Sociedade
Sindicato exige reintegração de médicos expulsos por negligência e ameaça greve
O Sindicato Nacional dos Médicos de Angola (SINMEA) saiu em defesa dos profissionais recentemente expulsos pelo Ministério da Saúde, acusados de suposta negligência médica, que resultou na morte de uma criança no Hospital David Bernardino.
O sindicato invoca injustiça no processo e ameaça greve geral até que os profissionais sejam reintegrados.
Os profissionais Henriqueta Mulundo, Sandra Helena, Gisela Ramos, Edna Minguens “não tem a nota de demissão, mas foi-lhe cancelada a formação” são alguns dos profissionais de saúde envolvidos neste processo e expulsos do sector, por suposta negligência médica na morte de uma criança, em Janeiro do corrente ano.
Adriano Manuel frisou que, para que as pessoas não entendam mal o posicionamento do Sindicato, começou por esclarecer que o SINMEA está solidário com a família da vítima mortal e manifestou o sentimento de pesar, mas quando a criança chegou ao hospital em referência, havia médicos nos consultórios.
“Como é que uma criança que cai de um primeiro andar, os pais chegam, não foram rapidamente correr para o consultório médico para que o seu filho fosse avaliado? Essa foi a nossa primeira inquietação, os médicos fizeram uma triagem antes, o pai estava lá, em momento nenhum explicou que o seu filho tinha uma situação de queda de um prédio”, disse.
O sindicalista apontou que os pais não foram ter com os médicos, mas quando os médicos saíram, tiveram tempo de filmar as salas que não tinham médico.
Adriano Manuel trabalha no Hospital David Bernardino e frisou que a unidade tem uma particularidade fora do normal, pois tem um Banco de Urgência com mais de 140 camas, “quando o ideal seria, no mínimo, 10 camas ou no máximo 20, tem-se ali, praticamente, três hospitais, o central, o Banco de Urgência e o pequeno hospital para o tratamento de cólera”, disse.
No factídico dia, a equipa médica tinha observado mais de 200 doentes. “Tinha observado mais de 40 doentes graves, repito, graves, o Ministério da Saúde ficou atento à morte dessa criança e deixou de dizer que neste dia morreram mais seis crianças com condições precárias, porque quando saíram não havia condições de trabalho”, denuncia.
A exiguidade de quadros não pode ser ignorada, falou sobre um problema grave naquela unidade sanitária, que devia ser preocupação do MINSA, que é a exiguidade de quadros, pois sustenta que o Hospital Pediátrico é um hospital com menos quadros, dos hospitais terciários, e para além de ter menos quadros, também é um hospital cujo orçamento é diminuto comparado com qualquer outro hospital.
“Quando esses doentes chegaram, vinte minutos depois, uma das nossas colegas foi levar um doente para o laboratório e concomitantemente para a urgência, a outra colega foi fazer o mesmo e a outra era uma colega que teve um azar: era o seu primeiro dia de banco, nunca teve contacto com doente pediátrico e estava num processo de aprendizagem”, acrescentou.
Segundo o Sindicato, é injusto os colegas serem responsabilizadas, pois estes tinham doentes graves a morrer, tinham ido socorrer estes, mas, disse, “o Ministério da Saúde ficou preocupado com as câmaras e não quer saber do trabalho que os colegas foram fazer”.
“Claro que nós devemos dar mea-culpa ao facto de ficar quarenta minutos sem médicos. Nós devemos dar a mão à palmatória, mas esses médicos não saíram do hospital, neste dia, tivemos doze médicos a trabalhar para mais de 200 doentes, é humanamente impossível”, frisou.
Demitida a médica que está na linha de sucessão
Adriano referiu que a chefe da equipa que foi demitida não teve contacto com o doente, não viu o doente, não sabia o que se passou com o doente até a altura em que foi submetido ao inquérito, os rondas que também foram suspensos e não tiveram contacto com o doente.
“Foram demitidas três pessoas que não sabem o que aconteceu com o doente, que não viram o doente e não sabem por que foram demitidos”, de acordo com o sindicalista, porque estavam ocupadas a fazer o seu trabalho.
O Sindicato dos Médicos de Angola vai unir-se ao Sindicato dos Enfermeiros para os passos subsequentes, com previsão de nos próximos dias organizarem uma manifestação, a nível do país, bem como não descuram a possibilidade de virem a fazer uma greve geral até que os colegas retomem aos postos de trabalho.