Reportagem
Zungueiras protestam contra medida que proíbe entrada de “restos” de frango no país
A medida informada na semana finda pelo Ministério da Indústria, que proíbe a entrada, a partir de agora, de “restos” de frango, como as conhecidas carcaças, rabinhos e peru, está a ser criticada por alguns comerciantes grossistas e informais, que encaram a decisão como algo que visa criar ainda mais dificuldades nas famílias de baixa renda.
Segundo alguns comerciantes grossistas, detentores de armazéns que comercializam produtos alimentares, na zona do Kikolo, em Luanda, ouvidos pelo Correio da Kianda na manhã desta terça-feira, 23, a deliberação do Ministério da Indústria foi tomada numa altura em que centenas de grossistas em Luanda, têm nos seus armazéns quantidades enormes de “restos” de frango, como rabinhos e carcaças, disse a este jornal, Muhamed Bakari, proprietário de um armazém no Kikolo.
“A medida foi tomada quase sem nos avisarem, agora, nós que temos nos nossos frigoríficos dezenas de toneladas deste produto, como é que vamos fazer? Vamos deitar fora? E para aquelas famílias que não têm possibilidade para comprar, por exemplo, uma caixa de frango, como vai ser?”, lamenta, questionando as razões que levaram o governo a tomar a medida do veto, sem alegadamente serem consultados.
Entretanto, por outro lado, as vendedoras ambulantes, também entrevistadas pelo Correio da Kianda, na zona do São Paulo, quase todas foram unânimes em discordar com a medida.
Florinda José, vendedora ambulante há mais de dez anos, disse a este jornal que dada a impossibilidade de conseguir comprar uma caixa de frango, por exemplo, que ronda entre os oito a nove mil kwanzas, o recurso sempre foi os “restos” de frango, que, com nove mil kwanzas, referiu, “sempre chegou para comprar o suficiente” para aguentar a casa com os seus dois filhos.
“Eu sou uma zungueira que para comer uma boa carne de vaca já tenho muitas dificuldades por nunca ter dinheiro para comprar, então, se os tais rabinhos e carcaças de frango estão mais a nos tirar com ele, assim vamos viver só mesmo de comer folhas de lombi?”, disse, a jovem, de 28 anos de idade, mãe de dois filhos, moradora do Sambizanga.
De recordar, que denúncias públicas sobre a venda de partes do frango (pontas de asas, carcaças, rabinhos e peru) levaram o Ministério da Indústria e Comércio a reunir com importadores de carnes congeladas, na passada sexta-feira, 19.
Em causa, segundo nota do Ministério, estaria “a inquietação moral que a venda de tais produtos tem estado a causar na população”.