Bastidores do Poder
BD entre o risco da extinção e a ousadia da renovação
A convenção do Bloco Democrático terminou como um daqueles jogos em que o resultado final deixa mais perguntas do que respostas. Contra todas as previsões de bastidores, Américo Vaz derrotou Nelson Bonavena com 52,37% dos votos, deixando o adversário nos 47,67%. A vitória não foi apenas numérica: ela veio carregada de simbolismo, sobretudo porque Vaz triunfou nas maiores praças eleitorais, como Luanda e Benguela.
Mas, infelizmente, mal o jovem dirigente ergueu a mão do triunfo, já surgiam as sombras: um grupo próximo de Filomeno a sussurrar dúvidas sobre o processo, analistas assalariados da órbita de ACJ a tentar minar a sua trajectória, e os de sempre a perguntar-se se o BD ainda tem futuro. É a velha tradição da política nacional: quando alguém vence, o maior obstáculo não é o adversário derrotado, mas as forças invisíveis que se movem nos corredores do poder.
Convém lembrar de onde vem o Bloco Democrático. Nasceu em 2010, herdeiro da já extinta Frente para a Democracia, que tombou por não alcançar o mínimo legal de 0,5% nas eleições de 2008. Desde então, o BD tem vivido como um náufrago que insiste em nadar contra a corrente, à procura de um lugar que nunca lhe foi concedido.
Agora, mais do que nunca, o dilema é existencial. Há um grupo que defende que o BD deve avançar sozinho, custe o que custar, mesmo que isso signifique arriscar a irrelevância. Outro grupo prefere aceitar a extinção através da fusão, porque para eles o objectivo do Bloco nunca foi o poder, mas apenas empurrar o país para a alternância. Entre estes dois fogos, a juventude representada por Vaz e pelo secretário-geral eleito parece querer um caminho próprio: ousado, arriscado e cheio de convicção.
E aqui está o ponto que mais intriga. O BD, afinal, quer ser actor ou apenas figurante na alternância? Quer ser dono do seu destino ou nota de rodapé na história da oposição? A vitória de Américo Vaz é fresca, tem cheiro de esperança e energia de mudança. Mas como toda juventude, carrega também a tentação da ingenuidade.
O Bloco Democrático está, portanto, diante do espelho. Ou escolhe firmar-se como partido que conta, ou aceita dissolver-se no abraço de outros, perdendo a pouca identidade que lhe resta.
