Educação Financeira
Vamos falar de dinheiro de Pais para Filhos
A Educação Financeira ainda é um tema pouco trabalhado nas escolas angolanas e dentro de casa, mas é muito pertinente repensar esse costume a fim de melhorar a relação das crianças com o dinheiro. No artigo da semana passada abordou-se o tema do dinheiro nos casais. Hoje, percorremos o objectivo de ajudar na educação financeira nas crianças através do seio familiar.
A Educação Financeira nas Crianças é um assunto sempre actual, mais quando vivemos um contexto de crise económica e social, e ainda por que no futuro, as crianças tornar-se-ão adultos conscientes, capazes de controlar os seus gastos e gerir bem sua vida financeira.
Muitos pais acreditam que esse assunto é complexo demais para ser tratado com as crianças e adolescentes e acabam perdendo a hipótese de criar hábitos de compra e escolhas saudáveis — o que contribui para evitar o consumismo e até o endividamento no futuro.
Para este artigo, fiz inquérito oral, na rua, a 100 pessoas adultas e 32 crianças acompanhadas com os seus pais, no último mês, nomeadamente, entre 10 de Junho e 10 de Julho de 2021, em três (3) municípios de Luanda: Luanda, Cazenga e Viana. Primeiramente, 93% dos adultos entrevistados nunca aprenderam administrar o próprio dinheiro, nem em casa e nem na escola. A pesquisa também verificou que 70% das crianças que passaram a ter acesso à educação financeira começaram a ajudar os pais nas compras. Além disso, 43% das crianças que não têm acesso à educação financeira reagem mal quando os pais negam a elas algum pedido. Nesse sentido, essa pesquisa reforça o quanto a educação financeira é importante.
Quando esses assuntos não são tratados em casa, a criança não compreende de onde vem aquele “papel especial” que faz com que os pais possam pagar as contas, comprar comida e presenteá-la. Assim, sem a devida explicação, os pequenos podem acreditar que é fácil conseguir dinheiro, bastando ao telemóvel ou tablet e tudo se resolver… É óbvio que os pais não devem falar de temas mais complexos e complicados como dívidas, funcionamento de cartão de crédito ou financiamento, mas é pertinente pensar em formas de transformar esse conhecimento em um momento lúdico, com jogos e brincadeiras.
Como é apanágio desta coluna de Educação Financeira, damos exemplos e conselhos. Neste caso é para os pais, como lidar com o tema dinheiro com as suas crianças, sejam filhos, sobrinhos, netos, etc.
Desde cedo, a partir dos 3 anos de idade, já é possível ensinar algumas lições de educação financeira para os filhos. Na sequência, confira algumas dicas:
1- Dê o exemplo pelos seus comportamentos de como fazer a gestão dos rendimentos e dos gastos. Além do que conversa com as crianças, aplique efectivamente na prática.
2- Incentive o uso de Mealheiro: uma maneira de inserir as crianças no mundo da educação financeira é por meio do mealheiro. Essa técnica pode ser utilizada a partir dos 3 anos de idade e é bastante relevante, pois ajuda a criança a ter noção da necessidade de juntar valores para conseguir comprar algo mais caro.
3- Ensine o valor das coisas e quando os pais podem comprar algo: ensine e exemplifique com as suas crianças quando junto a uma montra de uma loja ou mesmo no seu interior, que nem sempre os pais podem comprar aquele brinquedo que as crianças sempre desejam. Explique o ciclo do salário e do final do mês para as crianças perceberem este ciclo que quem trabalha por conta de outrem tem.
4- Estabeleça mesadas de acordo com as idades: dar mesada também é uma forma interessante de ensinar sobre periodicidade de ganho e merecimento. Combine com seu filho uma lista de metas que devem ser cumpridas e qual o valor recebido por ela. Dessa maneira, ele se esforçará para conquistar a quantia total.
A educação financeira, obviamente, livra a criança de um analfabetismo financeiro, que é o primeiro ponto de destaque. Ademais, é dar clareza do que o dinheiro pode proporcionar para ela, mostrar um caminho.
Crescer com a mente limitada, sem o artifício de saber as vantagens que o dinheiro pode gerar, deixa a questão com uma pitada de aflição. Dessa forma, as opções da criança, no futuro, ficam limitadas, ocasionando em possíveis problemas.
Portanto, é importante que os pais se eduquem financeiramente. Por causa dessa falha rotineira, muitas famílias têm tido o tema como um tabu. Quando os responsáveis não passam esse conhecimento para os filhos, eles não se instruem. Ou se instruem fora de casa, o que pode vir a ser um problema, também.
Professor Daniel Sapateiro
Economista e Docente Universitário