Crónica
Energia não se vende: cuidado com quem anda a roubar a sua Paz em Angola
Em Luanda, no Huambo ou no Lubango, todos os dias nos cruzamos com pessoas que carregam consigo uma energia própria. Algumas chegam como uma brisa fresca, outras como um calor sufocante. E essa transferência não é mística nem distante: é o nosso corpo, honesto e impiedoso, a reagir. Depois de uma reunião de trabalho, de uma conversa familiar ou de um encontro inesperado na fila do mercado, sentimos no peito ou na cabeça a marca da presença alheia.
Em Angola, onde a vida quotidiana exige resistência, entre engarrafamentos, serviços públicos lentos e um mercado que muitas vezes parece instável, aprender a proteger a própria energia não é luxo, é sobrevivência. É perceber que aquele amigo de longa data, por mais querido que seja, pode estar num processo de vida diferente e, sem querer, drená-lo emocionalmente. Não se trata de julgá-lo, mas de reconhecer que o seu bem-estar tem limites e que respeitá-los é um acto de inteligência emocional.
Quantas vezes nos forçamos a permanecer em conversas, jantares de família ou até em reuniões de condomínio, por lealdade, por medo de desagradar, ou simplesmente por costume? Quantas vezes saímos exaustos, com vontade de nos isolar, mas fingimos que está tudo bem? A realidade é que o desgaste silencioso, aquele que normalizamos ao longo dos anos, consome mais energia do que percebemos.
A paz interior não se conquista apenas com meditação ou rezas na igreja de domingo. Ela nasce das escolhas conscientes que fazemos todos os dias: quem deixamos entrar na nossa casa emocional, quais conversas aceitamos ter e com quem decidimos partilhar o nosso tempo. Amar não é esgotar-se. Ouvir não é perder-se. E em Angola, onde a vida pode ser tão intensa quanto o calor do verão, aprender a proteger-se é um acto de coragem.
Priorizar-se não é egoísmo; é maturidade. É reconhecer que a sua energia tem valor e que, por vezes, a ausência de certas pessoas é a presença de si mesmo. Quem realmente nos valoriza respeita os limites que estabelecemos; quem não respeita, provavelmente só se beneficiava da ausência deles.
No final do dia, no meio do caos urbano ou na calma relativa de uma província como a Huíla ou Benguela, a verdade é simples: a sua energia é a sua casa. E, como qualquer casa, não se deixa qualquer pessoa entrar. Cuida-se dela, organiza-se o espaço e decide quem tem o privilégio de ficar.
Porque em Angola, sobreviver emocionalmente é, muitas vezes, a forma mais radical de amor-próprio.
