Angola que dá certo
UNFPA apoia governo em acções de assistência às pessoas com deficiência
O Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA) em Angola prestou apoio ao Ministério da Saúde, através da Direcção Nacional de Saúde Pública, na formação de prestadores de cuidados de saúde e organizações parceiras, sobre inclusão de pessoas com deficiência em todos os níveis de atendimento do sistema de saúde.
A formação, que teve um foco especial na área da saúde sexual e reprodutiva e os direitos reprodutivos, decorreu de 25 a 27 de Julho corrente, através da qual especialistas do ministério da Saúde, do UNFPA e de organizações da sociedade civil fizeram acções de sensibilização aos prestadores de serviços de saúde sobre as dificuldades e necessidades específicas deste grupo de pessoas no acesso a cuidados médicos.
Aumentar o conhecimento dos participantes sobre as relações entre deficiência, saúde sexual e reprodutiva e violência baseada no género e o seu impacto no acesso a serviços de saúde; identificar valores e posturas pessoais no atendimento a este grupo vulnerável, para uma verdadeira atitude inclusiva; e compreender as estruturas de apoio necessárias e a importância dos mecanismos de encaminhamento para facilitar a inclusão da deficiência, foram alguns dos objectivos deste fórum de capacitação.
Durante a formação, pessoas com deficiência partilharam também com os participantes experiências pessoais e colectivas que põem em evidência as barreiras no acesso, não só ao sistema de saúde, mas também a oportunidades e serviços em geral, em Angola.
A directora-executiva da Liga de Apoio à Integração dos Deficientes (LARDEF), Idalina Bota, por sinal pessoa com deficiência física, entende que “é fundamental partilhar estas experiências que expõem a grande carência de meios no nosso país em relação a esta problemática”.
Para reverter o quadro, a participante na iniciativa apoiada pelo UNFPA, defende que “a inclusão tem que começar na família e na consciencialização das próprias pessoas com deficiência, sobre os seus direitos”, trabalho a que a LARDEF se dedica, “sobretudo junto de mulheres, jovens e crianças”.
A visibilidade que a formação deu a esta questão, “está a ser fundamental para perceber como a sociedade, e nós mesmos, no nosso dia-a-dia, excluímos as pessoas com deficiência”, assumiu Augusto Mariano, da Direcção Nacional de Saúde Pública (DNSP).
“Esta formação está a tirar estas pessoas da invisibilidade em que vivem, está a abrir-nos a mente, e penso que isto será importante para transmitirmos esta mesma mensagem nos meios profissionais e pessoais em que nos movemos”, comentou.
“Todos os dias, como enfermeira, vejo como o sistema nacional de saúde estigmatiza pessoas com deficiência física”, relatou, por seu lado, Judith António, coordenadora de projecto da organização AFRIYAN e participantes na formação.
“Sou testemunha das dificuldades das pessoas que se movem em cadeiras de rodas para aceder aos espaços de atendimento: da inexistência de profissionais de saúde que saibam usar a linguagem gestual; não temos cartões de grávidas em Braille, para mulheres invisuais, vejo como é difícil para elas acompanharem a própria gravidez”, exemplificou Judith António.
Este “ganhar de consciência” por parte dos profissionais de saúde “é vital”, comentou um dos formadores, Hélder Massima, oriundo de Moçambique e pertencente à Organização sem fins lucrativos, Associação Italiana Amigos de Raoul Follereau (AIFO Moçambique) que actua nas áreas de deficiência e saúde.
Segundo o responsável, “estas formações ajudam as pessoas a despertar para práticas e atitudes inconscientes que têm como profissionais de saúde em relação às pessoas com deficiência”. “O objectivo principal desta formação foi, precisamente, fomentar nos técnicos de saúde que um serviço inclusivo é, mais que nada, um direito dessas pessoas”.
Participaram nesta iniciativa apoiada pelo UNFPA, técnicos de Saúde nomeados pela Direcção Nacional de Saúde Pública, Ministério da Juventude e Desportos (MINJUD), Ministério da Educação (MED) e as Organizações da Sociedade Civil (LARDEF, CAJ, AFRIYAN e CICA).
No dia 27 de Julho, último dia da formação, foram abordados os mecanismos de encaminhamento de pessoas com deficiência nos serviços de saúde. O Representante Residente do UNFPA em Angola, Mady Biaye, e o Coordenador Nacional do Programa da Malária, Franco Martins, em representação da Directora Nacional de Saúde Pública, Helga Freitas.