Politica
UNITA e os seus desafios prementes rumo às eleições de 2027 (Parte 1)
A UNITA, partido criado por Jonas Malheiro Savimbi, em 1966, com mais outros conjurados do projecto político designado por “Muangai”, uma região situada na actual província do Moxico Leste, constitui a principal força política para render o MPLA no poder, em caso de alternância, desde 1992, ano em que Angola viria a realizar as suas primeiras eleições multipartidárias, desde 11 de Novembro de 1975, altura em que o país conquistou a sua independência do jugo colonial português.
Ainda jovem, o histórico e carismático, Jonas Savimbi, participou na fundação “co-fundador” da FNLA, de Álvaro Holden Roberto. Por intermédio do histórico Tomb Mboya e Jomo Kanyata, Jonas Malheiro Sabimbi assumiria as funções de Secretário-Geral do partido dos irmãos em 1961, a partir de Kinshasa, capital da então da República de Zaire. Em 1962, na formação do Governo Revolucionário de Angola no Exílio (GRAE), Jonas Savimbi, é nomeado Ministro dos Negócios Estrangeiros, tendo em vista as suas habilidade diplomáticas. Entretanto, por alegado tribalismo da parte dos conservadores de alguns partidários dos irmãos, causa desacordo com a perspectiva de Jonas Savimbi.
O líder da UNITA dedicou-se ao seu partido em busca de um Estado democrático e de direito, e viria a tombar no dia 22 de Fevereiro de 2002, na localidade de Lucusse, antiga província do Moxico “una”.
Após a morte de Jonas Savimbi, o futuro da UNITA era incerto, e poucos acreditavam que a organização poderia se reerguer. Jonas Savimbi se confundia com a organização. A questão que não se calava era: quem iria substituir o “Mais Velho” para restaurar a mística de um partido agora sem o exército, com a falta de recursos económicos e financeiros, sobretudo, com uma organização que se apresentava como uma “manta de retalho”, visto que, antes do passamento físico do “Muata da Paz” epíteto que Jonas Savimbi ganhou em 1975, quando foi efusivamente recebido em Luanda.
Três correntes se evidenciaram na abordagem da questão da sucessão do Presidente do Partido e Alto Comandante das Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA).
1ª – A UNITA, dos dirigentes e militantes vindos do maquis, que se consideravam os herdeiros legítimos, por terem sido fiéis ao mais velho Jonas, até aos últimos minutos da vida;
2ª – A UNITA Renovada, de alguns dirigentes e militantes nas cidades, dirigida pelo histórico e antigo Secretário-Geral do “Galo Negro” Eugénio Ngolo Manuvakola, daqueles que pensavam que a UNITA de Savimbi já não se adequava aos novos ventos por persistir na guerra;
3ª – A UNITA, dos dirigentes e quadros da Missão Externa, representados por Isaías Samakuva, Adalberto Costa Júnior entre outros diplomatas;
Este quadro viria a colocar o impasse para a unidade e a coesão interna no galinheiro, porém, convenhamos reconhecer que Jonas Savimbi, não só fundou e formou o partido, como também instruiu homens académicos e politicamente competentes, que poderiam dar volta a crise para o partido se reencontrar.
Fontes fidedignas alegam que, antes da realização do IX Congresso, os comité dos sábios “mais velhos” da UNITA teriam reunido para sondar quem reunia os requisitos para guiar a máquina partidária naquele momento difícil da sua história, chamada por “curva mais apertada”, para além da reconhecida capacidade política e gestão do antigo Secretário-Geral e General na reforma, Lukamba Paulo Gato, que soube gerir o partido naquele momento tenebroso até a realização do conclave, o partido tinha outros quadros valiosos, mesmo assim, entenderam que dirigir a UNITA seria necessário alguém com virtudes para assumir as redes da organização.
O núcleo duro do partido fundado por Jonas Savimbi, teria movimentado uma equipa à França, onde se encontrava o Embaixador Isaías Samakuva, para convencê-lo a vir à Angola, para candidatar-se a liderança do partido, por reunir as condições de dirigir a segunda maior força política em Angola. A fonte revela que “Lissumbissa”, como é conhecido nas lides militares, teria negado, mas, o comité dos sábios teria enviado uma outra comitiva para persuadir Samakuva a abraçar o desafio.
A Gestão Samakuva
Em 2003, a UNITA realiza o seu IX Congresso onde viriam também a concorrer: o Coordenador da Comissão de Gestão, Gen. Lukamba Paulo Gato, e Engº Dinho Chingunji.
Neste conclave, o voto de confiança recai sobre Isaías Samakuva, que dirigiu o partido durante 16 anos, parcelados em mandatos de quatro anos, renováveis em sede de Congressos com múltiplas candidaturas.
A radiografia dos mandatos de “Lissumbissa”, em alguns aspectos apresenta-se com saldo negativo e noutros positivo, mas, o saldo final caberá aos militantes e a sociedade.
