Opinião
De astronautas a egonautas: a humanidade desembarcou nas Redes Sociais?

Enquanto Neil Armstrong dava um “pequeno passo para o homem e um grande salto para a humanidade”, com apenas quatro fotos, hoje, uma simples corrida matinal com roupa de lycra ultracolante exige uma verdadeira produção hollywoodiana: 30 fotos, 15 stories, 60 frases motivacionais, 30 selfies, 18 vídeos e 5 lives. Realmente, superamos a NASA em termos de empenho, foco e… filtros.
Vivemos a era gloriosa do narcisismo digital, onde o suor pós-treino não é mais símbolo de esforço, mas de conteúdo premium para o Instagram. “Penso, logo posto”, já diria Descartes se tivesse um bom smartphone e um ring light. Porque hoje em dia, a existência não é validada pela consciência, mas pelos likes, shares e pela capacidade de parecer mais saudável que realmente se é.
Nietzsche, que dizia que “os grandes momentos da humanidade são silenciosos”, ficaria certamente perplexo ao ver que até o silêncio é legendado com #Gratidão e #FocoForçaEFé. É uma inversão tão profunda de valores que nos faz pensar se a gravidade ainda existe ou se foi substituída pelo algoritmo do TikTok.
A Lua? Ora, isso é ultrapassado. Hoje o que importa é o ângulo certo da foto durante a corrida para parecer espontaneamente épico. Afinal, como nos ensina Bauman, “vivemos tempos líquidos, nada é feito para durar, exceto a memória no rolo da câmara do telemóvel”.
Estamos diante de uma nova era em que o feito só existe se for registado, editado e viralizado. E se Armstrong tivesse levado um tripé, um drone, e tivesse feito uma live da Lua, talvez hoje ainda falássemos dele. Mas não… o coitado só tirou quatro fotos — imperdoável!
Moral da história? Ser humano está fora de moda. O que vale mesmo é ser influenciador.