Ligar-se a nós

Opinião

Saúde pública em Angola: avanços ou retrocessos?

Publicado

em

A saúde pública em Angola tem registado avanços notáveis, incluindo a construção de novos hospitais, a expansão da cobertura vacinal e a introdução de programas de combate a doenças endémicas, como a malária e a tuberculose. No entanto, desafios estruturais persistem, como o acesso desigual aos serviços, a falta de profissionais qualificados e a insuficiência de medicamentos. Superar estas limitações exige uma abordagem inovadora, com base em exemplos de sistemas de saúde de países como Alemanha, África do Sul e Namíbia. Este artigo explora as principais lições desses países e ajusta-as ao contexto angolano.

A construção de um modelo eficaz de saúde pública é essencial para enfrentar as emergências sanitárias que têm afectado o país, como o recente surto de cólera. A propagação desta doença, associada à falta de saneamento básico e acesso a água potável em várias regiões, evidencia a fragilidade do sistema de saúde actual. A implementação de um sistema de saúde mais robusto, com foco na prevenção, na educação sanitária e no aumento do acesso a serviços de saúde essenciais, é fundamental para controlar surtos e garantir uma resposta mais eficiente a futuras crises sanitárias. A construção de um modelo que integre não apenas a infraestrutura, mas também uma formação mais eficiente de profissionais de saúde, é imperativa. A educação sobre práticas de higiene e a prevenção de doenças devem ser priorizadas como medidas preventivas, com o intuito de evitar o agravamento da situação da saúde pública em Angola.

O Que Podemos Aprender com Outros Países?

1. Financiamento Universal da Saúde – Lição da Alemanha:

Na Alemanha, um sistema misto de financiamento assegura cobertura universal através de seguros públicos e privados.

Aplicação em Angola:
Uma das principais áreas a melhorar em Angola é o acesso à saúde. Para isso, seria essencial introduzir um sistema de seguro de saúde acessível, especialmente para grupos vulneráveis, como mulheres grávidas, crianças e idosos. Além disso, é necessário reforçar a atenção primária com médicos de família bem distribuídos em todo o território, para garantir que o atendimento básico seja uma realidade para todos os cidadãos, especialmente nas zonas mais afastadas.

2. Combate a Epidemias e Parcerias – Experiência da África do Sul:

A África do Sul tem-se destacado no combate ao HIV/AIDS, com programas que oferecem tratamento gratuito e parcerias bem-sucedidas entre os sectores público e privado.

Aplicação em Angola:
O combate a doenças endémicas, como o HIV e a malária, precisa de mais apoio. Angola poderia beneficiar de uma maior colaboração entre o governo e o sector privado, criando programas robustos para a prevenção e tratamento dessas doenças. As parcerias público-privadas (PPP) poderiam ser decisivas para expandir serviços de saúde, melhorar a infraestrutura e garantir um sistema mais eficiente e acessível.

3. Eficiência com Recursos Limitados – Exemplo da Namíbia:

A Namíbia mostra como a implementação de estratégias eficazes pode maximizar os recursos limitados, especialmente com a utilização de agentes comunitários de saúde.

Aplicação em Angola:
Considerando os recursos limitados, Angola pode tirar proveito da experiência namibiana, formando e utilizando mais agentes comunitários de saúde para oferecer cuidados básicos nas áreas rurais e mais isoladas. O uso de tecnologias, como a telemedicina, também pode ajudar a superar desafios logísticos e aumentar a acessibilidade dos serviços de saúde.

Oportunidades para Fortalecer a Saúde em Angola

1. Infraestrutura e Recursos Básicos:

Embora o país tenha avançado na construção de hospitais e centros de saúde, a infraestrutura de saúde ainda enfrenta grandes desafios, especialmente nas zonas rurais. Além disso, o saneamento básico e o fornecimento de água potável permanecem como obstáculos.

Aplicação:
A expansão da rede de distribuição de água e a melhoria das infraestruturas de saneamento básico são urgentes para evitar surtos de doenças como a cólera, que continuam a afectar muitas regiões de Angola.

2. Capacitação de Profissionais de Saúde:

A formação de profissionais de saúde deve ser uma prioridade, com um enfoque em qualificação e especialização contínua, principalmente nas regiões mais carentes do país.

Aplicação:
Além de criar mais oportunidades de formação para médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde, o governo deve implementar medidas para garantir que esses profissionais permaneçam nas áreas mais remotas, incentivando-os com melhores condições de trabalho e incentivos financeiros atractivos.

3. Educação Preventiva e Envolvimento Comunitário:

A educação em saúde, muitas vezes negligenciada, é crucial para prevenir doenças e melhorar a qualidade de vida da população.

Aplicação:
Campanhas de sensibilização em áreas como higiene, alimentação saudável e cuidados com a saúde sexual e reprodutiva devem ser ampliadas. Além disso, envolver a comunidade no processo de cuidado à saúde é fundamental para garantir que as pessoas procurem atendimento médico de forma precoce.

4. Inovação Tecnológica:

A tecnologia pode transformar o sistema de saúde angolano, especialmente com a telemedicina e o uso de plataformas digitais para a educação sanitária e o acompanhamento remoto de pacientes.

Aplicação:
Investir em sistemas de gestão de saúde digitais, telemedicina e plataformas de educação online pode ser uma maneira eficaz de melhorar o atendimento médico, especialmente nas áreas mais remotas, onde o acesso físico aos serviços de saúde é limitado.

5. Cooperação Internacional e Regional:

A colaboração com organizações internacionais e países da região pode fortalecer o sistema de saúde angolano, aproveitando as melhores práticas e o apoio técnico.

Aplicação:
Angola deve intensificar a colaboração com organismos internacionais, como a OMS, e com países vizinhos, como a África do Sul, para beneficiar de intercâmbios técnicos e recursos. O apoio da comunidade internacional será essencial para enfrentar as dificuldades estruturais do sistema de saúde.

O Papel das Instituições e da Sociedade:

O governo tem um papel central na construção de um sistema de saúde eficaz, mas o sector privado e a sociedade civil também devem ser parceiros-chave nesse processo. O envolvimento de universidades, organizações não-governamentais e líderes comunitários é essencial para garantir que as políticas de saúde pública sejam implementadas de maneira eficaz.

As universidades, em particular, devem colaborar na formação de profissionais de saúde e na realização de pesquisas que ofereçam soluções práticas para os problemas locais. Além disso, é necessário promover o debate sobre políticas públicas, para que se criem soluções inovadoras e sustentáveis.

Portanto, uma nova perspectiva para a Saúde em Angola é necessária, embora tenha havido avanços no sistema de saúde angolano, muitos desafios ainda precisam ser enfrentados para garantir um acesso universal e eficiente à saúde para todos os cidadãos. O recente surto de cólera serve como um lembrete de que as fragilidades do sistema precisam ser abordadas com urgência. Angola pode aprender com as experiências de outros países e adotar políticas inovadoras, capacitar os profissionais de saúde, investir em infraestrutura e tecnologia, e fortalecer as parcerias internacionais para melhorar a saúde pública.

A construção de um sistema de saúde resiliente e inclusivo requer o compromisso conjunto de todos os actores sociais, desde o governo até as comunidades locais, passando pelo sector privado e pela sociedade civil. Só assim será possível garantir a melhoria contínua da saúde pública e promover o bem-estar de todas as gerações futuras.




© 2017 - 2022 Todos os direitos reservados a Correio Kianda. | Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem prévia autorização.
Ficha Técnica - Estatuto Editorial RGPD