Opinião
Você é feliz?
Depois de muitas turbulências financeiras, despejos e a viver com o filho na rua, Christopher Gardner (papel interpretado por Will Smith) questiona ao filho:
«Você é feliz? Porque eu sou.» Contundente, o menino Chris (Interpretado por Jaden Smith) de cinco anos, respondeu: «sou».
Essas palavras entre também pai e filho fora das tramas, tiradas de “ The persuit of happyness” ( À procura da felicidade) trazem à tona ideias como as de que às vezes a vida é muito rígida connosco e nem sempre conseguimos aprender sozinhos.
A palavra FELICIDADE é citada pela Bíblia em mais de duzentas mil vezes aproximadamente, fora os sinónimos que a ela são anelados muitas vezes como a paz, liberdade, amor, solidariedade, família e outros.
E a ciência, o que nos diz a respeito do que faz o ser humano feliz? Estudos científicos aprofundados sobre a formação da individualidade como os de Bock, Bratus e outros deixam claro que o ser humano não possui apenas um eu. Temos um eu experiencial o que vive a experiência, o que vive o momento, o agora. O outro eu é o chamado de eu projectista, aquele que olha para o passado e também para o futuro, o que conjuga o verbo planejar tendo em conta metas. Como vemos, os dois “eu” por terem aspirações diferentes, as sensações de felicidade tornam-se também diferentes. O que faz com que o eu projectista seja feliz é o olhar fora do agora. Perspectivar uma história, com metas e conquistas e nessa caminhada acrescer valor. A sociedade em que vivemos é «muito boa» em garantir felicidade para este eu (projectista) porque desde que nascemos colocam na nossa cabeça várias metas e objectivos, como entrar na escola primária, depois a universidade, mais tarde o estágio, a seguir um emprego, logo mais ter um esposo ou esposa, gerar filhos, ganhar dinheiro, ser rico e por aí fora.
O eu experiencial, como assinalamos anteriormente, é aquele que tem em vista o momento, a situação, enquanto acontece. E a sociedade, repito, é «muito boa» em dizer para não vivermos o momento em detrimento do futuro. Não é à toa que os estudos que acompanham as pessoas referem-se à felicidade como sendo uma curva em U montanhoso; quando estamos aos 18 anos, nos sentimos no cimo da montanha e à medida que formos crescendo mais, vamos descendo até atingir, entre os 50 e os 60 anos, o ponto mais baixo e a curva volta a subir, o que é já mais difícil de alcançar o cimo outra vez. Isto algumas vezes gera a famosa crise da meia idade porque nos dias actuais tendemos a colocar todos os nossos intentos e trunfos de realização no futuro. Dito de outro modo, alimentamos demais o eu projectista. Mas quando conseguimos a universidade, o emprego, a família, os carros e não temos muitas coisas mais a conquistar, somos felizes? Não. Porque olhamos para o que fizemos e o futuro continua a querer mais de nós e infelizmente as energias não são as mesmas, o que gera, em ênfase, a chamada da crise da meia idade. Se não somos felizes in totu, por que a curva sobe novamente? Porque as pessoas quando chegam aos 50 anos vivem o momento e sem muitas expectativas do que será o futuro.
De acordo com o que vimos, o equilíbrio é fundamental para que sejamos de facto, no facto e com factos felizes. É sim importante ter metas, objectivos, ter uma história, traçar realizações do eu projectivo, mas é preciso usar energias para viver o momento, o agora, o presente do eu experiencial. O mais curioso é que é cientificamente provado que a única coisa que deixa feliz tanto o eu projectivo quanto o eu experiencial é a qualidade das nossas relações. Com elas nós perspectivamos um futuro, criamos um passado e vivemos cada momento, valorizamos cada instante. As nossas relações são o céu e o inferno da nossa vida, o preto e o branco, a noite e o dia, com ou sem o kuduro – só para descontrair. Invariavelmente as pessoas que têm relações de qualidade (significativas), tendem a ser as mais felizes. Quem sabe não fosse neste sentido que o pequeno Chris deu sim à felicidade, por saber que naquele momento estar com o pai lhe dava alentos de paz, alívio e segurança? Por outro lado, ele sabia que o pai tudo fazia para conseguir, mais tarde, melhoria financeira, como acabou por acontecer.
Felicidade é traçar objectivos, cumprir desafios, sonhar. Felicidade é aproveitar o momento para que quando se chegue à meta se tenha em acréscimo a felicidade de termos vivido intensamente o início e o fim da nossa vida. Um apelo ao equilíbrio entre os dois eu, sem sobreposição, se reveste no pano de fundo ideal para que sejamos felizes.
A felicidade é estudar para prosperar, casar para amar e ser amado; é tomar um chá em momento de frio, estar com amigos em momentos descontraídos, é esperar por um bom momento e valorizar o momento em que se está é urinar quando se está com a bexiga “lotada” de urina, é comer quando se está com fome, é viver quando o coração bombeia e depois disso, a pergunta circular de volta: você é feliz? A sua felicidade está no fim das metas ou nos momentos que vive agora?
Por Juélcio Santos
Elizabeth Moita
07/07/2021 em 11:23 am
A felicidade é complexa,deveria ser a forma como viajamos e não a estação onde chegamos. ???
Juélcio dos Santos João
09/07/2021 em 9:15 pm
Isso mesmo, Elizabeth Moita.
Obrigado por “nos ler”.