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“Solução para os problemas socioeconómicos dos jornalistas passa pela união da classe”, defendem profissionais

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O auditório das Irmãs Paulinas, na Avenida Deolinda Rodrigues, em Luanda, acolheu nesta quarta-feira, 18, jornalistas para abordar, em mesa redonda, a situação socioeconómica dos profissionais, e traçar saída para a situação de pobreza que muitos se encontram. A iniciativa é do Misa-Angola em parceria com o projecto Debate na Comunidade.

A jornalista Sara Fialho, presidente e fundadora da Cooperativa dos Jornalistas Angolanos, começou por criticar a falta de cultura de associativismo e de pagamento de quotas as associações socio-profissionais existentes, tendo dito mesmo que “nós os jornalistas não gostamos de pagar quotas, mas queremos sempre os benefícios”.

Referiu ainda, no seio da classe, há profissionais cépticos as iniciativas de associativismo e que gostam ver primeiro os frutos e pagar a posterior. “Os únicos que pagam regularmente as suas quotas mensais na cooperativa são os membros da direção”, desabafou.

A criação da cooperativa dos Jornalistas Angolanos tem, segundo Sara Fialho, o objetivo de promover a manutenção da vida dos jornalistas, ame assenta em quatro pilares.

O primeiro é a Protecção a Saúde dos jornalistas, através da qual se pretende firmar parcerias com clínicas privadas no sentido de garantir uma melhor assistência médico-medicamentosa aos jornalistas que estejam acometidos por alguma enfermidade.

A segurança e assistência social é o segundo pilar da cooperativa. A presidente explicou que neste quesito a pretensão é usar o know how do jornalista para outras oportunidades através da qual possam garantir o auto-sustento, bem como a criação de um fundo emergências para as necessidades oportunas dos jornalistas.

O terceiro pilar é o da facilitação de processos para os jornalistas, tendo apontado como exemplo, a necessidade de aquisição de residências para os profissionais que não têm casas próprias, em condomínios. “Se nós formos em grupo a um condomínio para comprar 20 casas, por exemplo, certamente que o preço será menor em relação a uma pessoa sozinha ir lá bater a porta”, disse.

A jornalista mentora da Cooperativa dos jornalistas angolanos apontou a auto-sustentabilidade como o quarto pilar definido para a existência da cooperativa. Através deste pretende-se a criação de empregos no sector da agricultura, para quem eventualmente tenha um terreno, promovendo parcerias com cooperativas agrícolas.

“Temos de ser nós a lutar, e lutar de forma organizada.

Unidos seremos mais fortes, para a melhorias das condições sociais de nossas vidas”, exortou.

A presidente da Cooperativa dos jornalistas, fundada a 6 de julho de 2020, e que ainda funciona em espaço arrendado, no Benfica, disse que mensalmente realizam
conferências, dirigida as empresas, e que os membros cooperados têm acesso livre. Outra vantagem apontada por Sara Fialho, para quem integra a cooperativa é a realização de actividades que promovam a troca de experiências entre Jornalistas da nova e da antiga geração.

A segunda intervenção foi da presidente do Fórum das Mulheres Jornalistas para a igualdade do Gênero,

Josefa Lamerga, que centrou a sua abordagem às ‘Condições sociais dos jornalistas’, durante a qual discursou-se sobre o posicionamento, modo de vida e na profissão, por parte das mulheres.

“As mulheres são em maior número na comunicação social, mas somos as piores remuneradas, e também as menos corrompidas, as que menos são chamadas para outros desafios profissionais fora do jornalismo, em relação aos homens”, desabafou.

A veterana jornalista apontou também o elevado custo de vida no país como o maior problema que as mulheres jornalistas enfrentam.

Abordou ainda a questão da valorização das classes profissionais no país, tendo dito que, na hora de se dar oportunidades, os jornalistas são sempre os últimos a serem atendidos, tendo recorrido ao acesso aos projectos habitacionais construídos com fundos públicos como o exemplo mais evidente sobre a falta de valorização aos jornalistas, por estes terem sido preteridos em última instância.

