Politica
Sissoco Embaló adopta ‘jogada típica’ africana já usada por JES e Samakuva
“Não pretendo continuar, mas se for a vontade do povo [e/ou] a vontade dos militantes, hei-de concorrer [novamente[”. Frases como esta foi e é replicada por diferentes dirigentes políticos africanos, quer para permanecer à frente dos destinos do país, quer de partidos políticos. O presidente da Guiné-Bissau usou-a recentemente, segundo vários websites. Em Angola, José Eduardo dos Santos usou-a e Isaías Samakuva também.
O presidente bissau-guineense, Umaro Sissoco Embaló, disse na semana passada, que, ao fim do seu primeiro mandato presidencial, não buscaria por um segundo mandato, à semelhança de Nelson Mandela, que administrou a África do Sul, entre 1994 e 1999.
Sissoco Embaló tornou pública a sua decisão de não recandidatar-se a presidente, na passada quarta-feira, 11, à saída de uma reunião do Conselho de Ministros orientada por si. Na ocasião, o estadista avisou, todavia, que não seria “substituído nem por Nuno Nabiam, nem por Braima Camará, nem por Domingos Simões Pereira”.
O chefe de Estado bissau-guineense esclareceu que a decisão resultou do facto de ter levado em consideração os conselhos de sua esposa, Dinisia Reis Embaló.
A posição de Embaló ecoou o mundo. E surgiu elogios de diferentes pontos do Planeta, e vários estadistas do continente passaram a ser aconselhados pelos seus cidadãos a fazerem o mesmo.
Face ao anúncio de não procurar por uma recandidatura, em diversos círculos, sobretudo na África lusófona, que tinham antes reagido satisfatoriamente à crítica do primeiro-ministro de Timor Leste, Xanana Gusmão, contra Guiné Bissau, tendo em conta os sucessios golpes de Estado, rapidamente acabaram por deixar para outro plano o debate trazido por Xanana Gusmão.
Em entrevista à Lusa, Xanana Gusmão referiu ter dúvidas sobre se a Guiné-Bissau tem condições para assumir a presidência rotativa da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), prevista para 2025, tendo sublinhado que o país de Umaro Sissoco Embaló é uma “ameaça real à democracia”.
“Antes eram golpes de Estado, agora são golpes presidenciais”, dissera Xanana Gusmão.
Entretanto, como dito acima, a posição de Embaló alterou às perspectivas negativas de muitos quanto ao país, o que melhorou a forma de diferentes cidadãos do espaço lusófono olharem para Guiné-Bissau.
Porém, a euforia não durou dez dias. Afinal, Umaro Sissoco Embaló está disponível para uma recandidatura, como noticiam vários websites, entre eles o Global.
O referido órgão escreve que, no domingo, dia 15, durante uma reunião do Conselho Nacional do Movimento para Alternância Democrática (MADEM), facção liderada por Adja Camará, Sissoco Embaló sublinhou que se recandidataria se fosse o desejo de muitos.
“Se ontem disse que não iria candidatar-me a um segundo mandato, [mas] se entenderem que eu o devo fazer, estou à vossa disposição”, disse Embaló aos militantes.
Entre outras coisas, o Chefe de Estado da Guiné-Bissau sublinhou que não terá outra alternativa se os apoiantes entenderem que deve permanecer como presidente.
Velha estratégia…
A opção adoptada agora por Umaro Sissoco Embaló não é nova, e já vem sendo usada por diferentes líderes africanos, quer para permanecer à frente da gestão dos países, quer para manter-se na liderança dos partidos.
Registos à disposição na internet demonstram que o antigo Presidente José Eduardo dos Santos já tinha usado deste expediente.
Embora tenha estado à frente dos destinos do país sem que se realizasse, por razões óbvias, a segunda volta das eleições presidenciais de 1992, em que deveria enfrentar Jonas Savimbi, José Eduardo dos Santos permaneceu durante 20 anos na Presidência da República acumulando diversos poderes, sem ter sido definitivamente eleito.
“Se não fosse a profunda crise político-militar em que o país mergulhou por causa da acção nefasta de Savimbi, já há muito teria apresentado a minha resignação à Assembleia Nacional. Consciente da responsabilidade que o povo angolano me confiou através das eleições de 1992, preferi correr todos os riscos em 1993 e por decisão pessoal resolvi assumir em 1999 o controlo directo do Governo e da Defesa Nacional, depois de ter obtido do Tribunal Supremo, que faz a vez de Tribunal Constitucional, a clarificação segundo a qual o Presidente da República é o Chefe do Governo, apesar da Lei Constitucional nada dizer a respeito. Fiz isto com espírito de missão sem qualquer outra motivação, tal como em 1979, quando alguns membros do então Comité Central do MPLA – Partido do Trabalho me convenceram a assumir o cargo de presidente do partido, após a morte inesperada do Dr. António Agostinho Neto”, dissera José Eduardo dos Santos, de acordo com um relatório do Maka Angola, do jornalista Rafael Marques.
Ainda na reunião do Comité Central do MPLA, a 23 de Agosto de 2001, José Eduardo dos Santos, lê-se no referido relatório, afastou quaisquer dúvidas sobre o seu desejo em concorrer às eleições presidenciais, tendo referido o seguinte: “(…) que elas [eleições] se realizem em 2002 quer em 2003, teremos um ano e meio ou dois anos e meio para que o partido possa preparar o seu candidato para a batalha eleitoral e é claro que esse candidato desta vez não se chamará José Eduardo dos Santos (…)”.
O que se verificou é que José Eduardo dos Santos concorreu às eleições de 2012, realizadas já num formato constitucional diferente das eleições de 1992.
Assim como José Eduardo dos Santos, Isaías Samakuva, que liderou a UNITA, maior partido na oposição, por 16 anos, a dado momento justificou sua recandidatura com a vontade dos militantes.
Em 2015, por exemplo, como noticiaram vários meios digitais, entre os quais o ‘Angola 24 Horas’, Isaías Samakuva, que estava na liderança da UNITA desde 2003, voltava a recandidatar-se, tendo referido que o atraso que se verificou na apresentação de sua candidatura deveu-se ao facto de ter optado por protelar a sua recandidatura porque estava a depender da vontade dos militantes.