Análise
Endomarketing: uma estratégia para prevenir conflitos e greves nas empresas públicas em Angola
1. Introdução: A Relevância do Endomarketing no Sector Público
O conceito de endomarketing, tradicionalmente aplicado no sector privado, tem ganhado espaço nas discussões sobre a gestão de pessoas em instituições públicas. Em Angola, onde as greves se tornaram uma realidade frequente em empresas e serviços estatais, pensar no endomarketing como uma política estratégica de gestão não é apenas uma opção, mas uma necessidade.
Como defendem Kotler e Keller (2012), “o cliente interno deve ser conquistado e fidelizado antes que a organização se volte para o cliente externo”. Neste sentido, o funcionário deixa de ser apenas executor de tarefas e passa a ser visto como um parceiro no alcance da missão institucional.
2. O Funcionário como Cliente Interno
Segundo Bekin (2004), o endomarketing é o “marketing voltado para dentro”, orientado para motivar e fidelizar o funcionário, fazendo dele um agente comprometido com os objectivos organizacionais. Quando transportamos essa visão para o sector público em Angola, percebemos que muitos trabalhadores sobretudo nas áreas da saúde, educação, transportes e energia vivem um clima de insatisfação que não resulta apenas da questão salarial, mas também de factores como a falta de reconhecimento, a ausência de condições dignas de trabalho e a exclusão dos processos de decisão.
Chiavenato (2014) reforça que “a valorização das pessoas é uma das principais ferramentas de produtividade”. Portanto, um funcionário motivado torna-se um aliado da organização; já um funcionário desmotivado transforma-se num risco para a continuidade dos serviços, criando um terreno fértil para greves.
3. O Endomarketing como Ferramenta Preventiva de Conflitos
Robbins (2013) distingue os conflitos funcionais que estimulam inovação e mudança dos disfuncionais, que paralisam a organização. No caso angolano, muitas greves no sector público têm raízes em conflitos disfuncionais resultantes da falta de canais eficazes de comunicação e da ausência de políticas de valorização do trabalhador.
O endomarketing, ao criar um ambiente de comunicação transparente, reduz significativamente o potencial de conflito. Ele permite que gestores compreendam as expectativas dos funcionários e alinhem-nas aos objectivos institucionais. Armstrong (2014) afirma que a gestão de pessoas é uma actividade central que define a performance da organização, e não apenas um sector de suporte. Logo, a ausência de uma política de endomarketing nas empresas públicas angolanas compromete a qualidade dos serviços prestados à sociedade.
4. Greves em Angola: Sintoma da Falta de Endomarketing
Nos últimos anos, Angola assistiu a diversas greves em sectores estratégicos. Médicos e enfermeiros reivindicaram melhores condições laborais e equipamentos adequados nos hospitais; professores do ensino geral protestaram por salários compatíveis e melhores condições de ensino; trabalhadores dos transportes exigiram melhores remunerações e condições de trabalho. Em todos estes casos, a ausência de diálogo estruturado e de práticas de endomarketing evidencia-se como um factor determinante para o agravamento das tensões.
Drucker (1999) já alertava que “as organizações do futuro só serão eficazes se conseguirem transformar os seus colaboradores em parceiros de missão”. Ora, a realidade angolana mostra que, sem o envolvimento dos trabalhadores nos processos de decisão, qualquer plano governamental de eficiência fica comprometido.
5. Estratégias de Endomarketing para Empresas Públicas
Aplicar endomarketing em Angola significa adoptar políticas consistentes que possam prevenir greves e conflitos. Algumas estratégias fundamentais incluem:
Comunicação Interna Transparente: criação de canais permanentes de escuta activa, como reuniões periódicas, plataformas digitais e caixas de sugestões.
Reconhecimento e Valorização: implementação de programas de incentivo e reconhecimento público do mérito dos trabalhadores.
Formação e Desenvolvimento: oferecer capacitação contínua para que os funcionários se sintam valorizados e aptos a contribuir mais.
Participação nas Decisões: inclusão dos trabalhadores em comités de gestão ou processos de planeamento estratégico, promovendo sentimento de pertença.
Equilíbrio entre Expectativas e Realidade: alinhar as metas institucionais às condições de trabalho, evitando exigir do funcionário mais do que os recursos disponíveis permitem.
6. Benefícios do Endomarketing para a Sociedade
O impacto positivo do endomarketing não se limita à organização. Quando os funcionários estão motivados e comprometidos, os serviços prestados à sociedade tornam-se mais eficientes e humanizados. No caso do sector público angolano, isso significa hospitais mais funcionais, escolas mais organizadas, transportes mais fiáveis e serviços administrativos mais eficazes.
Kotler e Keller (2012) sublinham que “o marketing é, em última análise, a gestão de relacionamentos”. Portanto, quando a relação entre direcção e funcionários é forte, o reflexo é uma relação de qualidade entre o Estado e os cidadãos.
7. Conclusão: Endomarketing como Política de Governança Organizacional
As greves em Angola, longe de serem apenas reivindicações salariais, são o espelho da falta de políticas consistentes de valorização do trabalhador. O endomarketing apresenta-se, assim, como uma solução preventiva, capaz de transformar o conflito em cooperação, a desmotivação em engajamento e a instabilidade em produtividade.
O investimento em endomarketing é menos oneroso e mais eficaz do que a gestão de crises geradas por greves prolongadas. Mais do que uma ferramenta de comunicação, ele deve ser encarado como parte da governança organizacional das empresas públicas angolanas.
Como defende Drucker (1999), “o capital humano não é um custo, é um recurso estratégico”. Logo, a paz social e a eficiência do sector público dependem, em grande medida, da forma como Angola souber investir na sua maior riqueza: os seus trabalhadores.