Para a profissional da comunicação, devem ser os próprios jornalistas a fazer valer o seu papel na sociedade. Uma das saídas, aponta, é uma greve de um minuto. “As rádios e as televisão desliguem os cabos por um minuto. Um minuto de silêncio nas rádios e nas televisão, e depois voltamos a fazer por três minutos. Se fizermos isso, passaremos a ser valorizado e respeitados, porque somos vistos como preguiçosos”, disse, agastada.

Se fizermos isso, o que os políticos vão dizer ninguém vai ouvir, o que os deputados disserem ninguém vai ouvir. O que o a camarada Primeira Secretária Geral do MPLA dizer ninguém vai ouvir, o que o ACJ disser ninguém vai ouvir, reiterou.

Josefa Lambergue disse ainda “o país só existe porque nós, os jornalistas existimos.

Para o país estar nos rankings internacionais é porque nós jornalistas falámos”, acrescentou.

No seu entender, os jornalistas não se reveem na classe e precisam todos rever-se, pois ninguém se importa com os jornalistas e por isso devem ser os próprios a faze-lo.

O facto de o domínio da Comunicação Social continuar sob a tutela do Estado é, no entender de Josefa Lambergue, razão pelo estado em que se encontram os jornalistas.
denunciou igualmente haver falta de solidariedade dentro da classe, acusando os jornalistas bem sucedido não se importarem com os mais carenciados.

Já o Secretário Geral do Sindicato de Jornalistas Angolanos, Teixeira Candidato, começou a sua intervenção fazendo um enquadramento histórico do jornalismo angolano, tendo dito que “a imprensa nunca compactuou com os níveis de corrupção no país, tendo apontado os vários casos que a imprensa privada denunciaram ao longo da história, citando o Folha 8, o Jornal Angolense, o Semanário Angolense, entre outros, como o exemplo e que podem ser consultados.

O líder sindicalista entende que o facto de a imprensa escrita ter estado, no passado, a denunciar vários casos de corrupção fez com que aos jornalistas nunca tenha sido permitida a criação de rádios, dada o poder de alcance que tem esse meio de comunicação.

“Aquele foi o melhor período da liberdade de imprensa no país, quando os jornalistas eram detentores de jornais privados”, afirmou Teixeira Cândido.

Sobre a situação socioeconómica dos jornalistas, o Secretário Geral do Sindicato, disse que o facto de nos últimos 20 anos terem entrado para a profissão, pessoas sem vocação e sem competências, através dos “bilhetinhos”, fez com que os jornalistas não pudessem ter motivação para confrontar as entidades patronais.

O Secretário Geral do SJA sustentou a sua afirmação dizendo que há mais de 20 anos que os órgãos públicos de comunicação social não realizam concursos públicos, mas há gente nova a trabalhar.

“Antes as pessoas entravam por vocação e os que entraram recentemente, foi por emprego, e por isso não valorizam a profissão”.

Entretanto, considerou de “vergonhosos” os salários que são pagos actualmente nas rádios privadas do país, citando a Rádio Morena em Benguela, 2000 na cidade do Lubango, província da Huíla, a Rádio Comercial de Cabinda, bem como a Rádio Comercial Despertar, em Luanda, que no seu entender, são salários que não dignificam a classe jornalística.

Apelou ainda para a necessidade de os jornalistas optarem por recusar a gratidão e mendicidade ao governo pelo emprego. “Quem está no Jornalismo tem de saber dignificar”, acentuou, tendo ainda apelado para o fortalecimento do associativismo e do cooperativismo como a saída dos vários problemas que a classe enfrenta.

Outro apelo de Teixeira Cândido é o da melhoria da gestão dos órgãos públicos de comunicação social no país, que segundo fez saber, apresentam vários problemas.

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