Opinião
Este ano não exagerei, apenas observei com atenção
Confesso. Este foi o ano em que me sentei confortavelmente na cadeira do comentador, ajustei o microfone, respirei fundo e decidi analisar Angola como quem disseca uma ferida aberta, com cuidado, mas sem anestesia. Falei de política, economia, sociedade, governança, poder, falhas estruturais e promessas recicladas. Umas vezes com dados, outras com ironia mordaz, e muitas vezes com aquela franqueza que alguns chamam coragem e outros insistem em classificar como exagero.
Peço desculpas, sim. Pelas vezes em que a metáfora foi mais afiada do que o necessário. Pelas análises em que a paciência ficou em casa e a urgência falou mais alto. Pelos momentos em que podia ter sido mais incisivo e, ironicamente, optei por ser pedagógico. Afinal, nem sempre o bisturi corta onde devia, mas ainda assim revela o problema.
Foi um ano em que a política tentou convencer-me de que tudo estava a melhorar, enquanto os números insistiam em discordar. A economia apresentou-se de fato e gravata nos discursos oficiais, mas apareceu de chinelos na vida real. E a sociedade, essa, continuou a demonstrar uma capacidade impressionante de resistir, adaptar-se e ironizar a própria sobrevivência. Analisei tudo isso com a seriedade possível e o sarcasmo necessário, porque há realidades que só a ironia consegue traduzir sem provocar lágrimas.
Entre programas de rádio, podcasts e outras plataformas de comunicação, vivi momentos extraordinários. Debates intensos, discordâncias civilizadas, concordâncias perigosas e silêncios mais reveladores do que muitas respostas. Houve microfones abertos, ideias fechadas, argumentos sólidos e outros que só se sustentavam com fé e boa vontade. Ainda assim, foi um ano espectacular. Porque comunicar também é isso, provocar reflexão, mesmo quando o desconforto se torna inevitável.
Aos profissionais com quem trabalhei, jornalistas, produtores, técnicos, apresentadores, convidados e ouvintes atentos, deixo o meu sincero agradecimento. Obrigado pela confiança, pela paciência, pela coragem de manter o debate vivo e, sobretudo, por não desligarem o microfone quando a verdade se tornava inconveniente. Trabalhar convosco foi um exercício diário de cidadania, pensamento crítico e, em alguns momentos, de contenção verbal.
Que este Natal seja um tempo de pausa estratégica, não apenas de celebração. Que o ano de 2026 seja próspero, menos retórico e mais eficaz. Que nos traga políticas públicas com substância, uma economia com sentido humano e uma sociedade cada vez mais consciente do seu poder. Da minha parte, prometo continuar a analisar, a questionar e, quando necessário, a exagerar, mas sempre com intenção pública e responsabilidade intelectual.
Porque, se há algo que este ano provou, é que pensar em voz alta ainda incomoda. E isso, convenhamos, é um excelente sinal.
FELIZ NATAL E UM 2026 PRÓSPERO PARA TODOS.