Cultura
“Valorizamos aquilo que é nosso”
Natural de Luanda, o jovem Carlos Cabenda, de nome artístico Karlos Opcional, 32 anos, tem escolhido seguir um caminho diferente da maioria dos músicos da sua geração, apostando em inserir ritmos africanos e línguas nacionais nas suas composições.
De olho num mercado internacional crescente, Karlos Opcional, diz que está nos seus planos “inserir mais as línguas nacionais nos trabalhos, também a forma de vestir, os vídeos, vão ser complementos para reforçar essa ideia de Angola e África”, defende.
Em entrevista exclusiva ao Correio da Kianda, o músico falou sobre a sua trajectória e o mercado da música em Angola, ao qual avalia com um “gostaria que mais artistas tivessem o poder de exprimir as suas músicas sem passar por muitos filtros”.
Leia a entrevista abaixo
O que o motivou a ser músico?
Sempre gostei de fazer coisas criativas e por crescer num meio no qual fui muito exposto a criadores de música no estilo rap, artes plásticas, percebi que essas influências ajudaram-me a me tornar naquilo que sou hoje.
Quais as suas principais referências nacionais e internacionais?
As minhas principais referências nacionais são Paulo Flores, Artur Nunes, Jovens do Prenda, Yuri da Cunha, na verdade tudo que é música nacional clássica, dos anos 70, 80 e 90. Referências internacionais, temos o Burna Boy, Wizkid, Drake, Davido, Rema, TayC e muitos outros fazedores do estilo Afro Beat.
No percurso musical qual tem sido a sua maior dificuldade?
Acredito que a maior dificuldade é conseguir recursos para expor todos os meus trabalhos, desde videoclipes, marketing, estilo, por serem coisas que acarretam alguns custos. Então, é difícil manter a mesma qualidade a longo prazo.
Gostaria que mudasse algo no cenário musical angolano?
Claro que sim, gostaria que mais artistas tivessem o poder de exprimir as suas músicas sem passar por muitos filtros, gostaria que a nossa qualidade aumentasse, principalmente para aqueles que não estão associados a grandes labels.
O mundo consome cada vez mais músicas africanas, sobretudo, cantadas em línguas nacionais, mas poucos são os cantores angolanos que trilham esse caminho. Como exemplo, o Bonga. Por que acha que isso ocorre?
Acho que isto ocorre devido ao medo de falhar e porque alguns meteram na cabeça que música para tocar tem que ser emergente ou super comercial e sem conteúdo. Quando na verdade existe um leque de fãs que abraçam coisas novas e coisas boas. Eu costumo fazer uma comparação de como em certos lugares existem ruas com vários restaurantes, mas cada um serve pratos e bebidas diferentes, o que não anula o serviço de ninguém e só aumenta a competitividade. Agora, se formos a fazer sempre a mesma coisa, não tem como. Valorizamos aquilo que é nosso, pois os artistas e os agentes não se permitem pensar fora da caixa.
Tem escolhido trabalhar com ritmos africanos. É uma forma de resgate de ancestralidade?
É sim uma forma de resgate, está nos planos fazer mais a inclusão de línguas nacionais também, a forma de vestir, os vídeos, vão ser complementos para reforçar essa ideia de Angola e África, mas tudo ao seu tempo.