Opinião
Vasco da Gama: o “feiticeiro” revoltado com o próprio feitiço
Para o arranque não poderíamos encontrar uma outra chamada que não fosse este título, pois, pelo que sabemos, esta assunção faz bem e ajuda muitos a atingirem o “orgasmo” da satisfação sabática!
Pois é, para que à vossa satisfação seja eternizada, que não morram mais, que não haja mais enfermos entre vós, eis que, pela primeira vez um indígena, nativo dos Buengas, Província do Uíge assume, com estas pobres inscrições, que é, como dizeis, “feiticeiro”.
Isto está dito, ponto final e não se fala mais sobre o assunto…
Pois é, parece que só assim entendereis que, na verdade, há atitudes jocosas e depreciativas que já não se justificam, se olharmos para o estágio de desenvolvimento, mudanças temporais em que Angola e o Mundo se encontram.
Não se justifica porque os que fomentam o “nosso feitiço” (nosso enquanto bakongo), não são de um único nível, do ponto de vista de instrução, não o são, de igual forma, na perspectiva etária.
Aliás, basta ver quem partilha, nas redes sociais, essencialmente, os memes, textos jocosos, insinuações e mais alguma coisa sobre o “feitiço” dos bakongo. São, lamentavelmente, os tais Doutores da “mbuandja”, os funcionários públicos, entre médicos, professores, polícias, quadros das finanças, petróleos, minas, militares e outros, o que torna o assunto grave.
Mais grave, a nosso ver, é a quase aceitação – expressa ou tácita – da população, quer seja a “uigense”, como a de outras zonas do País. Mais grave, em nosso entender, é o facto de os bakongo estarem a conformar-se, lenta e despercebidamente, com o tratamento de “bruxos”, hoje quase que consensual em Angola, mesmo apercebendo-se que se está diante de um “bullying”. (bullying corresponde à prática de actos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, cometidos por um ou mais agressores contra uma determinada vítima [que somos nós os bakongo].
Noutros termos, significa todo o tipo de tortura física ou verbal que atormenta um grande número de vítimas. O termo em inglês “bullying” é derivado da palavra “bully” (tirano, brutal).
Mais grave, para nós, é o facto de no sentido ideológico não estarmos a reflectir sobre o perigo de uma crença irrealista, mesmo que tal reflexão seja futurística.
Mais grave, do nosso ponto de vista, é o facto de não percebermos que, se hoje se brica com o salário de Janeiro que no Uíge foi pago nos primeiros cinco dias do mesmo mês, com o salário de
Fevereiro que foi pago ainda em Janeiro, com o facto de Cr7 ter visitado Uíge e ao voltar aos treinos começou a voar, com o facto de que o Petro de Luanda terá perdido com o Santa Rita porque os atletas do Santa Rita voavam durante o jogo, amanhã estaremos num estágio em que o que parece, hoje, brincadeira ganhou contornos alarmantes e insustentáveis.
É preciso que, o quanto antes façamos, a todos, alguma coisa para travar essa tendência jocosa e depreciativa, pois, é nosso fundamento que, amanhã, isso pode evoluir e provocar ocorrências inopinadas e desastrosas.
Ou estamos a espera que o País todo perceba, entenda e aceita que os bakongo são bruxos e, com isso, sejam os culpados de qualquer mal, justificando e legitimando linchamento do primeiro que for encontrado na esquina?
Ou estamos a espera que a brincadeira de hoje seja a verdade de amanhã, como fez o macaco, que terminou a brincadeira copulando à sua própria mãe?
É preciso percebermos que a consciência pública constrói-se, forma-se com à opinião pública e publicada, como é o caso, com o modo de viver, conjunto das nossas atitudes, procedimentos e hábitos, como é o caso, pelo que, desde logo, é tempo de agirmos, em conjunto, a fim de se pôr fim a essa prática.
Pôr fim, no sentido de que não podemos produzir, aceitar, partilhar memes ou quaisquer textos do género.
Que os bakongo, como é o nosso caso, os não bakongo não vejam isso como uma brincadeira. É preciso reagir com repulsa toda e qualquer iniciativa, todo e qualquer comentário do género.
Que os bakongo defendam-se contra esses “ataques” baixos, mostrando de A a B o quão isso não passa de uma brincadeira de mau gosto e que não pode vincar.
Que os bakongo sejam capazes de conversar, dialogar com todos, mostrando que não são apenas eles que morrem.
Que em toda a Angola há mortes e todos os dias. Portanto, não pode ser apreciada a tese de que só se morre no Uíge e, por isso, são os mais bruxos.
Que os bakongo, e não só, utilizem os mesmos mecanismos dos detractores, redes sociais, basicamente, para esclarecer, mobilizar, ensinar, educar, esclarecer que o que fazem é tão grave que não pode pender!
Enfim, é tempo de acabarmos com este “bullying”, acabar com tais brincadeiras de mau gosto. É preciso pensar no dia de amanhã e na forma como formamos à opinião pública e publicada!