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O renascimento empresarial de Angola: realidade ou retórica diplomática

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1. Introdução: O Tempo de Angola é Agora

Angola está diante de uma janela de oportunidade sem precedentes. Os ventos da diplomacia económica sopram com força sobre África e, pela primeira vez em muito tempo, o país é destacado internacionalmente como exemplo de transformação empresarial e económica. As palavras do diretor do Gabinete de Assuntos Africanos do Departamento de Estado norte-americano, Troy Fitrell, proferidas na 17.ª Cimeira Empresarial EUA–África, em Luanda, confirmam: “Angola está numa trajectória espantosa”, destacou, acrescentando que “o continente africano já não é o mesmo de há 25 anos e as relações também evoluíram” (Novo Jornal, 2025).

Esse reconhecimento externo reafirma o que os empresários angolanos mais visionários já intuíam: o futuro da economia nacional está nas mãos do sector privado local, da inovação e da inteligência de quem transforma dificuldades em oportunidades.

2. O Capital Africano a Caminho da Autonomia

Autores como Achille Mbembe (2016) defendem que a verdadeira libertação do continente africano passará pela sua autonomia económica: “só será verdadeiramente livre quem conseguir construir os seus próprios dispositivos de soberania produtiva”. Em África, países como Nigéria, África do Sul, Marrocos e Quénia já demonstraram que é possível fomentar grandes conglomerados empresariais, mercados dinâmicos e bilionários africanos com impacto global.

Angola, apesar de ainda dar os seus primeiros passos neste campo, tem potencial para se tornar num actor empresarial de referência, tal como evidenciado pelos Estados Unidos ao trazerem quase mil empresários para dialogar com o sector privado angolano durante a cimeira de Luanda. Fitrell deixou claro: “As nossas embaixadas trabalham para vocês, sector privado. Se os nossos embaixadores não nos trazem acordos, então não estão a cumprir o seu papel.” (Novo Jornal, 2025).

3. Angola na Vanguarda da Diplomacia Económica Global

O discurso de Fitrell confirma uma mudança significativa no posicionamento geopolítico e económico de Angola. Os EUA declararam que pretendem uma diplomacia “focada nos negócios”, priorizando infraestruturas modernas, digitalização e parcerias com empresários locais.

“Precisamos de investimento maciço em infraestruturas. Normalmente pensamos em estradas, redes eléctricas, mas não podemos esquecer o digital”, disse Fitrell, reforçando a ideia de que a transformação económica moderna exige uma arquitectura digital segura e funcional (Novo Jornal, 2025). Angola, que já possui iniciativas de modernização digital em curso (como o Plano Nacional de Banda Larga e o uso crescente de fintechs), está bem posicionada para ser o hub de negócios e inovação da África Austral.

4. O Desafio da Emancipação Empresarial Interna

No entanto, a emancipação do empresariado angolano não será completa se se limitar a investimentos externos ou à diplomacia comercial. Ela deve ser inclusiva, territorialmente distribuída e culturalmente adaptada. Angola precisa de investir:

No acesso democrático ao crédito produtivo;

Na formalização progressiva do sector informal;

Na capacitação técnica e educacional de empreendedores jovens e mulheres;

E na descentralização do investimento empresarial para além de Luanda.

O economista ganês George Ayittey já alertava: “A África não é pobre; é mal administrada. O seu maior recurso é o capital humano e a criatividade dos seus povos” (Africa Unchained, 2005). Em Angola, esse capital existe, mas precisa ser mobilizado, apoiado e valorizado.

5. Oportunidade Histórica: Da Retaguarda ao Protagonismo

O reconhecimento dos EUA é uma oportunidade histórica que Angola não pode desperdiçar. Ao reforçar que o modelo de negócios “à americana” baseia-se em tecnologia, inovação e capital humano, Fitrell sublinha o que o país precisa internalizar: uma economia não se desenvolve com assistencialismo, mas com competência, mérito e inclusão.

“Temos um objectivo comum e estamos juntos. Esta é uma grande oportunidade – vamos fazer negócios esta semana e nos próximos anos” (Novo Jornal, 2025). Este compromisso deve ser um sinal claro para o empresariado nacional: é tempo de deixar para trás o modelo extrativo e centralizador, e caminhar rumo a uma economia de base produtiva, digital e empreendedora.

6. Conclusão: O Futuro é Feito com Empreendedores Locais

Angola tem tudo para ser um dos países africanos mais empresariais: recursos naturais, juventude empreendedora, localização estratégica e abertura diplomática crescente. Mas só será verdadeiramente emancipada se valorizar o seu próprio empresariado, investindo em políticas públicas que removam os obstáculos e promovam a concorrência justa.

Como refere Paul Collier (2007), “as nações pobres não precisam de piedade, precisam de instituições que funcionem para os que querem produzir”. Este é o tempo de fazer Angola funcionar para os seus empreendedores, para que o país não seja apenas um território de negócios estrangeiros, mas um berço de gigantes económicos africanos.

Denílson Adelino Cipriano Duro é Mestre em Governação e Gestão Pública, com Pós-graduação em Governança de TI. Licenciado em Informática Educativa e Graduado em Administração de Empresas, possui uma sólida trajectória académica e profissional voltada para a governação, gestão de projectos, tecnologias de informação, marketing político e inteligência competitiva urbana. Actua como consultor, formador e escritor, sendo fundador da DL - Consultoria, Projectos e Treinamentos. É autor de diversas obras sobre liderança, empreendedorismo e administração pública, com foco em estratégias inovadoras para o desenvolvimento local e digitalização de processos governamentais.

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