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Suspensão da assistência militar dos EUA à Ucrânia pode alterar equilíbrio de poder na região, diz analista
Para o analista em Relações Internacionais Adalberto Malú, a suspensão da assistência militar dos Estados Unidos à Ucrânia insere-se num contexto de profundas transformações estratégicas que podem alterar significativamente o equilíbrio de poder na região.
“Num primeiro momento, esta decisão parece enquadrar-se num reposicionamento da política de Washington, enfatizando a necessidade de que os seus parceiros se comprometam mais activamente com a resolução do conflito”, defendeu.
O presidente norte-americano, Donald Trump, deu ordem para a suspensão do envio de novos carregamentos de armas das reservas norte-americanas. A decisão, anunciada esta segunda-feira, 04, acontece apenas dias depois do encontro tenso com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, na Casa Branca.
O especialista entende que esta postura visa, em parte, reduzir a dependência ucraniana da ajuda norte-americana e, simultaneamente, pressionar para uma maior partilha das responsabilidades de defesa entre os aliados ocidentais.
“Se, por um lado, a suspensão do apoio americano poderá enfraquecer a capacidade imediata de resistência ucraniana, por outro, a criação de uma força conjunta europeia pode funcionar como um contrapeso, reforçando a credibilidade e a autonomia do bloco europeu num contexto de desafios híbridos e assimétricos”, disse.
Para além das implicações imediatas para as Forças Armadas ucranianas, continuou, que poderão ver um abrandamento do reabastecimento dos seus stocks militares, o cenário geopolítico assiste a uma reconfiguração notória das dinâmicas de cooperação.
“Neste sentido, destaca-se a criação de uma força conjunta europeia, protagonizada pela França e pela Inglaterra, com o intuito de apoiar a Ucrânia”, sugeriu.
Esta iniciativa, para Adalberto Malu, demonstra uma clara resposta continental que procura complementar, ou até mesmo substituir, o vazio deixado pela retirada do apoio militar estadunidense, “assim, como a força conjunta poderá vir a assumir um papel crucial na articulação de uma resposta mais autónoma e integrada por parte da Europa, promovendo não só a assistência militar, mas também a articulação de estratégias diplomáticas e de segurança comuns”, avaliou.
Do ponto de vista das Relações Internacionais, estes desenvolvimentos apontam para uma crescente fragmentação das linhas tradicionais de aliança, em que o papel dos Estados Unidos pode vir a ser relativizado face a novas iniciativas de cooperação euro-atlântica. A longo prazo, o sucesso desta iniciativa poderá definir novos paradigmas de cooperação em matéria de segurança, reforçando a integração e a solidariedade entre os países europeus e os seus parceiros regionais.
Fonte da Casa Branca referiu que Trump está focado em chegar a um acordo de paz para terminar a guerra e que pretende ter Zelensky comprometido com esse objectivo. Acrescentou ainda que os Estados Unidos estão a “suspender e a rever” a sua ajuda para “garantir que está a contribuir para uma solução”.
Esta segunda-feira, os presidentes voltaram a trocar acusações, com Donald Trump a acusar Volodymyr Zelensky de não querer que “haja paz enquanto tiver o apoio” dos Estados Unidos.
Em resposta, Zelensky garantiu que os ucranianos querem uma “paz verdadeira” e que esta é “necessária o mais rapidamente possível”.