Opinião
Gestão em Angola: luxo ou necessidade?
A qualidade da gestão nas instituições públicas e privadas é um factor determinante para o desenvolvimento socioeconómico de qualquer nação. Em Angola, onde os desafios da governação, da administração pública e da gestão empresarial são evidentes, a necessidade de profissionais qualificados em Administração e Gestão torna-se imperativa. O país enfrenta dificuldades estruturais, como corrupção, burocracia excessiva, ineficiência na alocação de recursos e baixa competitividade empresarial.
Contudo, a necessidade de uma gestão eficaz não se restringe apenas ao sector público e empresarial. Organizações da sociedade civil, igrejas e até instituições académicas também enfrentam desafios administrativos que impactam directamente a qualidade dos serviços prestados à comunidade. Muitas dessas organizações operam sem uma estrutura de governação eficiente, o que leva à má gestão de recursos, falta de transparência e dificuldades na sustentabilidade das suas actividades.
A profissão de Administrador e Gestor é, muitas vezes, subestimada, sendo vista como uma área genérica ou acessível a qualquer profissional sem formação específica. No entanto, um gestor qualificado desempenha um papel essencial na construção de instituições fortes, sustentáveis e competitivas. Como destaca Drucker (1999), a administração eficaz não se trata apenas de executar tarefas, mas de transformar organizações e gerar impacto positivo na sociedade.
Diante deste contexto, este artigo busca destacar a importância do curso de Administração e Gestão no actual cenário socioeconómico de Angola, sustentando-se em teorias da administração e exemplos práticos que demonstram a necessidade de profissionais qualificados para impulsionar o desenvolvimento do país.
1. O Papel da Administração na Eficiência Institucional
A administração é a ciência que estuda os processos organizacionais, visando a optimização dos recursos e a melhoria da tomada de decisões. Peter Drucker (1999), considerado o pai da administração moderna, afirma que “a eficiência é fazer correctamente as coisas, enquanto a eficácia é fazer as coisas certas”. Este princípio evidencia a necessidade de formar administradores com visão estratégica para melhorar a qualidade das instituições angolanas.
A realidade de Angola demonstra que muitas instituições enfrentam desafios de gestão financeira, recursos humanos, planeamento estratégico e inovação. A carência de gestores capacitados tem levado a um uso ineficiente dos recursos públicos e privados, impactando negativamente a economia e o desenvolvimento sustentável do país.
Henry Mintzberg (1973) apresenta uma visão crítica ao modelo tradicional de gestão e destaca que “o gestor eficaz é aquele que equilibra o papel de líder, negociador, empreendedor e planeador estratégico”. Este conceito reforça a necessidade de gestores com habilidades multidisciplinares para lidar com a complexidade do ambiente institucional angolano.
No sector privado, a ausência de uma administração profissionalizada impede muitas empresas de crescerem e se tornarem competitivas. Muitas pequenas e médias empresas (PME) angolanas enfrentam dificuldades na gestão de processos, o que limita a sua capacidade de expansão e inovação. No sector público, os desafios incluem burocracia excessiva, desperdício de recursos e falta de transparência, factores que comprometem a eficiência da máquina estatal e a qualidade dos serviços prestados à população.
2. Administração e Gestão como Factores de Competitividade Económica
No sector empresarial, o curso de Administração e Gestão é fundamental para preparar profissionais que possam impulsionar a competitividade das empresas angolanas. Michael Porter (1985) argumenta que a vantagem competitiva das empresas está ligada à sua capacidade de inovar e adaptar-se ao mercado. No contexto angolano, onde muitas empresas carecem de estratégias eficazes, a formação em gestão pode contribuir para:
● Melhoria na gestão de recursos e inovação organizacional;
● Adopção de tecnologias e práticas de governação corporativa;
● Desenvolvimento de lideranças empresariais que impulsionam a economia local;
● Aprimoramento da capacidade de análise e tomada de decisões baseadas em dados.
A ausência de gestores qualificados tem sido um dos entraves para a internacionalização das empresas angolanas e para a sua inserção competitiva no mercado global. Portanto, é necessário que as universidades fortaleçam a formação de administradores com competências estratégicas, visão empreendedora e domínio de tecnologias de gestão.
Além do impacto na competitividade empresarial, a administração eficiente também influencia positivamente o ambiente de negócios em Angola. A falta de um planeamento estratégico governamental alinhado às necessidades do sector privado tem dificultado a atracção de investimentos estrangeiros e o crescimento sustentável das empresas nacionais.
4. Gestão Eficiente de Organizações da Sociedade Civil, Igrejas e Instituições Académicas
A importância da administração estende-se também para organizações da sociedade civil, igrejas e instituições académicas, que desempenham um papel essencial no desenvolvimento social e humano. No entanto, muitas dessas entidades carecem de uma gestão profissionalizada, o que compromete a sua eficiência e impacto.
Organizações da sociedade civil, como ONG e associações comunitárias, enfrentam desafios na gestão de recursos financeiros, elaboração de projectos sustentáveis e monitorização do impacto social. A falta de administradores qualificados leva a problemas como:
■ Má gestão de doações e financiamentos;
■ Falta de planeamento estratégico para sustentabilidade a longo prazo;
■ Dificuldades na prestação de contas e na transparência das acções.
No contexto das igrejas e instituições religiosas, a administração também desempenha um papel crucial. Muitas congregações movimentam grandes quantidades de recursos financeiros e gerem projectos sociais, educativos e assistenciais. A ausência de uma gestão profissional pode resultar em desperdício de recursos, falta de transparência e dificuldades na expansão dos projectos sociais.
Já nas instituições académicas, uma administração eficiente é essencial para garantir a qualidade do ensino e da pesquisa. A falta de planeamento estratégico e de uma gestão moderna nas universidades angolanas tem impactado negativamente a formação de profissionais qualificados para o mercado de trabalho.
4. Administração Pública e o Desenvolvimento Sustentável
A administração eficiente não se restringe ao sector privado. No sector público, um dos principais desafios de Angola tem sido a melhoria da qualidade dos serviços públicos e da transparência na gestão governamental. Segundo Chiavenato (2003), “a administração pública eficiente é aquela que consegue alinhar os interesses do Estado com as necessidades da população”.
A formação de gestores públicos qualificados poder contribuir para:
Redução da burocracia e maior eficiência na prestação de serviços;
Melhoria da gestão dos recursos públicos e combate à corrupção;
Promoção de políticas públicas eficazes para o desenvolvimento socioeconómico;
Implementação de ferramentas de governação electrónica para modernizar a administração pública.
A adopção de boas práticas de governação e gestão, fundamentadas na ética, transparência e eficiência, é essencial para garantir que as políticas públicas tenham impacto real na vida dos cidadãos.
Finalmente, diante do actual cenário socioeconómico de Angola, torna-se evidente que o curso de Administração e Gestão é essencial para a formação de profissionais capacitados a enfrentar os desafios da gestão institucional e empresarial. O país precisa de líderes e gestores que promovam a eficiência administrativa, a competitividade empresarial e a governação pública transparente.
Sem administradores bem preparados e valorizados, Angola continuará a enfrentar crises de gestão, desperdício de recursos e dificuldades em instituições públicas, privadas, religiosas e académicas. Portanto, é urgente que a sociedade reconheça o papel estratégico da Administração e assegure que os seus profissionais tenham as condições necessárias para salvar o país da ineficiência e impulsionar o seu progresso.