Análise
Município da Jamba Mineira – 55 Anos depois: reclassificar para desenvolver com a força da juventude

A celebração dos 55 anos da elevação da Jamba Mineira à categoria de Município representa mais do que um marco cronológico na história administrativa de Angola. É uma oportunidade simbólica e concreta para se revisitar o percurso socioeconómico da região e, sobretudo, lançar novas sementes para o seu desenvolvimento sustentável, inclusivo e resiliente.
Neste contexto, tive o privilégio de ministrar uma palestra dirigida à juventude local, subordinada ao tema: “Oportunidade de Empreendedorismo Juvenil na Jamba Mineira: Valorização dos Recursos Naturais, Turísticos e Históricos para o Desenvolvimento Local”. Esta acção, para além de simbólica, revelou-se um momento de introspecção colectiva e visão estratégica, onde os jovens foram chamados a assumir-se como actores centrais da transformação do território que os viu nascer.
A juventude da Jamba representa uma força latente, criativa e determinada. No entanto, para que esta energia se converta em progresso social e económico, é fundamental criar um ambiente propício à inovação, à iniciativa privada e à valorização do talento local. Como defende Peter Drucker (1985), “o empreendedorismo é a prática sistemática de criar mudanças como uma oportunidade para gerar valor”. A Jamba, com o seu potencial natural, histórico e cultural, pode e deve ser palco dessa mudança.
1. Valorização dos Recursos Naturais: Da Passividade à Acção Empreendedora
O território da Jamba está inserido numa zona com significativa riqueza ecológica, geológica e agrícola. Infelizmente, grande parte destes recursos continua subexplorada, servindo mais como estatística do que como alavanca de desenvolvimento. É neste ponto que a juventude deve assumir um papel de liderança. A criação de negócios verdes, como a produção de derivados agrícolas, o ecoturismo e o artesanato sustentável, pode não apenas gerar rendimento, mas também preservar o meio ambiente e reforçar o sentimento de pertença.
Ignacy Sachs (2002), um dos teóricos do desenvolvimento sustentável, sublinha que “o futuro das regiões depende da sua capacidade de promover uma aliança virtuosa entre a economia, o ambiente e a equidade social”. Projectos como hortas orgânicas comunitárias, cooperativas de apicultura, viveiros florestais e explorações agrícolas adaptadas às condições locais são exemplos de empreendedorismo ambiental com impacto directo no bem-estar das comunidades.
2. Turismo e Juventude: A Imagem da Jamba como Produto Cultural e Comercial
Ao longo da palestra realizada, ficou evidente a percepção dos jovens sobre o valor histórico e cultural do seu município. A Jamba Mineira, pela sua relevância no contexto da luta armada e pela beleza paisagística que ostenta, tem um capital simbólico capaz de atrair visitantes, investigadores e amantes da história nacional.
Milton Santos (1996) escreveu que “o lugar é o espaço vivido, carregado de afectos e significados”. A juventude pode, por meio da criatividade digital e do empreendedorismo turístico, transformar esses significados em produtos. A criação de circuitos turísticos históricos, visitas guiadas aos antigos quartéis, reencenações culturais, hostels temáticos e roteiros eco-históricos são formas inovadoras de gerar valor com base no passado.
A realização da Expo Jamba Mineira/2025, foi recebida com entusiasmo pela juventude, que a vê como uma plataforma estratégica para atrair investidores, reforçar a identidade local e dinamizar o comércio e o turismo. A partir de acções como esta, a Jamba poderá projectar-se para fora das suas fronteiras administrativas e inserir-se no mapa do turismo nacional e internacional.
3. A História como Activo Económico: Do Património à Inovação Social
É urgente que a história da Jamba Mineira deixe de estar restrita à oralidade e à memória familiar. Ela deve ser institucionalizada, musealizada e transformada em activo económico e educativo. Os jovens podem actuar como curadores da sua própria memória, organizando exposições comunitárias, desenvolvendo aplicações interactivas, digitalizando arquivos e produzindo conteúdos audiovisuais que contem a história local sob a sua própria perspectiva.
