Opinião
Município do Lubango às escuras: até quando a cidade vai ignorar a energia sustentável?
A cidade do Lubango, capital da província da Huíla, é frequentemente reconhecida pelo seu potencial turístico, pela sua beleza natural e pelo seu clima ameno. No entanto, um dos desafios que permanece sem solução definitiva é a precariedade da iluminação pública municipal, um problema que impacta a segurança, a economia e a qualidade de vida da população.
No século XXI, quando o mundo caminha para a transição energética e para a sustentabilidade, é inaceitável que cidades estratégicas como o Município do Lubango continuem dependentes de um sistema eléctrico convencional ineficiente e altamente vulnerável. Esta dependência exclusiva da rede nacional de electricidade, gerida pela ENDE, revela as suas fragilidades através de constantes cortes de energia, elevados custos de operação e impacto ambiental significativo.
A pergunta que se impõe é: por que motivo o Lubango ainda não adoptou um modelo de iluminação pública baseado em fontes de energia alternativa, como a energia solar e a energia eólica? Será por falta de vontade política? Por ausência de conhecimento técnico? Ou simplesmente pela inércia administrativa que trava soluções inovadoras?
Enquanto estas questões permanecem sem resposta, os cidadãos enfrentam diariamente os efeitos nefastos da falta de iluminação pública eficiente, que vão desde o aumento da criminalidade até à redução das actividades económicas nocturnas. O mais preocupante é que existem soluções acessíveis e viáveis, já testadas em outros países africanos, que poderiam transformar o Município do Lubango num exemplo de cidade sustentável e moderna.
A Iluminação Pública Como Pilar da Segurança e do Desenvolvimento Urbano
A iluminação pública não é um luxo, mas sim uma necessidade fundamental para qualquer cidade moderna. Estudos demonstram que uma infraestrutura de iluminação bem distribuída reduz significativamente os índices de criminalidade, promove a mobilidade urbana e impulsiona a economia local. Segundo Pease (1999), a implementação de sistemas eficientes de iluminação pública pode reduzir a criminalidade em até 30%, ao desencorajar actos ilícitos e aumentar a percepção de segurança da população.
No Município do Lubango, bairros como Tchioco, Mitcha, Nambambi e João de Almeida “Bula Matady” estão entre os mais afectados pela falta de iluminação, tornando-se zonas vulneráveis para assaltos, furtos e outros crimes. Nas avenidas principais, como a 4 de Fevereiro e a Hoji-Ya-Henda, a escuridão compromete a segurança dos peões e dificulta a circulação nocturna.
Além disso, a precariedade da iluminação também afecta negativamente o turismo e o comércio nocturno, reduzindo o fluxo de visitantes em locais emblemáticos como a Fenda da Tundavala, o Cristo Rei e o Parque da Nossa Senhora do Monte. De acordo com Jacobs (1961), a infraestrutura urbana bem iluminada estimula o turismo e o comércio nocturno, ampliando as oportunidades de emprego e renda para a população local.
O Município do Lubango Tem Potencial Para Energia Sustentável: O Que Falta?
A cidade possui condições climáticas e geográficas favoráveis para a implementação de soluções energéticas alternativas, como a energia solar e eólica. De acordo com o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD, 2020), o Município do Lubango recebe mais de 2.500 horas de sol por ano, o que a torna ideal para um projecto de iluminação pública baseada em energia solar fotovoltaica.
Além disso, a altitude da cidade, localizada a 1.700 metros acima do nível do mar, proporciona ventos constantes na região da Serra da Leba, permitindo a instalação de mini-turbinas eólicas para alimentar a rede de iluminação pública. Segundo Smil (2017), cidades que investem em energia eólica conseguem reduzir a dependência da rede eléctrica convencional em até 30%, tornando-se mais resilientes e sustentáveis.
No entanto, apesar deste potencial evidente, a administração municipal ainda não tomou medidas concretas para integrar estas tecnologias na infraestrutura da cidade. Algumas experiências internacionais, como as implementações em Kigali (Ruanda) e Nairobi (Quénia), demonstram que a iluminação pública baseada em energia renovável pode reduzir custos operacionais em até 60% (Stern, 2006).
Se outras cidades africanas com menos recursos conseguiram avançar, por que razão Lubango permanece refém de um sistema ineficiente?
Soluções Sustentáveis Para a Iluminação Pública no Município do Lubango
A modernização da iluminação pública no Lubango exige um plano estratégico de transição energética, baseado em parcerias público-privadas (PPP) e financiamento internacional. Algumas medidas essenciais incluem:
1. Instalação de Postes de Iluminação Solar
✔️ Substituir progressivamente os postes eléctricos convencionais por postes solares fotovoltaicos.
✔️ Priorizar zonas de alto risco de criminalidade e áreas turísticas estratégicas.
✔️ Implementar um projecto-piloto em bairros periféricos para testar a viabilidade antes da expansão.
2. Mini-Turbinas Eólicas na Serra da Leba
✔️ Instalar mini-turbinas eólicas para alimentar sistemas de iluminação pública.
✔️ Integrar o projecto numa parceria público-privada, garantindo financiamento sustentável.
3. Pavimentos Cinéticos Para Produção de Energia
✔️ Aplicação de pisos geradores de energia em praças e mercados movimentados, capturando a energia dos passos dos cidadãos.
✔️ Utilização da energia gerada para alimentar semáforos e iluminação de espaços públicos.
4. Criação de um Fundo Municipal para Energias Renováveis
✔️ Captação de recursos junto a instituições como o BAD e o Fundo de Energia Sustentável para África (SEFA).
✔️ Incentivos fiscais a empresas que investirem em energia sustentável para espaços públicos.
5. Campanhas de Sensibilização e Educação Energética
✔️ Programas educativos sobre energias renováveis nas escolas do município.
✔️ Campanhas comunitárias para incentivar a participação activa dos cidadãos na transição energética.
Conclusão: O Futuro do Município do Lubango Depende de Decisões Presentes
Lubango não pode continuar às escuras enquanto outras cidades africanas avançam rumo à sustentabilidade. A adopção de energias renováveis para iluminação pública não é apenas uma necessidade, mas uma oportunidade estratégica para transformar o município num modelo de desenvolvimento sustentável.
A cidade tem potencial para se tornar um exemplo em Angola, mas essa transformação depende de liderança visionária e compromisso político. O investimento em soluções inovadoras trará benefícios a longo prazo, reduzindo os custos municipais, promovendo a segurança e impulsionando o turismo e a economia local.
A pergunta final é: o que está a impedir que o Município do Lubango avance na direcção certa? A resposta está nas decisões tomadas hoje, que determinarão se a cidade continuará às escuras ou se finalmente brilhará com energia sustentável.