Análise
Troca de “mimos” entre EUA e Brasil marca mais um capítulo na Diplomacia das Redes Sociais
Numa nova demonstração do impacto da Diplomacia das Redes Sociais nas relações geopolíticas actuais, esta segunda-feira, 07, segundo dia da Cimeira do BRICS, no Rio de Janeiro, Brasil, o presidente dos EUA, após via Truth Social, ameaçar taxar em dez por cento os países que se alinhassem ao bloco, através do mesmo local, classificou as acções da Justiça brasileira contra o ex-presidente daquele país sul-americano, Jair Bolsonaro, como “uma coisa terrível”. A resposta não tardou, Lula da Silva foi categórico: “cada país é dono do seu nariz”.
As reacções não demoraram a surgir com vozes pró e contra o que foi considerado como “uma tentativa de interferência indevida em assuntos internos de outro país”, tudo acompanhado em tempo real e reportado pelos diversos canais e portais de notícia pelo mundo.
Se por um lado, a Diplomacia das Redes Sociais imprime agilidade às comunicações, também pode gerar maiores incidentes diplomáticos do que com a utilização dos meios habituais, como cartas, comunicados, telefonemas.
Por exemplo, quando Trump usou a sua rede para anunciar a taxação aos países ligados ao BRICS, argumentou pelos mesmos estarem a adoptar o que chamou de “políticas anti-americanas”, sem, no entanto, especificar quais.
Entretanto, Lula da Silva ontem mesmo avançou algumas delas que são a desdolarização do comércio internacional e a construção de um mundo multipolarizado, numa tendência de quebra da hegemonia dos EUA.
Enquanto os textos curtos sobem nos X e Truth Social, os mercados reagem. Ontem, no Brasil, o dólar teve um aumento de um por cento após o “bate boca” digital e por meio de colectivas de imprensa.
Não apenas a alta do dólar frente ao real brasileiro. A nova ameaça tarifária de Trump sobre os países alinhados ao BRICS, impulsionou igualmente uma depreciação das divisas dos países integrantes do bloco, como o rand sul-africano, a rupia indiana, o peso mexicano e a rupia indonésia.
Tal feito, conforme já aqui relatado, demonstra que a diplomacia enfrenta uma crise de legitimidade e eficácia, com o esvaziamento do poder da palavra, “marcada por unilateralismo e retórica inflamada e a substituição do diálogo estruturado por gestos performativos”.
São relações geopolíticas reais decididas no mundo virtual. Textos produzidos no calor da emoção, relações entre países geridas colocando por cima decisões de momento e pessoais.
Trump tem mais três anos e meio na Casa Branca, e imprime à política práticas que bem desenvolveu no mundo dos negócios, cabe aos demais líderes manterem essa postura reactiva ou retomarem as negociações ao tabuleiro geopolítico habitual.
A crise da diplomacia e a nova Era da Geopolítica das Redes Sociais