Especial RDC
Tentativa de Tshisekedi de negociar rendição de M23 por USD um milhão fracassada
O Presidente da República Democrática do Congo, Felix Tshisekedi, tentou negociar a rendição do grupo de rebeldes M23 por um milhão de dólares, mas fracassou, noticia site de informação.
De Outubro de 2020 até o final de 2021, o governo Tshisekedi recebeu uma delegação de altos membros do grupo rebelde M23 em Kinshasa. Com a tarefa de negociar os termos de sua rendição, o ex-vice-primeiro-ministro, Gilbert Kankonde Malamba, solicitou um fundo de USD 1,3 milhão para cumprir a sua missão, noticiou recentemente o site Africa Intelligence, especializado em assuntos africanos.
Desde a intensificação, em Abril, dos confrontos entre as Forças Armadas da República Democrática do Congo (FARDC) e o M23, o governo da RDC fechou as portas para qualquer negociação com o grupo rebelde, que várias vezes qualificou de organização “terrorista”. A administração Félix Tshisekedi está agora a assumir uma linha dura em direcção ao M23, que já controla parte do Kivu do Norte e avança perigosamente perto de Goma, mas de Outubro de 2020 até o final de 2021, uma delegação de altos membros do M23 esteve presente em Kinshasa para negociações.
A sua presença, que foi reconhecida por fontes dentro do grupo rebelde e por funcionários ruandeses, nunca foi confirmada ou comentada pelo governo congolês, mas é corroborada a preto e branco numa carta enviada a Tshisekedi a 2 de Fevereiro de 2021 por Gilbert Kankonde Malamba, o então vice-primeiro-ministro responsável pelos assuntos internos e de segurança.
Rendição planeada de 6.000 combatentes do M23
O documento, citado pela Africa Intelligence, refere que esta delegação que está “presente em Kinshasa desde Outubro de 2020” e era, naltura composta de três indivíduos, nomeadamente, o conselheiro político e porta-voz do movimento, Lawrence Kanyuka, o seu oficial de segurança e inteligência, Bosco Mberabagabo, também conhecido como Castro, e uma terceira pessoa, cuja identidade não foi confirmada.
Na sua carta, Kankonde afirma ter estabelecido com eles “um roteiro cujo resultado acordado é a rendição total de cerca de 6.000 combatentes do M23”. Para concretizar essa rendição, o ex-vice-primeiro-ministro, pediu a Tshisekedi uma prorrogação de nove meses e um orçamento de USD 1,3 milhão, com toda probabilidade para cobrir os custos logísticos da desmobilização e repatriar os combatentes.
Roteiro para a ala dissidente de Runiga
Os três homens deixaram a capital congolesa no final de 2021, quando foram relatados os primeiros confrontos entre as FARDC e o M23 na região de Rutshuru. Os rebeldes afirmam que as negociações fracassaram, apesar de a delegação não ter estabelecido nenhuma condição para sua rendição. Contactado pela Africa Intelligence, Gilbert Kankonde não respondeu às questões.
Assim que assumiu o poder em 2019, Tshisekedi procurou resolver a questão do M23 e em Julho daquele ano despachou uma delegação a Kigali para se encontrar com representantes de uma ala dissidente do movimento liderado pelo autoproclamado “bispo” Jean-Marie Runiga, que está retido em Kibungo, na vizinha República do Ruanda desde que foi deposto como chefe do movimento principal em 2013. As conversas entre as duas partes resultaram em um roteiro assinado em 28 de outubro de 2019 que estipulava uma anistia para os combatentes do M23, sua repatriação para o RDC e sua integração nas FARDC.
Desde então, tendo esgotado praticamente todos os canais de negociação, o governo da RDC e o movimento M23 recorreram novamente ao uso da força – sob o risco de ameaçar ainda mais o frágil equilíbrio na região dos Grandes Lagos.