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Análise

O regresso de Joseph Kabila a Goma: um risco calculado para a paz na RDC

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A República Democrática do Congo enfrenta uma escalada de violência no leste, com o M23, apoiado pelo Ruanda, a controlar Goma e Bukavu, causando 7.000 mortos e 1,2 milhões de deslocados desde janeiro de 2025. O Senado congolês, dominado pela coligação de Tshisekedi, votou (88-5) pelo levantamento da imunidade de Kabila, acusando-o de crimes de guerra e traição, com base em alegadas ligações ao M23, incluindo testemunhos de ex-aliados como Éric Nkuba. A suspensão do seu partido, o PPRD, e a apreensão dos seus bens intensificam a perseguição política.

Kabila, que esteve em exílio autoimposto na África do Sul desde 2023, regressou a Goma após um discurso crítico a Tshisekedi, denunciando um “declínio da democracia” e a má governação. A sua chegada, saudada pelo M23, levanta questões sobre as suas intenções: mediação genuína ou tentativa de recuperar influência política?

Implicações Geopolíticas

Polarização Interna: A presença de Kabila em Goma, um reduto rebelde, desafia directamente o governo de Kinshasa. A sua retórica, que acusa Tshisekedi de ditadura, pode mobilizar apoiantes do PPRD, especialmente no Katanga, mas também arrisca inflamar tensões, com potencial para protestos ou violência. A percepção de que Kabila colabora com o M23 reforça a narrativa de Tshisekedi, que o acusa de orquestrar uma insurreição, minando esforços de paz.

Impacto Regional: A crise na RDC afecta a estabilidade dos Grandes Lagos, onde Angola desempenha um papel mediador. O apoio do Ruanda ao M23, negado por Kigali, complica iniciativas como o acordo de Washington (abril de 2025) e as negociações de Doha, adiadas em abril devido a exigências mútuas. A chegada de Kabila a Goma pode enfraquecer a posição de Tshisekedi nas negociações, enquanto fortalece a influência do Ruanda, que vê no ex-Presidente um potencial aliado táctico.

Desafios à Mediação: Kabila, com 18 anos de experiência governativa e relações regionais, incluindo com o Ruanda, pode ter peso em negociações. Contudo, a sua credibilidade é questionada, dado o historial de corrupção e fraudes eleitorais durante o seu mandato. A proposta de diálogo nacional, apoiada por figuras como Moïse Katumbi, é uma alternativa viável, mas exige que Kabila actue em cooperação com Kinshasa, algo improvável face à hostilidade mútua.

Conclusão

O regresso de Kabila a Goma é um movimento de alto risco que pode tanto abrir portas para a paz como aprofundar a crise congolesa. A sua capacidade de mediar depende de uma abordagem transparente e colaborativa, que contrarie as acusações de traição. Angola, com o seu historial de mediação, deve liderar esforços regionais para garantir que a iniciativa de Kabila não comprometa a estabilidade. A RDC precisa de um diálogo nacional inclusivo para superar divisões e enfrentar o M23, evitando que a crise se torne um conflito regional de proporções catastróficas.

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