Fontes internas e conhecedoras da matéria, afirmam que, Isaías Samakuva confrontou-se com inúmeros desafios na busca da unidade e coesão interna, para congregar em torno da liderança saída do IX Congresso realizado em 2003, os renovadores, que não queriam ver nem ouvir do Pensamento Político de Jonas Savimbi.
Outro desafio de Samakuva, foi de convencer alguns dirigentes vindos das matas que achavam que com a morte em combate do Dr. Savimbi, que representava 50% do Partido, com a perca das Forças Armadas de Libertação de Angola FALA, que representavam 25% do partido e a perca do território, que o Partido dispunha que representava outros 25 %, a UNITA tinha acabado. Essa corrente, por exemplo, defendia que o caminho a seguir seria esquecer a UNITA e a sua história, e partir para o desafio de fundar um outro instrumento político.
Consta, que, Samakuva, apresentou a sua visão segundo a qual, a “UNITA tinha tudo para sobreviver e situar-se a altura de disputar o poder político por via das eleições em pé de igualdade com o regime do MPLA. Desde que fossem observados alguns pressupostos, tais como:
1- Dentro do quadro dos acordos de paz ou do memorando complementar do processo de Lusaka, a UNITA é parceira do governo. Buscando mecanismos que visam o aprofundamento do diálogo para o cumprimento cabal dos pendentes dos acordos, a preservação da paz e reconciliar nacional.
2- Fora dos acordos, a UNITA é um movimento de oposição ao MPLA. Exigir que se realizem eleições periódicas, isolar o MPLA do povo através das denúncias dos actos de corrupção, a má governação e o esbanjamento dos recursos de todos nós.
c) Buscar fundamentos a lei para detonar o regime de Eduardo dos Santos que muitos acham ser bastante poderoso o que no fundo não corresponde a verdade por causa dos vícios endémicos que minam a sua governação.
d) Transformar o Partido numa máquina eleitoral permanente.
e) Não ceder as provocações diante do acentuado clima de intolerância política que chegou de ceifar vidas em todo país.
Alguns dirigentes e militantes da UNITA afirmam que, a observância destes princípios contribuíram significativamente no sucesso da liderança do Presidente Samakuva, o que fez com que durante os 16 anos da sua liderança as pessoas perdessem o medo de confrontar o regime. Os que olhavam para a UNITA como a inimiga do povo, passaram a fazer dela a guardiã da cidadania e do bem estar social, o que veio lhe valer o título de garante da estabilidade política em Angola por vários institutos nacionais e internacionais.
Ao longo da gestão de Samakuva, houve turbulências internas, mas alega-se a existência da capacidade de diálogo na busca incessante de consensos, o que tornou o partido unido e coeso.
A liderança de Samakuva viria a criar uma crispação ao denotar o alegado desalinhamento de alguns quadros seniores da UNITA e antigos companheiros de Jonas Savimbi, como é o caso do Dr. Valentim, e os 16 deputados que acabaram expulsos do partido, o Abel Chivukuvuku que depois abandonou as fileiras da UNITA, por ter abraçado outras ambições, o que, alguns entenderam que teriam alegadamente agendas diferentes daquilo que era o padrão político e ideológico da UNITA.
Convém ressaltar, que as fases vividas acima, foram comparticipas pelo actual líder da UNITA, Adalberto Costa Junior, quer seja, na gestão do Presidente fundador Jonas Savimbi, ACJ, como é conhecido hoje, já era um dos pupilos de “man Mbimbi”, à semelhança de Jardo Muekalia, Marcos Samondo, José Pedro Kachiungo, Jeremias Chitunda, Isaías Samakuva, Alcides Sakala, Marcial Ndachala, Alicerces Mango entre outras figuras.
Como se tem dito por alguns eruditos da UNITA, “que o partido do “Galo Negro” nasceu no meio das dificuldades e cresceu no meio de muitos obstáculos, por isso, saberá sair-se bem no seio das turbulências”, mas, vale lembrar uma das afirmações da UNITA, segundo a qual “ohanli kaikaka” o sofrimento não pode ser hábito ou cultura”.
A Gestão ACJ
Adalberto Costa Júnior, eleito como Presidente da UNITA, renovou a esperança e projectou perspectivas de muitos militantes e sobretudo de cidadãos apartidários. Internamente, ACJ, prometeu pôr fim aos atrasos dos salários “subsídios dos quadros, inovar os Secretariados ou infra-estruturas da organização”, quer seja nacionais, provinciais e municipais.
A entrada de Adalberto Costa Júnior, na liderança de UNITA, pode ter criado crispação ontem e hoje, mas, amanhã será uma moeda valiosa para o “Galo Negro” se comparado com outras forças políticas nacionalistas, que não quebraram o principio nacionalista e socio-antropológico. Embora, alguns defendam que ACJ ainda pode fazer o melhor, encarnar não só, a ideologia partidaria mas também cultura partidária.
