Sociedade
Vagas nas escolas do ensino médio chegam a custar 100 mil kwanzas
Em Luanda, os funcionários e professores de instituições públicas do ensino médio comercializaram vagas num valor que chega a 100 mil kwanzas. SIC detém dois funcionários e IGAE promete fazer diligências.
A poucos dias da abertura do ano lectivo 2020, pais e encarregados de educação estão desesperados por conseguir uma vaga numa instituição de ensino pública. Diante da escassez, são obrigados, muitas vezes, a recorrer a «esquemas» da famosa «gasosa» a que professores e funcionários não docentes são apontados como os principais fomentadores do esquema. Os valores cobrados rondam os 50.000 e 100 mil kwanzas.
Os encarregados de educação ouvidos pelo Novo Jornal contam que tiveram que desembolsar esses valores para que seus filhos não corressem o risco de perder o ano lectivo.
António Joaquim conta que ele e mais três familiares pagaram cada 85 mil kwanzas a um funcionário do Instituto Médio Industrial de Luanda (IMIL) para três vagas da 10.ª classe.
“Tive que pagar. Ele corria o risco de ficar mais um ano sem estudar”, desabafa.
Segundo o encarregado, o funcionário do instituto explicou que a direcção disponibilizou vagas para alguns professores que, por sua vez, as comercializam. Ainda no IMIL, Adriana Gonçalves diz ter pagado 100 mil Kz para matricular o filho.
O «esquema» atinge também outras instituições, como a Escola n.º 8039 do Complexo Escolar Ana Paula, no bairro da Sapu. Nesta, uma vaga para a 9.ª classe, por exemplo, custa 50 mil kwanzas.
Já no Instituto Médio de Economia de Luanda (IMEL), há denúncias de que há vagas a serem vendidas a 100 mil kwanzas.
À Angop a ministra da Educação, Ana Paula Tuavanje Elias, reconhece que nesta altura do ano são recorrentes os casos de práticas ilegais nas instituições de ensino, e apela à sociedade a denunciar para que os infractores sejam responsabilizados.
Em declarações ao NJ, o porta-voz da Inspecção-Geral da Administração do Estado (IGAE), Daniel João, admite que a instituição tem recebido várias denúncias do género. Só na semana passada, por exemplo, conta que, depois de várias queixas, os inspectores fizeram actuações nos estabelecimentos de ensino médio nas centralidades do Kilamba e do Zango, cuja acção resultou em detenções, pelo Serviço de Investigação Criminal (SIC), de funcionários que se dedicavam à venda de vagas.
Entre as instituições onde a IGAE actuou constam as Escolas Técnicas de Saúde de Luanda e da centralidade do Kilamba, bem como a Escola n.º 5.050, no Zango.
No presente ano lectivo estão disponíveis mais de 96 mil vagas para o ensino geral em Luanda.
No país, existem actualmente 18.297 escolas e 97.459 salas de aulas em funcionamento. Dados indicam que ainda são necessárias 6.371 escolas. Estima-se que haja mais de um milhão de alunos fora do sistema de ensino. Necessita-se também de 40 mil novos professores para se juntarem aos 181.624 mil já existentes.
NJ