Análise
Corredor do Lobito: a interseção dos interesses africanos, americanos e globais
O Corredor do Lobito, uma das maiores apostas de logística ferroviária no Sul global, promete redefinir o escoamento de minerais estratégicos na região, ao mesmo tempo que levanta questões sobre desenvolvimento, integração regional e partilha de benefícios.
O Corredor do Lobito, infraestrutura ferroviária de 1.300 quilómetros que liga o porto do Lobito (Angola) à República Democrática do Congo (RDC) e à Zâmbia, está a tornar-se um eixo central para o transporte de minerais críticos. O projecto poderá movimentar cerca de 1,5 milhão de toneladas anuais de cobre e cobalto provenientes da RDC.
Empresas como a Trafigura e o complexo mineiro Kamoa-Kakula iniciaram operações em 2024, com volumes previstos entre 450 mil e 120 – 240 mil e mil toneladas por ano respectivamente. A Zâmbia, ainda sem números definitivos, poderá exportar mais de 300 mil toneladas anuais de cobre, segundo estimativas da KoBold Metals.
Para Angola, o acordo de concessão com o consórcio operador poderá gerar até 2 mil milhões de dólares ao longo da sua vigência, isto é, durante 30 anos, por outro lado, o valor de retorno anual desta parceria ainda não é do domínio público.
O projecto é também visto como um impulso estruturante para a região, ao permitir a modernização da rede ferroviária, reforçar o papel de Angola como plataforma logística atlântica e facilitar exportações tanto de minerais como de produtos agrícolas. Entre os potenciais efeitos positivos contam-se ainda a diversificação económica, o aumento do investimento público e privado e a melhoria da integração económica entre Angola, RDC e Zâmbia países membros da SADC.
O envolvimento dos Estados Unidos reflecte a sua estratégia de garantir cadeias de abastecimento diversificadas e seguras para minerais essenciais à transição energética global, como cobre, cobalto e lítio para o seu mercado interno.
Apesar das expectativas, permanecem desafios. Parlamentares zambianos alertam para o risco de o corredor se focar excessivamente na exportação de matérias-primas, sem incentivar a criação de valor local. Especialistas sublinham a necessidade de coordenação entre os três países em áreas como formação profissional, mitigação ambiental e gestão transparente da aquisição de terrenos.
Num contexto de crescente procura global por minerais estratégicos, o Corredor do Lobito destaca questões sobre como os países africanos podem equilibrar oportunidades económicas, sustentabilidade e participação equitativa nos benefícios da transição energética.