Pierre Nora (1984) afirmava que “a memória só tem valor quando é transformada em lugar de identidade”. Assim, ao preservar e valorizar a memória colectiva, a juventude da Jamba constrói não apenas um legado, mas uma narrativa com poder de atracção económica e educativa.
4. Fortalecimento do Ecosistema Empreendedor: Uma Responsabilidade Compartilhada
Empreender não é apenas um acto individual; é uma actividade que depende do ambiente que o rodeia. O município, as instituições educativas, as igrejas, os órgãos do Estado e o sector privado precisam articular-se para criar um ecossistema empreendedor robusto, com políticas públicas locais, acesso a microcrédito, incubadoras, centros de formação e infraestruturas adequadas.
Amartya Sen (1999), prémio Nobel da Economia, defende que “desenvolvimento é liberdade”, ou seja, a liberdade de escolher, de arriscar, de inovar. É esta liberdade que deve ser garantida à juventude da Jamba. Um município que cria condições para os seus jovens empreenderem está, na verdade, a investir na sua própria soberania económica.
5. Justiça Territorial e Classificação Administrativa: Um Debate Inadiável
Durante os debates que se seguiram à palestra, emergiu de forma unânime entre os participantes a inquietação quanto à actual classificação da Jamba Mineira como município do tipo C. Embora tal classificação obedeça a critérios como densidade populacional, volume económico e oferta de serviços básicos, é inegável que a Jamba já apresenta indicadores urbanos e potencial estratégico superiores a muitos municípios enquadrados nas categorias A e B.
Ignorar esta realidade compromete o acesso do município a recursos proporcionais às suas necessidades e potencialidades. A Jamba possui uma estrutura urbanística organizada, um tecido comunitário coeso, patrimónios naturais e históricos valiosos, e uma juventude com vontade e ideias para transformar o território. Tudo isso reclama uma revisão consciente e justa da sua classificação administrativa.
Como salienta Carlos Matias Ramos (2012), “o ordenamento territorial justo é aquele que reconhece as potencialidades locais como motores de desenvolvimento e não como obstáculos estatísticos”. Classificar a Jamba como município do tipo C é, neste momento, um desfasamento técnico-político que urge ser corrigido, para que o município aceda a políticas, financiamentos e oportunidades compatíveis com a sua realidade e ambição.
6. Juventude como Pilar da Esperança: O Novo Protagonismo Social
Durante a palestra, ficou claro que muitos jovens não querem apenas emprego, querem propósito. Querem participar, influenciar, inovar e ser reconhecidos. A visão clássica de juventude como destinatária passiva das políticas públicas já não se sustenta. Hoje, os jovens são parceiros estratégicos do desenvolvimento, como reforça a teoria das capacidades humanas de Sen.
Apostar em clubes de inovação, feiras juvenis de negócios, programas de mentoria intergeracional, laboratórios de ideias comunitárias e iniciativas de educação para o empreendedorismo é preparar o município para enfrentar o futuro com esperança, criatividade e identidade.
Conclusão: Para Além da Celebração, Um Chamado à Transformação
Os 55 anos da Jamba Mineira devem ser encarados como o ponto de partida para uma agenda de desenvolvimento local baseada na juventude, na inovação e na valorização territorial. A palestra realizada foi um primeiro passo nesse percurso, mas é apenas a semente de algo maior: um novo modelo de pensar e agir sobre o desenvolvimento municipal.
A juventude da Jamba deve ser incentivada a sonhar e a realizar. Como dizia Nelson Mandela (1995), “a juventude de hoje é o alicerce do futuro de amanhã”. Se apostarmos na formação, na confiança e no protagonismo juvenil, estaremos a preparar a Jamba para ser um exemplo nacional de resiliência, de ousadia e de orgulho territorial.
Que os próximos 55 anos sejam marcados não apenas por celebrações, mas por conquistas tangíveis, sustentadas e conduzidas por uma juventude que conhece o valor da sua terra, da sua história e do seu futuro.