Alguns especilaistas alegam que , o pomo da questão dos reais problemas ou seja, a base da crise que se vive hoje no seio do Partido, é político e ideológica.
Um dos fundamentos que esteve na base da luta da UNITA depois da independência, é a corrupção que assolou o país, a perda dos nossos valores africanos, a mal gestão da coisa pública…
Acontece porém, que desde que ACJ chegou no pódio da organização, justamente numa altura em que o actual Governo, encabeçado pelo General João Gonçalves Lourenço, fez da luta contra a corrupção, o branqueamento de capitais e a inversão dos bens desviados a favor do Estado, em linhas de força da sua estratégia de governação, o Presidente da UNITA tem manifestado supostamente a intenção de se aliar aos protagonistas destes males ao ponto de se constituir no centro de gravidade do boicote desta luta que o actual regime está a levar a cabo.
O dilema da FPU
A FPU, é um outro saldo negativo de Adalberto Costa Júnior, segundo alguns quadros da UNITA, por se traduzir num ataque a identidade política da UNITA. Segundo os conhecedores da ideologia da UNITA, a Frente Unida só deve ser observada quando o partido estiver em posição de fraqueza. Antes das eleições de 2022, o partido estava forte e não havia necessidade de se alinhar na alegada aventura da FPU, que é maioritariamente constituída “por indivíduos que sempre traíram a UNITA”.
Mas, se de um lado alguns militantes da UNITA alegam que a FPU foi um fracasso, por outro, convém reconhecer que os resultados das eleições de 2022, foram estrondosos, e favoráveis a UNITA-FPU. Vale acentuar que, o que prejudica a imagem de Adalberto Costa Júnior, no caso FPU, é por ter preterido muitos quadros internos, favorecendo os externos, vulgarmente chamados por “mukuakuiza”, na lista de deputados, esse elemento, agravasse com a falta de compromisso destes supostos paraquedistas, como dizem os militantes do “Galo Negro”, não encarnarem a Causa de “Muangai”.
O lider da UNITA foi bastante visionário, mas alguns especialistas e conservadores alegam que, a escolha de parceiros na construção da Frente Patriótica Unida, não foi na base dos ideais, pelo que o partido fundado por Jonas Savimbi. Por isso, está perto de pagar mais uma factura cara, com os sinais do divórcio com o antigo dirigente da UNITA, ex-líder da Coligação Eleitoral CASA-CE, Abel Epalanga Chivukuvuku, com o agigantar do seu partido PRA-JA Servir Angola, que exige a transformação da FPU em coligação de “jure e de facto”, algo que se apresenta como um Sapo que dificilmente a UNITA poderá engolir.
A UNITA e o seu Presidente poderia ter logrado êxitos consolidados, se na altura tivessem criado um ambiente de unidade interna, sem as suspensões e expulsões de alguns militantes e quadros seniores, mas ainda vão a tempo de corrigir o tiro da largada para o “Galo Negro” ir às eleições de 2027, de forma unida e coesa internamente, visto que a UNITA terá muitas frentes para além do seu predilecto adversário político, que é o MPLA.
Por exemplo, Abel Chivukuvuku é um quadro e político que se enquadra em todas as esferas sociais, e durante os últimos tempos, penetrou as bases da UNITA, com a sua bandeira do PRA-JA, reaproximou-se dos antigos companheiros do galinheiro, certamente, havendo uma ruptura, “man Chivas” não sairá da FPU-UNITA sem convencer e levar alguns militantes e quadros, agastados com a gestão de ACJ.
À margem do elemento acima frisado, o mercado político angolano mostra-se desafiante e exigente, com o surgimento de novos entes, que procuram romper com algumas práticas, dos antigos protagonistas “nacionalistas”, podemos citar o caso do Partido Liberal, de Luís de Castro, o partido CIDADANIA, que tem à testa o antigo militante do MPLA e ex-Governador do BNA, Júlio Bessa, o projecto político ESPERANÇA, do antigo Secretário-Geral da JURA, braço juvenil da UNITA e ex-deputado à Assembleia Nacional pelo “Galo Negro” Mfuca Muzemba, são elementos cruciais que a UNITA não pode desprezar.
Adalberto Costa Júnior precisará “ria” congregar todos militantes e quadros desavindos com a actual direcção e juntar a sua popularidade externa (sociedade civil) seria cereja no topo do bolo.
Para encerrar este primeiro capítulo sobre a UNITA, no âmbito da radiografia a vida interna e das lideranças dos partidos políticos, convidamos o caro leitor para a proxima edição, que vai radiografar o perfil dos possíveis candidatos à presidência do “Galo Negro”, tendo em vista o XIV Congresso aprazado para finais do ano 2025, segundo os estatutos da organização liderada por ACJ.
Este espaço volta dentro de 7 dias, até lá, fiquei connosco e nós consigo.
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