica, capacidade de mediação regional e uma posição geoestratégica no Golfo da Guiné. É um país que consegue dialogar com todos os grandes blocos, EUA, UE, China, Rússia, sem se tornar num actor polarizador. Essa flexibilidade é um activo crucial num Conselho marcado por rivalidades e vetos.

Os factos confirmam esta leitura. No dossiê dos Grandes Lagos, Angola foi actor central nas negociações sobre a crise na RDC, facilitando reuniões decisivas e assumindo funções de mediação com resultados reconhecidos internacionalmente. Na cimeira UA–UE, realizada em Luanda em Novembro de 2025, o Presidente João Lourenço presidiu debates políticos de alto nível entre os dois blocos, demonstrando a capacidade de Angola para gerir agendas multilaterais sensíveis com diplomacia e firmeza. Isto não é protocolo: é prática real de governação internacional.

Comparativamente, Angola apresenta vantagens objectivas. A Nigéria enfrenta fragilidades severas de segurança interna que comprometem a previsibilidade necessária a um membro permanente. A África do Sul, embora poderosa, é por vezes vista como excessivamente polarizadora em matérias sensíveis na ONU. O Egipto tem peso estratégico, mas a sua situação económica e questões de governação levantam dúvidas sobre independência e estabilidade política de longo prazo. Angola, pelo contrário, representa um “custo político” baixo para múltiplos actores: é vista como pragmática, confiável e moderada.

Angola também oferece utilidade geopolítica directa. A segurança marítima no Golfo da Guiné é essencial para o comércio global, e o país ocupa uma posição central nesse corredor estratégico. Na energia, Angola é um actor consolidado no petróleo e gás, e emergente na transição energética africana. Diplomática e culturalmente, representa ainda a lusofonia, um espaço sub-representado nas instituições multilaterais. É ponte entre continentes, línguas e modelos políticos, num sistema internacional que precisa de pontes, não de muros.

As críticas previsíveis têm resposta. Angola não é a maior economia africana? A cadeira permanente não é um concurso de população ou PIB; é uma escolha estratégica sobre quem oferece estabilidade, mediação e diálogo. Há desafios de governação? Sim, como em praticamente todos os candidatos africanos, mas Angola tem mostrado evolução institucional. Falta visibilidade internacional? A série de cimeiras, mediações, acordos e a liderança na UA mostram exactamente o contrário: Angola tornou-se actor indispensável.

África precisa de uma voz permanente capaz de dialogar, mediar e construir consensos num Conselho frequentemente paralisado. Angola não é apenas uma boa opção. É a opção prática, estável e geopoliticamente útil para representar o continente num dos centros de decisão mais importantes do mundo.

Continuar a ler
Clique para comentar

Deixar uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Publicidade

Radio Correio Kianda

Publicidade




© 2017 - 2022 Todos os direitos reservados a Correio Kianda. | Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem prévia autorização.
Ficha Técnica - Estatuto Editorial RGPD