Opinião
Um agente e um cadeirante num acto digno de ovações
Antes de quaisquer argumentos queira, por favor, aceitar a nossa súmula sobre as defesas que fazemos (atenção que o plural que usamos aqui é de mera cortesia) onde devemos evitar, ao máximo, as unanimidades e, por conseguinte, revitalizarmos o debate.
Porém, essa defesa esteve sempre longe da ideia da banalização das unanimidades e das discussões. Dito de outro modo, estas defesas não são para cimentar, cultivar a ideia de que em tudo devemos discutir ou concordar, pois, para nós, antes é preciso avaliar, ponderar e só depois é que avançamos. Este é o dever ser!
Os casos que vamos analisar (vide fotos) são daqueles que, independentemente do credo religioso, cor partidária, da pele, tribo e origem étnica não nos podem dividir. Não nos podem levar a debate, no seu basilar sentido.
Entendemos que não porque os factos são tão evidentes que qualquer um que tenha conhecido Cristo Jesus, mesmo sem catequese, de facto, qualquer um que tenha lido escritos sobre solidariedade, ética, moral e conteúdos conexos juntar-se-á ao coro para debitar argumentos no sentido dos nossos.
Mas, qual é o valor de um gesto destes para os intervenientes factuais?
Em primeiro lugar está o cidadão portador de deficiência que, como sabemos, a sua situação natural é de vulnerabilidade, fragilidade, desvantagem se comparado com pessoas sem deficiência.
Neste sentido, a necessidade de ver supridas, sempre que necessário, às fragilidades resultantes do seu estado é maior – outra vez se comparado com um cidadão que não seja portador de deficiência.
Aliás, o entendimento que se tem, hodiernamente, sobre inclusão vai neste sentido. É isto que se depreende da noção constante do conceitos.com “toda a atitude, política ou tendência que pretende integrar as pessoas dentro da sociedade através de seus talentos e que, por sua vez, sejam correspondidas com os benefícios que a sociedade possa oferecer. Este tipo de integração deve ser realizado do ponto de vista económico, educativo, político, etc.” (04.09.2020)
Este discurso deve ter valor se materializado nestes termos. Se retirado do figurino frasico. É preciso que estes cidadãos se sintam, de facto, dentro das acções palpáveis no trabalho, na escola, rua, festa, em casa e todos os outros lugares onde, por natureza humana, possa estar.
Portanto, permitir, criar condições, permanente ou circunstancialmente (é o último caso) para que aquele jovem cadeirante fizesse travessia, na passadeira e em condições de segurança é, no mínimo, um dever do Estado, atendendo a sua ramificação e que, no caso, foi bem representado pelo Agente da Polícia de Trânsito.
Em segundo lugar está a senhora automobilista (vide foto) uma mulher que, como é natural, frágil, no que a condução diz respeito.
Frágil, se comparada com um homem, do ponto de vista físico, embora admitamos algumas excepções, pelo que qualquer um que tenha lido sobre ética, moral, etiqueta ou tenha lido alguma bíblia percebe que a sensibilidade diante de uma mulher é de praticidade ininterrupta.
Esta fragilidade resultante da natureza morfológica feminina tornou o gesto do agente num acto de considerável solenidade. Ou seja, as senhoras, no volante ou na estrada, estão em condição de vulnerabilidade se, igualmente e como dissemos acima, comparadas com os homens.
No caso, um veículo que deixa de trabalhar em plena via pública deixa, exactamente, o seu proprietário em desconforto. É o que ocorreu com a senhora. Assim, nada mais se pode dar a esta pessoa do que, definitivamente, um auxílio neste sentido.
É, felizmente, o que ocorreu e certamente terá agradecido a presença do Agente de Trânsito que, pelo que nos consta, apurou que o radiador terá aquecido, daí a necessidade de mais água, como se depreende da imagem.
Em terceiro lugar a análise deve, necessariamente, incidir sobre o “Homem Polícia” enquanto protagonista da cena.
É público, aqui e acolá, que o agente de polícia deve ser um modelo de vida na sociedade. É uma referência para a juventude, fundamentalmente!
Esta condição intrínseca à qualidade do sujeito inspira, e deve fazê-lo, qualquer agente de polícia a ser o mentor de actos do género. Aliás, embora tais regras estejam no âmbito do que não se “obriga” são, muitas vezes, vistas Angola por dentro.
É neste estágio onde devemos defender as unanimidades, o consenso, pois, não há espaço, mesmo que queiramos, para dicotomias.
Precisamos é cultivar a ideia, tese de reconhecimento de acções assinaláveis e dizer de viva voz que tal é digno de respeito, ovações e mérito. É o que fazemos e, para mais, defendemos e alargamos a base para que, na verdade, o bem seja tido como tal sempre que necessário.
Aos dois agentes aqui ficam palavras de conforto, incentivo e que a sociedade, no geral, olhe para os dois gestos e retire o “suco” possível, porquanto, a construção de uma “Angola nova para mulheres e homens novos na visão de Manuel Imbamba que cita Baptista Mondim” só será possível se todos passarmos a olhar-nos iguais e merecedores de alento, carinho, ajuda e firmeza nos actos.